Uma vida dedicada à educação, ao ativismo e à igualdade de direito às mulheres

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Ao lado da estante de livros, em um cantinho especial do apartamento onde vive há mais de nove anos, no centro da cidade, a aposentada Maria Bernadete Schabbach, 79 anos, recorda a infância em Sampaio (Vila Terezinha), os momentos alegres ao lado dos 14 irmãos e as dificuldades e os medos que foram superados após muitas trocas de conhecimento e experiências de vida. O amor pela área de educação, a luta pelos direitos sociais e de igualdade sempre falaram mais alto, valores inspirados no legado deixado pela família Pilz.

Alguns a conhecem como Berna, já outros preferem chamá-la de Maria. Filha de Bernardina (in memoriam) e Rodolfo Pilz (in memoriam), a professora aposentada é a oitava filha de uma família amorosa, religiosa e muito numerosa. Maria nasceu em Sampaio, um lugar que traz muitas marcas e saudade. “Minha mãe sempre foi muito corajosa. Ela e meu pai criaram os filhos com muito amor, em uma época difícil em que haviam poucos recursos”, comenta.

Maria recorda que, naquela época os partos ocorriam em casa, com o auxílio de uma vizinha. Em consequência disso, a mãe sempre foi muito doente e sofria algumas limitações. Uma das primeiras dificuldades enfrentadas pela família foi a perda de três irmãos, ainda jovens, em consequência de problemas de saúde.

Apesar dos momentos tristes, Maria relembra de muitas situações felizes que passou durante a infância. “No Natal, meus pais pediam para sairmos de casa para decorar um cômodo da casa com um pinheiro natural e muitos enfeites, aquele dia era mágico para todos nós. Não tínhamos luz em casa, mas meu pai acendia velas e assim que a sineta tocava lá dentro, o Papai Noel aparecia e distribuía uma lembrança para cada um de nós”, recorda.

Maria sempre frequentava as missas aos domingos, ia nas festas da comunidade e no futebol. “Quando jovens, aproveitávamos o dia da missa para ver os meninos de longe. Lembro que eu e minha duas irmãs namoramos na mesma época três meninos que moravam em Santa Clara. Meu pai era muito autoritário e sempre circulava pela sala para nos observar”, sorri. “Todas noites, quando a família se reunia para rezar, eles também ajoelhavam e nos acompanhavam sem reclamar”, recorda.

A família Pilz tinha uma casa ampla em Sampaio, com um salão de baile e uma comércio de interior. Mas, a renda principal da família estava voltada à agricultura e a criação de animais para abate. “Às vezes, ajudávamos a mãe a vender cucas nos bailes que o meu pai promovia. Ela era uma ótima doceira, mas, na época, não conhecia fogão a gás e geladeira”, salienta. Como a família era numerosa, os pais sempre ensinaram os filhos a partilhar as coisas. “Até mesmo os serviços domésticos eram divididos, cada um tinha uma atividade para fazer em casa”, comenta.

DE ALUNA MESTRA À PROFESSORA

Apesar da falta de recursos, a família sempre priorizou a educação dos filhos. Maria estudou na colônia até o 4º série, depois fez magistério no Colégio Nossa Senhora Aparecida (atual Bom Jesus), onde se formou em 1959. “Quando eu estava na 8ª série, tive aulas de latim, inglês e francês. Na época, fui convidada para dar uma aula de francês para 45 alunos. Muitos deles, hoje são personalidades importantes em Venâncio Aires”, destaca.

Além disso, Maria recorda as aulas de canto. “Nos fins de semana, as irmãs reuniam todas as séries do ginásio para cantar, orientados pelo músico Cônego Albino. Se um de nós desafinasse tinha que repetir toda a canção novamente, ele tinha um ótimo ouvido”, afirma.

Em 1964, Maria se casou com Acelmo Schabbach e teve três filhos, Letícia Maria, 53 anos, André Fernando, 51 anos e Virgínia Maria, 44 anos. Após concluir o curso superior em Estudos Sociais, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atual Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Berna foi aprovada em concurso público e assumiu as séries iniciais da Escola Estadual de Ensino Médio Monte das Tabocas, onde atuou durante 15 anos. Depois disso, mudou-se para Santa Cruz do Sul para acompanhar o marido, que trabalhava em uma empresa tabacaleira. Lá, atuou como professora na Escola Estadual de Educação Básica Estado de Goiás e, logo que retornou para Venâncio Aires, trabalhou na Escola Estadual de Ensino Médio Cônego Albino Juchem, por mais 15 anos, até conquistar a aposentadoria.

Leg: Maria Bernadete transmite os valores que recebeu dos pais, aos seus três filhos e cinco netos

Ativista, feminista e defensora das causas sociais

Maria herdou a religiosidade da família, a coragem da mãe e o espírito de liderança do pai, que foi líder comunitário da igreja Santa Tereza de Sampaio, em Vila Terezinha. A aposentada já foi catequista, promotora de encontros de jovens na igreja, líder de grupos pastorais, coordenadora do ensino religioso da escola Cônego Albino Juchem e, na década de 70 a 80, liderou um Grupo de Direitos Humanos para avaliação de casos que ocorriam no município. Em 1975, quando atuava como professora, implantou um novo método de ensino em sala de aula, propondo discussões em círculos entre os alunos.

Hoje, Maria é líder do grupo Resistência Mulher, em Venâncio Aires. Em média, uma vez ao mês, ela se reúne com um grupo de mulheres para propor debates e assuntos relacionados ao papel da mulher na sociedade, salientando a importância do empoderamento feminino. “No Dia da Mulher sempre realizamos algumas ações para mobilizar a população”, salienta.

Maria também foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), em Venâncio Aires e, em 1992 e 2017, concorreu ao cargo de vereadora pelo partido. Ela também é coordenadora local do grupo do Instituto de Humanização (IDH), uma Associação Cultural sem fins lucrativos que trabalha com o autoconhecimento, através da observação e percepção de si mesmo, sendo que, o corpo é o principal objeto de estudo.

Maria Bernadete pretende escrever um livro para contar as experiências de vida, durante cerca de oito décadas. “Para mim, tudo isso valeu a pena, se eu pudesse, faria tudo de novo”, sorri.

“Tudo o que hoje temos é uma conquista das mulheres negras e históricas, que lutaram pelos seus direitos, assim como, a Maria da Penha. Sou lutadora pelo empoderamento feminino.”

MARIA BERNADETE SCHABBACH

Professora aposentada

    

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