O Setembro Amarelo, período dedicado à prevenção ao suicídio e à preservação da vida, acende um importante alerta. Estudo mapeou os casos de suicídio registrados no Rio Grande do Sul entre 2017 e 2019, catalogados a partir de diversas variáveis. Foram analisados 4.017 casos, o que resulta em uma taxa de 11,8 suicídios a cada 100 mil habitantes por ano. Quando analisados casos por cidade, Venâncio Aires a maior taxa: 30 casos para cada 100 mil habitantes por ano.
De acordo com a doutoranda do programa de pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maria Cristina Franck, que é também perita criminal do Departamento de Perícias Laboratoriais do Estado, as regiões que apresentaram as taxas mais elevadas foram Vale do Rio Pardo e Médio Alto Uruguai, com médias de 21,6 e 19,5 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. A região Fronteira Noroeste ocupa a terceira posição, com taxa média de 17,7 casos por 100 mil habitantes.
Em 21 municípios com população acima de 50 mil habitantes, a taxa média anual superou a estadual, sendo os maiores valores obtidos em Venâncio Aires (30 casos por 100 mil habitantes), Lajeado (17,8) e Santa Cruz do Sul (17,3). Os dados estaduais indicam ainda que a maioria das pessoas que cometem suicídio são do sexo masculino (79,8%) e da raça branca (90,5%).
Depressão
A idade das vítimas variou de 7 a 101 anos, sendo de 55 a 59 a faixa etária mais frequente entre o sexo masculino e de 45 a 54 anos entre as mulheres. A taxa média anual de suicídio entre os idosos foi de 26,2 casos por 100 mil habitantes. Ainda de acordo com a pesquisa, a depressão é a causa atribuída com mais frequência (26% das ocorrências policiais) seguida por problemas de saúde e alcoolismo (10,9%), de relacionamento (7,2%), distúrbios psiquiátricos (3,5%) e dívidas (1,7%).
Sem registros
Em apenas 64 municípios (12,9%) dos 497 que compõem o estado do Rio Grande do Sul, não houve o registro de qualquer caso de suicídio no período do estudo, sendo a maior parte desses localizados na região Norte do estado, o que corresponde a 29% dos municípios dessa região.
Curiosidades
- A ausência parental – falta de registro do nome do pai na certidão de nascimento – foi observada em 6% dos casos e mostrou-se frequentemente associada às vítimas jovens (15 a 29 anos). O período da semana também se mostrou associado à idade e ao turno. Em dias úteis, a chance de suicídio dos idosos foi 1,2 vezes maior do que a dos adultos.
- Apesar de o histórico policial negativo ter sido observado na maioria dos casos (59,3%), o positivo apresentou uma chance 4,2 vezes maior entre o sexo masculino e 2,9 vezes maior na faixa etária adulta, em relação à idosa. Enquanto que a estação do ano com o maior número de registros, segundo o estudo, é no verão (26,1%).
Conclusões e próximos passos
- Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as pessoas em situação de risco emitem sinais comportamentais e verbais de alerta, como frases pessimistas, que precisam ser observados e encarados com seriedade e respeito.
- No Rio Grande do Sul, observa a pesquisadora Maria Cristina, considerando apenas o que foi registrado na ocorrência policial, mais de 400 vítimas poderiam ter sido previamente encaminhadas a algum tipo de atendimento de saúde, pois manifestaram suas intenções suicidas a alguém próximo.
- “O trabalho pericial pode auxiliar os serviços de saúde na compreensão e enfrentamento desse fenômeno com dados locais, atuais e importante correlações. A análise epidemiológica pode ser o ponto de partida para vários outros estudos. Esses dados podem subsidiar a elaboração de políticas públicas e a atuação dos órgãos de saúde e assistência social”, afirma Maria Cristina.
- O próximo passo é a publicação do estudo toxicológico abrangendo todos os casos de 2017 a 2019, com base nos laudos que analisam a presença de álcool, drogas ilícitas e medicamentos na urina e no sangue dos indivíduos.