“Falta toda semana.” A afirmação da professora Aline Cristiane Moraes Theisen, 38 anos, resumiu quase três dias seguidos de falta de água na casa dela. Aline mora há 12 anos no bairro Cidade Alta, perto do Xangrilá, e diz que toda semana, em algum momento, as torneiras estão secas.
“Quando falta, geralmente volta na madrugada. Mas, nesta semana, foi da segunda de noite até a manhã de quinta. Eu tenho caixa, banho dá para tomar, mas e o resto? Sem trocadilho, mas isso aqui é a gota d’água”, desabafou. A professora foi uma dos moradores da parte alta de Venâncio Aires que relataram, novamente, dificuldades no abastecimento de suas residências.
O problema se agravou nos últimos dias, mas é histórico. Conforme Aline, ela é uma das primeiras e notar a falta e uma das últimas e ter o restabelecimento. “Voltou hoje [quinta] de manhã, mas até agora [16h] não ouvi subir para as caixas”, destacou. Na casa dela, há dois reservatórios de 500 litros cada, ligados aos banheiros. Na cozinha e na lavanderia, vem direto da rua.
A falta de água, aliás, já trouxe prejuízos: canos estourados por não aguentar a pressão (quando a água volta) e várias trocas na bomba da máquina de lavar. Além disso, ela afirma que quando há o retorno, o que sai das torneiras, primeiro, é ar. “E o hidrômetro girando normalmente. A gente pagando por uma água que nem usa.”
COBRANÇA
O corretor de imóveis Silvio Haussen, 53 anos, também confirmou à reportagem os problemas recorrentes. Isso que na casa dele, de segunda a ontem, a falta não foi contínua. “Tem casas que o problema é mais grave. Comparado a outros, nem sofro tanto. O problema é que quando volta, não tem pressão e vem suja”, relata.
Haussen mora há 15 anos na Cidade Alta e lembrou que já houve audiência pública e reuniões com Ministério Público, Prefeitura e até RGE, cobrando uma solução. Ele afirmou ainda que os moradores da região têm consciência de que há trabalho sendo realizado pela Corsan e o acompanhamento do Poder Público. “Estamos cientes de que estão trabalhando para resolver e que até tem prazo. O que não pode é ficar tantos dias sem água, ainda mais nos meses quentes, o que acontece há anos. Isso é uma calamidade.”

Corsan diz que abastecimento está normalizado
Mesmo sendo um problema histórico, a falta de água na parte da alta da cidade ficou ainda mais evidente nesta semana. E coincidiu com o pós trabalho da Corsan, justamente em uma obra que foi o primeiro passo para tentar resolver o problema do desabastecimento naquela região.
Entre o domingo, 8, e a madrugada de terça, 10, a Corsan retirou as válvulas redutoras de pressão instaladas próximas ao Colégio Oliveira Castilhos. A retirada desses equipamentos deve possibilitar a passagem direta da água entre os reservatórios para os canos que abastecem os moradores. Mas, entre a segunda, 9, e esta quinta, 12, ainda havia relatos de desabastecimento ou de água ‘suja’, com expurgos de materiais como o manganês, incrustados em canos antigos.
Em contato com a gerência local, a Corsan informou, ontem à tarde, que o abastecimento na cidade está normal, com quase 70% de água nos reservatórios, e que para não abastecer precisa estar abaixo de 15%. Conforme a companhia, o que teria, então, são questões pontuais e que somente indo aos locais para identificar o problema.
A Corsan disse ainda que moradores sem água precisam informar a estatal através dos canais de comunicação, como pelo App Corsan ou pelo 0800-646-6444.
3º RECALQUE
A expectativa dos moradores da Cidade Alta e outros próximos que também registram falta de água, é de que a regulagem do chamado ‘3º Recalque’, equipamento responsável pelo fornecimento e bombeamento para a parte alta, seja logo concluída. Conforme a Corsan, ainda não há definição sobre quando isso será feito, mas a próxima semana é uma possibilidade.
Prefeitura ameaça trancar novas obras, caso prazo não seja cumprido
Nesta quinta-feira, 12, o prefeito Giovane Wickert reiterou que a Prefeitura está monitorando o trabalho da Corsan para solucionar os problemas de falta de água, o que inclui não somente o bairro Cidade Alta, mas Distrito Industrial, Brands e Bela Vista.
O prefeito afirmou que o prazo estabelecido junto à companhia (31 de dezembro) será cobrado. “Se o prazo não for cumprido, já manifestei para o presidente da Corsan e gerência local que vamos interromper qualquer tipo de serviço da Corsan a partir de 1º de janeiro. Não estaremos liberando novas frentes, nem que seja de esgotamento, como protesto por não ter abastecimento a contento.”
As novas frentes referidas por Wickert dizem respeito à abertura de trechos que receberão canalização da rede coletora de esgoto. O que já está autorizado, segue normalmente.
No último dia 5, o presidente da Corsan, Roberto Barbutti, esteve em Venâncio Aires e reafirmou que a equipe está atuando para finalizar as melhorias na rede de água no prazo estabelecido.
“Sei o que é chegar em casa e não ter água ou encontrar água barrenta ou vento nas torneiras. Não vamos voltar atrás da nossa decisão. A Corsan está ciente de que se não conseguir finalizar esta obra, nenhuma outra será liberada até que os moradores estejam recebendo um atendimento digno.”
GIOVANE WICKERT – Prefeito de Venâncio Aires
POÇO
Está na Câmara de Vereadores o projeto de lei que autoriza o Município a ceder um imóvel à Corsan. A autorização é para que se tenha um poço para captação de água à região da Cidade Alta.