“Antes das 6h começou o tumulto.” Cristiane Pires Baierle resumiu assim as primeiras horas da manhã da última terça-feira, 31 de agosto, dia que marcou o início da nova administração da RSC-287, agora ‘sob o braço’ da iniciativa privada.
Cristiane é gerente de uma confeitaria que fica a cerca de 500 metros da praça de pedágio de Vila Arlindo, em Venâncio Aires, e testemunhou as longas filas que se formaram em ambos os sentidos. Durante a manhã, a espera chegou a quase 30 minutos no sentido Venâncio-Santa Cruz, com a fila começando antes o trevo da Linha Hansel. Como foi um dia de temperatura alta, muitos motoristas pararam no estabelecimento de Cristiane para comprar água ou um lanche, e comentaram sobre as mudanças. “Muita gente falou da troca de sistema, que deu problema na emissão do comprovante. E a maioria dos funcionários é nova, ainda estão aprendendo. Precisa de um tempo”, considerou.
Sobre isso, ainda, ela projetou os próximos dias, já que na terça-feira, 7, é feriado. “Sexta-feira acho que vai ter um movimento maior ainda, do pessoal saindo para o feriadão. É pouco tempo até lá para se organizar com tudo”, avaliou Cristiane.
Quando à demora nas cancelas, a Rota de Santa Maria, que administra a rodovia para o grupo espanhol Sacyr, informou, por meio da Assessoria de Imprensa, que houve transtornos devido à transição do sistema automático de cobrança (TAGs) para o sistema da nova concessionária. O processo será gradativo e pode sobrecarregar temporariamente as cabines de cobrança.
Além disso, segundo a empresa, o tempo de atendimento também é afetado pelo valor da nova tarifa (R$ 3,70 para carros), o que, em muitos casos, leva à necessidade de troco. Por isso, a empresa pede colaboração dos usuários para que ajudem com o pagamento exato e moedas são bem-vindas.
Valores
O valor do pedágio caiu quase pela metade em relação aos R$ 7 que eram cobrados anteriormente pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) e os R$ 3,70, que também são aplicados na praça de Candelária. Pelo projeto, a nova concessão prevê mais três pedágios (Tabaí, Paraíso do Sul e Santa Maria).
“O preço é bem mais em conta, mas tem que ver a execução, que tipo de estrutura terá”, comentou Milton Seibert, 22 anos, que comparou a rodovia com o trecho que liga Pelotas a Rio Grande. “Lá o pedágio chega a R$ 12, mas já está duplicado”. Seibert é gestor de negócios em Boa Vista do Incra, na região de Cruz Alta, e usa a RSC-287 algumas vezes no mês para ir a Porto Alegre.
Se, por um lado, o preço baixou para veículos de passeio, os motociclistas também passaram a pagar pedágio – R$ 1,90, como já acontece em rodovias federais. Quem está de moto também precisa passar pela mesma cancela dos demais veículos.
O aposentado Gilson da Fontoura, 61 anos, questionou o valor. “Ninguém gosta de pagar, mas espero que a duplicação se torne realidade. Só que o valor não está certo. Deveria ser a metade da outra tarifa, ou seja, R$ 1,85. São apenas cinco centavos, mas que vão ajudando na arrecadação”, avaliou Fontoura, que é de Porto Alegre e usa a moto para visitar parentes em Santa Cruz do Sul.
Outro ponto destacado por usuário é sobre a multipassagem, que dava a isenção do pagamento no caso de passagem múltipla pela mesma praça, no mesmo sentido, no prazo de 24 horas. Um motorista de caminhão, de Cruzeiro do Sul, reclamou do término do benefício.
Como vai a Rio Pardo mais de uma vez por dia buscar areia, pagava uma vez na ida e uma na volta. “Agora tenho que pagar todas as vezes que cruzar as cancelas. Para mim, o valor aumentou e muito.” Segundo informou a Assessoria de Imprensa da empresa, esse tipo de isenção não existe mais, assim como para os moradores próximos, que também terão de pagar tarifa.
Mais pistas no pedágio
Em coletiva de imprensa no fim da tarde de terça-feira, 31, o diretor-geral da Sacyr, Aquilino Martinez, revelou que o número de pistas nas praças de pedágio deve ser ampliado. “Estão no limite da sua capacidade e precisa de ter mais pistas. Vamos tentar acelerar isso nos próximos 12 meses.”
Essa ampliação, que também vai incluir troca de equipamentos e atualização do software, é considerada importante pela concessionária para dar a fluidez ideal, assim como o sistema automático de cobrança (TAGs). Este ponto, aliás, foi um dos que gerou demora nas cancelas. “Sempre acontecem situações que estão fora do controle, mas que são normais. Como TAGs com problema de leitura, porque são milhares para carregar nos nossos sistemas”, explicou Martinez.
O diretor-geral da Sacyr também salientou a adaptação dos próprios funcionários, já que metade dos que estavam vinculados à EGR optou por não seguir com a nova empresa.
Passarelas são alternativa para mais segurança
O contrato com a empresa prevê a construção de 20 passarelas para travessia de pedestres na RSC-287 ao longo dos 204,5 quilômetros de concessão. O trecho de Venâncio Aires, que tem 33,70 quilômetros de extensão, deve ser contemplado com duas estruturas, previstas para sair do papel entre o quinto e o sexto ano de concessão.
Uma delas seria no quilômetro 78,79, nas proximidades do Posto Chama, logo após o trevo de acesso à cidade, e a outra no quilômetro 67,48, em Vila Estância Nova, a poucos metros da Escola Estadual de Ensino Médio Adelina Isabela Konzen, onde estudam 300 alunos.
A instituição atende estudantes de 13 localidades, mas muitas moram no entorno, como na entrada para Estância São José, e cruzam a rodovia a pé. “Seria um ponto muito positivo para toda a comunidade e para as crianças. Todo dia é aquele apreensão, principalmente no fim da tarde, quando a posição do sol já mudou e prejudica a visão”, destacou a diretora da Adelina, Adriana Kroth.
Ainda, conforme ela, há alguns anos, a comunidade reivindicou um redutor de velocidade para o trecho, mas o pedido não foi atendido. “O fluxo é muito intenso, tem gente que não respeita a velocidade. Então, se tiver essa passarela, vai trazer muito mais segurança.”
Duplicação
A palavra mais dita pelos usuários é ‘duplicação’ e sobre ela que está a maior expectativa de enxergar a RSC-287 como uma nova rodovia pelos próximos 30 anos. A promessa da empresa é que a obra vai sair do papel a partir do ‘ano 3’ da concessão e a primeira parte (entre Tabaí e Novo Cabrais) concluída até o 9º ano. No entanto, a Rota de Santa Maria busca financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para concluir em cinco anos.
A duplicação também foi destacada pelo secretário extraordinário de Parcerias do Rio Grande do Sul, Leonardo Busatto. “Certamente esse investimento não seria possível apenas com recursos públicos ou com a EGR, que nesses nove anos mal duplicou sete quilômetros em todo estado. A duplicação vem com grandes benefícios para a população, como emprego, renda e impostos, mas também a melhoria na logística e a redução de acidentes e mortes.”
“Esse é momento é histórico para o Estado. Depois de mais de 20 anos sem nenhuma concessão de rodovias à iniciativa privada, vamos ter condições de duplicar uma rodovia tão importante. O Estado mira o futuro e é o reinício de um capítulo de prosperidade, que vai ser repetido nas próximas concessões, com o Estado gerando desenvolvimento econômico.”
LEONARDO BUSATTO – Secretário extraordinário de Parcerias do Rio Grande do Sul
Serviços
Já na terça-feira, entrou em funcionamento o 0800-1000-287, para usuários acionarem guincho, ambulância e veículo de inspeção viária. Também já houve trabalhos de melhorias na 287, como ‘tapa-buracos’ no trecho de Candelária.