Os reflexos da falta de chuva já são vistos nas lavouras e em arroios espalhados pelo interior de Venâncio Aires, onde, em muitos casos, a água já parou de correr. Além dos prejuízos com a produção, a população também está sentindo as consequências da estiagem no dia a dia. Em entrevista recente à Folha do Mate, o secretário municipal de Desenvolvimento Rural, André Kaufmann, disse que as regiões de Vila Deodoro e Vila Estância Nova são as que apresentam o maior número de pedidos para entrega de água potável, tendo em vista a necessidade de consumo das famílias.
Na cidade, de acordo com o gerente da unidade local da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Ilmor Dörr, a estatal está trabalhando com dois poços artesianos, um novo e o outro reativado, com produção de 40 mil litros por hora, para tentar minimizar o volume de água retirada do arroio Castelhano, principal fonte para o abastecimento dos moradores da área urbana da Capital Nacional do Chimarrão. “O nível é crítico, ele está muito baixo”, destaca. Dörr ainda observa que a Corsan está monitorando a questão dos arrozeiros, que também puxam água do Castelhano.
O gerente ainda reforça a necessidade de as pessoas usarem a água de forma racional. “Estamos pedindo para o pessoal usar de forma consciente e não estamos sentindo que isso está acontecendo. O que percebemos é que o consumo está cada vez mais alto. Claro que em função do calor se usa mais água, mas também vemos, principalmente, situações de pessoas lavando o telhado, janelas, e calçadas. Neste momento não pode acontecer isso, temos que evitar, usar a água somente para o necessário. Vemos que a comunidade não está fazendo a parte dela”, ressalta.
QUALIDADE
O gerente da unidade local da Corsan também observa que, além da escassez, a estiagem ainda prejudica a qualidade da água retirada do arroio Castelhano. “Como não tem um fluxo constante de água, acontece a proligeração de algas, o que também dificulta as questões relacionadas ao tratamento”, relata.
Há cerca de um mês, quando moradores perceberam uma coloração diferente da água, a companhia realizou mudanças no tratamento. “Estamos fazendo a adição do carvão ativado, pois esse produto absorve as algas no processo de tratamento dentro dos filtros e decantadores e evita de dar a reação dentro da rede, que resulta na coloração da água”, explica.
Nesse sentido, Dörr reforça que a população precisa estar atenta ao fato de o nível do Castelhano estar baixando. “Não é só aqui. Mas não podemos esperar a situação se agravar, se podemos minimizá-la.”
“O consumo de água está muito alto. Geralmente trabalhamos na faixa de, no máximo, 20 horas e agora estamos rodando direto praticamente.”
ILMOR DÖRR – Gerente da unidade local da Corsan
“Choveu muito menos do que a evaporação”
Coordenador do curso de Agronomia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e professor da disciplina de Agrometeorologia na mesma instituição, Marcelino Hoppe, explica que os problemas relacionados à estiagem iniciaram entre a segunda metade de novembro e os dez primeiros dias de janeiro, quando foram registrados em torno de 55 dias de pouca chuva na região.
Segundo Hoppe, outro período problemático teve início em fevereiro e segue essas duas primeiras semanas de março, quando nos últimos 45 dias choveu pouco mais de 70 milímetros em Santa Cruz do Sul. “O problema é que nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro a evaporação é muito alta. E o que aconteceu foi que choveu muito menos do que a evaporação”, ressalta.
O professor ainda relata que o risco para os próximos meses é que todo o campo estará com pouca vegetação e pode acontecer uma antecipação do frio. “Se continuar esse período de seca, a geada pode chegar mais cedo e aí sim teríamos problemas ainda maiores do que os que estão acontecendo agora. Se vier uma geada em cima de um campo rapado fica pior ainda.” Segundo ele, se chover a tempo de ser feita a pastagem de inverno, como a plantação de azevém e aveia, as dificuldades serão minimizadas, porque essas plantas são resistentes às baixas temperaturas. “Mas a grama tradicional não resiste ao frio. Ela já sofreu com a seca e ainda vai ter problema se acontecerem geadas antecipadas”, acrescenta.
Contudo, Hoppe lembra que a pastagem depende de uma boa quantidade de chuva para se desenvolver. “Precisamos de chuvas em curto período de mais do que cem milímetros acima da evaporação para repor a água no solo. Isso não vai ser tão fácil nos próximos meses”, salienta. Conforme o coordenador do curso de Agronomia da Unisc, a grande vantagem é que a partir dos meses de abril, maio e junho a evaporação é bem menor. “Aí questão de 50 milímetros de chuva já são suficientes para superar a evaporação. No inverno a gente não precisa de tanta chuva”, acrescenta.
Para ele, os reflexos dessa estiagem podem se prolongar, principalmente no que diz respeito às fontes de água no interior, por meio ano ou mais. “Essa água precisa entrar no lençol freático, para depois aparecer nas fontes”, esclarece. Na agricultura, segundo ele, a partir do momento a água do solo for suprida e poder ser inciada a plantação das culturas de inverno, ela precisará apenas manter um balanço hídrico favorável.
MASSA DE AR QUENTE
• Segundo informações do Núcleo de Informações Hidrometeorológicas (NIH) da Universidade do Vale do Taquari (Univates) a massa de ar quente ganha reforço e este fim de semana deve ser de muito calor na região. “Essa massa de ar seco inibe a formação de nuvens, mas, domingo instabilidades avançam sobre o território gaúcho e a chuva retorna em Venâncio Aires”, prevê a equipe do NIH.
• Ainda conforme o NIH, a evaporação é um processo natural e que com o aumento do calor também cresce. “Quanto maior a temperatura, maior será a velocidade da evaporação. Pois quanto maior a temperatura, maior é a energia cinética das partículas. Desta forma, mais partículas escaparão da superfície do líquido.”
• No sábado, a previsão do tempo aponta para um dia ensolarado e de calor intenso. As temperaturas ainda se elevam e a sensação pode ser de desconforto em alguns momentos. O NIH ainda chama atenção para os altos índices de radiação solar e a baixa umidade do ar. A temperatura máxima prevista é de 40º C e a mínima é de 22º C.
• No domingo, o sol aparece, mas no decorrer da tarde instabilidades avançam sobre o território gaúcho e a nebulosidade se intensifica. Com isso, podem acontecer pancadas de chuva. Também não se descarta a ocorrência de pancadas ocasionalmente fortes e temporais isolados. As temperaturas ainda se elevam e a sensação pode ser de desconforto em alguns momentos. A mínima prevista é de 23º C e a máxima de 37º C.
• A baixa umidade do ar, característica nesta época do ano, pode trazer diversos incômodos. Tanto a pele como as mucosas internas do corpo sofrem com o tempo seco, propiciando surgimento de doenças, como as dermatites e problemas nas vias respiratórias.
• Devemos evitar a exposição ao sol, sem proteção, a prática de esportes nos horários mais quentes e beber, pelo menos, dois litros de água por dia, hidratar as narinas com soro fisiológico, pingar colírio nos olhos, espalhar toalhas molhadas e bacias de água pelo quarto são algumas medidas para combater as doenças causadas pelo ar seco.
Fonte: NIH da Univates