Desagradável experiência com o coronavírus

A última vez que tinha digitado um texto para o jornal foi no dia 12 de fevereiro, uma sexta-feira. Na segunda-feira, 15, veio a confirmação de que estava com coronavírus e, com a piora durante a semana, precisei ser internado no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). Lá fiquei 12 dias, quatro deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Quase fui intubado. Foram muitos momentos difíceis. A esperança de dias melhores ‘lutava’ contra o medo que sentia em razão da agressividade da Covid-19. O comprometimento dos pulmões chegou a 60%, mas felizmente consegui vencer esta etapa. Digo etapa porque, mesmo depois da alta hospitalar, no dia 3 de março, uma quarta-feira, segue o tratamento para superar as sequelas da doença: menos 15 quilos (os músculos sumiram), saturação um pouco mais baixa do que o normal, pressão oscilando e dificuldade com a alimentação, só para citar alguns exemplos.

Precisaria uma edição inteira do jornal para agradecer a todas as pessoas que torceram pela minha recuperação, além daquelas que me atenderam no hospital. Vou citar aqui algumas: os médicos Diana Ruaro, Sandra Knudsen e Guilherme Fürst Neto e as técnicas em Enfermagem Luciana Santos (filha do Vovô, ex-Guarani) e Juliana Bogorny (minha vizinha). Em nome delas, fica a minha gratidão a todos os profissionais de saúde que de alguma forma ou em algum momento me prestaram assistência. Comecei a ‘virar o jogo’ quando fui ajudado a comer, pois não tinha forças nem vontade própria. Tomei banho amparado por três profissionais, pois não conseguia ficar em pé. Me vi em situações jamais imaginadas e, hoje, agradeço também à Folha por me dar a oportunidade de chegar a estas pessoas. Saibam que eu não teria conseguido sem vocês. Jamais vou esquecer toda a dedicação e carinho.

Certa vez, um colega de profissão – isso lá no começo dos anos 2000 – me disse que, como colunista de jornal, eu deveria ‘manter certa distância do leitor’. A opinião dele era de que não deveria abordar temas pessoais, que teria de evitar maior proximidade com as fontes. No mesmo momento eu disse que não mudaria minha forma de expressão, pois não via nisso um problema. Eu gosto de gente, fico muito feliz quando recebo mensagens de leitores e sou adepto da facilidade de acesso. Ficar em uma bolha enquanto o mundo todo interage não é o meu perfil. Que bom que segui este caminho, pois não conseguiria, de forma alguma, ficar sem escrever estas linhas que estão sendo publicadas hoje. Tivesse optado por manter distância do leitor, jamais teria recebido tantas mensagens como recebi no último mês. E, tenham certeza, cada uma delas foi muito importante. Aos poucos, vou agradecer a todos pessoalmente.

Além de tudo o que passei, presenciei muita coisa no período em que estive internado. Cheguei ao HSSM uma semana antes do colapso. Mas, já naquela época, faltavam leitos clínicos e de UTI para pacientes com coronavírus. Direção e funcionários se desdobrando, abrindo leitos improvisados, outra UTI Covid, além de darem continuidade aos demais atendimentos. Gente chegando sem parar, casos cada vez mais graves e média de idade cada vez mais baixa. Profissionais de saúde esgotados, mas se mantendo firmes e sempre passando confiança para os pacientes. Doía presenciar os ‘tombos anímicos’ quando chegava a informação de um óbito. Infelizmente, muitas pessoas não conseguiram resistir à doença e, quando isso acontecia, não havia como disfarçar. E a luta pela vida no hospital continua. A situação se agravou após a minha alta. Tenho acompanhado as notícias e o momento é o mais crítico da pandemia.

Fiz todo este relato para colaborar com o alerta de que a Covid-19 é cruel. Já escrevia sobre isso antes, mas agora tenho conhecimento de causa. Tive dor no corpo, febre, diarreia, sudorese, mal-estar frequente, baixa saturação, falta de ar, ansiedade, medo e mais algumas coisas que posso estar esquecendo. Ainda me falta o fôlego quando faço algum esforço maior, no entanto sei que estou fazendo evolução. Mas, tenham certeza, é tudo muito desagradável. Não quero entrar em discussão, mas duvido uma só pessoa que teve consequências mais sérias em razão da doença fazer pouco caso dela. Quem sentiu na pele a agressividade da Covid-19 sabe do que estou falando. Façam de tudo para evitar a contaminação. Se positivarem, busquem com urgência a orientação médica. Não relaxem, pois não é uma questão de sorte ou azar. O agravamento dos quadros clínicos é rápido e, as consequências, avassaladoras.

Por fim, mas não menos importante, neste texto de retorno, quero deixar o agradecimento mais que especial à minha esposa, Cassiane Rodrigues, à minha filha Lívia, aos meus familiares, amigos e colegas de Folha do Mate e Rádio Terra FM. Cassiane, mesmo positivada, não chegou a ser internada e até hoje cuida de tudo. É fortaleza. Minha pequena, com apenas 4 anos, demonstrou compreensão nos momentos em que nos distanciamos. Os demais foram demais, angustiados com a situação, porém sempre mandando energias positivas. Muito obrigado a todos. O pior passou. Torçamos agora pelos que ainda enfrentam o ‘inimigo invisível’.



Carlos Dickow

Carlos Dickow

Jornalista, atua na redação integrada da Folha do Mate e Terra FM.

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