A conta do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) foi feita e ela passa pela soma de ações, multiplicação de recursos, divisão de responsabilidades, mas também pela subtração de gastos. Para tentar diminuir um déficit médio mensal de R$ 650 mil, a instituição precisará tomar medidas mais duras, e uma delas passa, imediatamente, pela demissão de funcionários.
Até o fim desta sexta-feira, 1º, 32 serão dispensados. A decisão foi anunciada ontem pela Comissão de Elaboração do Plano de Apoio à Gestão Administrativa, Financeira e Operacional do HSSM.
A possibilidade de desligamento de funcionários não tinha sido confirmada até então, mas já era assunto em rodas de conversa pela cidade e mesmo nos corredores da casa de saúde. Ela é uma das medidas que integram o estudo de reavaliação de custos. “É importante deixar claro que estes funcionários não demandam substituição imediata. Além disso, este é o momento para fazer isso, porque são meses de baixa ocupação hospitalar”, explicou Luciano Spies, presidente do hospital.
No gasto com folha de pagamento, a demissão desses 32 resultará em cerca de R$ 142 mil de economia por mês. Mesmo com a ‘folga’ estimada, a direção tem outro problema com isso: não há recursos para pagar as rescisões e a multa do Fundo de Garantia. Conforme Luciano Spies, esse pagamento dependerá da entrada de duas possíveis fontes: a venda de um imóvel estimado em R$ 3,2 milhões ou a aprovação de um financiamento da Caixa Econômica Federal de R$ 1,5 milhão.
Spies também não descartou a recontratação dos trabalhadores em 2020. “O futuro dirá, vamos ver nos próximos quatro meses.” Entre os demitidos, há funcionários de todos os setores, como técnicos, enfermeiros, auxiliares e, inclusive, coordenadores e gerentes. Conforme o presidente, as demissões já foram informadas ao Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Santa Cruz do Sul e Região (Sindisaúde).
MAIS CORTES
A demissão imediata de funcionários é apenas uma das medidas adotadas para diminuir gastos. Também estão previstas outras reduções de custos mensais: de 50% das gratificações de chefias pelos próximos seis meses (R$ 21 mil), horas extras (R$ 42,8 mil), 372 horas/mês de plantonista (R$ 42,3 mil), 10% de gastos com honorários médicos (R$ 30 mil) e insalubridade (sem estimativa).
Todos esses cortes têm um total estimado de R$ 278,2 mil em economia. A quantia é menos da metade do déficit mensal do hospital, que de janeiro a setembro de 2019 teve média de R$ 650 mil.
REORGANIZAÇÃO
Algumas ações também já foram ou serão colocadas em prática, mesmo sem uma estimativa real de redução de custos. Entre elas, gastos com exames, procedimentos e internações, e o aumento de convênios. Segundo o responsável pelo corpo clínico, o médico Guilherme Fürst Neto, já houve melhora no fluxo de internações. “Já diminuímos em 40% internações sem necessidade.”
SALÁRIOS
Com a virada de mês e devido aos atrasos dos últimos vencimentos, a folha de pagamento de outubro dos funcionários tende a ser novamente parcelada. O presidente do HSSM, Luciano Spies, não estipulou datas, mas confirmou que haverá atraso.
DESCOMPASSO
Segundo a auditora interna da Prefeitura, Juliana Marcuzzo, para chegar às ações estabelecidas pelo plano recuperação financeira, a comissão analisou a demonstração contábil e planilhas entre os anos 2011 e 2018, e o 1º semestre de 2019.
“O descompasso entre o crescimento da receita e da despesa ficou mais evidente entre 2014 e 2018. Mas fatores internos e externos contribuíram para tal. Quando não se tinha receita, buscou-se empréstimos. Se foi o melhor ou pior? Foi o possível”, considerou Juliana.
No período de 2014 a 2018, a receita cresceu 4,45% e a despesa 16,2% – uma média anual de crescimento de 1,12% na receita ante 4% na despesa. É isso que, segundo a comissão, resulta no déficit crescente e que a cada ano agrava mais sua liquidez, ou seja, a capacidade de pagar as obrigações. O relatório identificou obrigações em atraso de R$ 2,2 milhões.
Em empréstimos, o valor contratado chega a R$ 15,6 milhões, sendo que a amortização mais os juros dão uma parcela mensal de R$ 541 mil. Em setembro, o passivo estava em R$ 14 milhões. Só em outubro, o déficit pode chegar a R$ 900 mil, devido a variações no ingresso de receitas.
Busca de R$ 7 milhões em recursos passará por venda de imóvel
Embora o ‘corte na carne’ seja um dos maiores impactos do plano, ele projeta fôlego nas finanças até o fim de 2020. É esse o prazo estimado para que entrem, em recursos, cerca de R$ 7,73 milhões.
Se confirmado, a maior parte deste montante virá da venda de um imóvel (parte comprado e parte doado) pela Prefeitura ao HSSM em 2015. Trata-se do prédio que já sediou a Secretaria de Assistência Social, na rua Visconde do Rio Branco. O imóvel está avaliado em R$ 3,2 milhões.
Além disso, o plano prevê a busca de até R$ 2 milhões em emendas parlamentares, a renegociação de um empréstimo com a Caixa Federal (R$ 1,5 milhão), o recebimento de R$ 500 mil devidos pelo Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPE), busca de novos sócios (R$ 30 mil) e doações de empresas e pessoas físicas (R$ 500 mil).
FUNDO
O plano também prevê a instituição do Fundo Especial. Através dele, devem ingressar aportes dos poderes públicos, recursos de doações e contribuições de pessoas físicas e jurídicas. O projeto de lei desse fundo já está pronto e deve ser encaminhado hoje ao Legislativo. O que também depende de aprovação dos vereadores, é a venda do imóvel na rua Visconde do Rio Branco.
“O plano começa, mas não termina aqui. As ações ainda podem ser alteradas e ninguém é dono da verdade. Mas todo precisam andar na mesma direção.”
RAMON SCHWENGBER – Secretário de Saúde de Venâncio Aires
“Agora é preciso evidenciar esse sentimento de colaboração da comunidade. É preciso entender que não se quer procurar culpados ou criar um clima de terrorismo. Queremos achar soluções, porque o que está sendo feito é para manter a estrutura de pé.”
GIOVANE WICKERT – Prefeitura de Venâncio Aires
Começa hoje a mudança no atendimento do Pronto Atendimento 24 Horas do HSSM. A partir de agora, ele só atenderá casos de urgência e emergência e pacientes classificados como casos menos graves serão encaminhados à UPA.