Rafael: “Não fui eu que mudei a vida delas, foram elas que me mudaram” (Foto: Arquivo pessoal)
Rafael: “Não fui eu que mudei a vida delas, foram elas que me mudaram” (Foto: Arquivo pessoal)

Ser pai vai muito além dos laços de sangue, mas é fruto de escolha, cuidado e amor incondicional. É essa a frase que resume a história de Rafael Dick da Rosa, de 38 anos. O morador do bairro União, em Venâncio Aires, decidiu transformar a própria vida, mas também de Verônica e Ana Júlia. Irmãs, têm Rafael como o ‘pai do coração’, responsável por dar carinho, amor e atenção.

O vínculo entre eles teve o ponto de virada em 23 de dezembro de 2018, quando ele conseguiu a guarda provisória das meninas. Antes disso, as duas passavam praticamente todos os fins de semana na casa dele e da então companheira, irmã de Verônica e Ana Julia. Por conta de problemas enfrentados pelos pais biológicos, as meninas foram encaminhadas para a Casa de Acolhimento, após determinação da Justiça.

“Eu estava na praia, em Imbé, e recebemos notícia da situação. Retornamos e começamos os trâmites. Nesse mesmo dia, já conseguimos a guarda delas, para que não passassem Natal e Ano-Novo longe de casa. O Conselho Tutelar, o Ministério Público e a juíza agilizaram tudo. Foi um conjunto de esforços para o bem delas”, conta. Em janeiro de 2019, ele acabou se separando e, desde então, assumiu o cuidado integral das duas meninas.

Foi só na metade de 2021, conforme Rafael, que veio a guarda definitiva. “Considero elas minhas filhas. Deus colocou a mão por elas e eu fui apenas o instrumento para levá-las ao caminho do bem”, afirma.

Amor e parceria

Na época que Rafael conseguiu a guarda, a irmã mais velha, Verônica, tinha 12 anos. Hoje, com 18, a estudante do 3º ano da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Cônego Albino Juchem conquistou recentemente a carteira de habilitação. O ‘pai de coração’ se orgulha em dizer do esforço dela ao ter conseguido ‘passar de primeira’ no processo.

Já Ana Julia tinha 10 anos na época e, hoje, está com 16. “São estudiosas, responsáveis, nunca me deram problema. Somos uma família unida”, diz. O cuidado entre o pai e as filhas é recíproco e vai muito além da rotina. Rafael resume que as duas meninas se tornaram as principais apoiadoras dele, também nos momentos difíceis, como nas cirurgias de joelho que ele enfrentou devido a lesões no futebol. “Elas me aguentam, e olha que sou chato”, brinca.

Sonhos e laços

Verônica diz que a convivência com o ‘pai do coração’ é marcada por apoio constante: “Ele sempre me deu bons conselhos, carinho e amor. Me mostrou que o mundo não é um mar de flores, mas que é possível seguir o caminho certo. Até me ajudou a comprar minha moto. As vezes é meio bravo, mas é o jeito dele de cuidar”.

Com o Ensino Médio prestes a ser concluído, ela planeja fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e ingressar na faculdade de Educação Física. Mas os sonhos ainda são maiores. Depois disso, deseja ingressar na carreira militar e, futuramente, abrir uma academia, conquistar a casa própria e viajar pelo mundo.

Além da convivência diária com Rafael, as duas meninas mantêm contato com a irmã mais nova, Maiara, de 12 anos, que inclusive acompanha Ana Júlia todos os dias para o caminho da escola, já que ambas estudam na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professora Odila Rosa Scherer. As meninas também têm convivência com a família biológica, que atualmente mora nas proximidades da casa delas.

“Não fui eu que mudei a vida delas, foram elas que me mudaram. Hoje não me imagino vivendo sem elas. Tudo o que eu faço é para vê-las bem, porque o sorriso da Verônica e da Ana Júlia vale mais do que qualquer coisa”, finaliza Rafael.

Júnior Posselt

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