Daer estuda concessão provisória para a rodoviária de Venâncio Aires

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A empresa Rodoviária V. Aires Ltda, que possui a concessão da estação de Venâncio Aires, irá encerrar as atividades neste domingo, 3, após 63 anos de atuação. Com essa alteração, os coletivos permanecerão fazendo os horários habituais até a estação rodoviária, mas não haverá mais guichês de atendimento. As passagens deverão ser adquiridas diretamente com os motoristas ou com seus cobradores.

Para evitar que a cidade fique sem o serviço, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) atua para autorizar, de forma temporária, outra empresa. “Já temos empresa interessada em assumir, de forma temporária, até que uma nova licitação seja realizada para a rodoviária”, informou o diretor de Transportes Rodoviários do Daer, Lauro Hagemann, durante entrevista ao programa jornalístico Terra em Meia Hora, da Terra FM, desta sexta-feira, dia 1º.

O edital que lançaria ainda neste ano a autorização de uma nova licitação para a rodoviária estava em construção, mas precisou ser suspenso por conta da crise sanitária provocada pelo coronavírus. Mas a expectativa é de que na segunda-feira, 4, os técnicos da autarquia já consigam novamente retornar ao projeto.

O prefeito Giovane Wickert, em entrevista ao mesmo programa, também informou que existem interessados em assumir o serviço de venda de passagens e de despacho de mercadorias. Wickert adiantou que documentos neste sentido já foram encaminhados ao Daer, contudo não revelou detalhes das empresas que teriam demostrado o interesse. Mas disse, ainda, que a Prefeitura é parceira para que essa medida seja logo normalizada.

O prédio, no entanto, permanecerá, num primeiro momento, com as suas atividades normais. As lojas instaladas permanecem em funcionamento, mas o proprietário do prédio, Jair Lehmen, destacou que atualmente o espaço é deficitário. Ele disse que os boxes dos ônibus, por força de contrato, permanecerão sendo utilizados. Além disso, no futuro a intenção é diminuir consideravelmente os empreendimentos que lá estão instalados.

O COMUNICADO

Em comunicado publicado em redes sociais, a concessionária agradece a todos os clientes, parceiros, colaboradores e fornecedores por essas mais de seis décadas de atuação. “Encerramos um ciclo, agradecendo a Deus a oportunidade e o privilégio de poder servir a nossa comunidade com carinho, respeito e dedicação”, diz o texto.

A administradora Patrícia Harres Schuh, que é também a atual secretária geral do Sindicato de Agências e Estações Rodoviárias do Rio Grande do Sul (SAERRGS), informou que uma das principais problemáticas foi a queda significativa no número de passageiros, mas “em paralelo é crescente o custo da empresa”, informou.

Também é informado que ficará no ar por mais 30 dias o site da empresa – rodoviariavenancioaires.com.br – para que os clientes obtenham informações de como proceder a partir do domingo com relação ao transporte intermunicipal.

HISTÓRIA

• Em uma época em que existiam poucas rodoviárias no estado, por conta da raridade de ônibus locais, o empreendedor Leopoldo Harres conseguiu, junto ao Daer, permissão de instalação em 2 de abril de 1954. Ela foi instalada na Rua Osvaldo Aranha, 747.

• Em 1964 a estação rodoviária foi transferida para a rua Jacob Becker, número 1141, esquina com a rua Júlio de Castilhos. Já em 1º de setembro de 1980 foi firmado o primeiro contrato como empresa rodoviária local, tendo como sócios da época Ruben Joaquim Harres, Maria Francisca Harres, Raul Pedro Schuh e Celso Sérgio de Böer.
Em 17 novembro de 1980 o Daer autorizou a transferência de nomenclatura de Estação Rodoviária para Rodoviária Venâncio Aires Ltda. Em 30 de março de 1981 a rodoviária foi elevada para nível 2, considerada de médio porte.

• Em 26 de novembro de 1983, a rodoviária foi transferida da rua Jacob Becker para a rua Voluntários da Pátria, 2.001, junto ao Terminal Rodoviário Alfredo Scherer, no bairro Cruzeiro. O terminal possui 2.035,65m² de área construída, nove salas comerciais, box de embarque e um conjunto de três terrenos com aproximadamente nove mil metros quadrados.

Idas e vindas diárias

Jonatan trabalha em Santa Cruz do Sul e viaja de ônibus todos os dias (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

Há três meses, o jovem Jonatan Godoi, 19 anos, vai todos os dias à cidade vizinha, Santa Cruz do Sul, de ônibus. “Eu chego aqui compro minha passagem e vou à Santa Cruz trabalhar”, explica. Ao ser questionado sobre o fechamento da rodoviária ele disse que foi pego de surpresa. “Não sabia não. Agora vou ter que me readaptar de novo. Se não bastasse as alterações com a Covid-19”, lamenta o jovem.

Proprietário de uma lancheria na rodoviária, Milton da Silva, 60 anos, disse que ficou sabendo da informação através dos meios de comunicação. “Fui pego de surpresa com esse anúncio. Não sei como vai funcionar e por quanto tempo vai durar assim”, frisa o empreendedor, que atua no local desde que a rodoviária entrou em funcionamento.

Sindicato quer que governo reveja o modelo de concessão

O presidente do Sindicato de Agências e Estações Rodoviárias do Rio Grande do Sul (SAERRGS), Nelson Noll, lamenta o encerramento das atividades da empresa, em Venâncio Aires, e destaca que é preciso rever as exigências do Estado para não inviabilizar mais empreendimentos.

Atualmente a categoria das estações rodoviárias vai de 1 a 4, de acordo com o fluxo de pessoas. O terminal de Venâncio Aires está no nível 2. Essa categorização determina, por exemplo, o número mínimo de banheiros e de boxes necessários e também as taxas de outorga.

Noll também destaca que dezenas de rodoviárias fecharam na última década no Rio Grande do Sul. “Nós tínhamos, há dez anos, 310 e hoje temos 205. É uma crescente de concessionárias que estão encerrando as atividades em função de muito ônus e poucas vantagens. A crescente nas gratuidades de passagens, as inúmeras emancipações são exemplos que afetaram essas empresas, sem contar o número cada vez maior de transportes por aplicativo”, argumenta.

O presidente do sindicato também acredita que a criação de agências rodoviárias pode ser uma alternativa viável para as muitas rodoviárias que encerram as atividades. Com poucas exigências, administradores desses espaços poderão ser donos de farmácias, lotéricas ou qualquer tipo de estabelecimento, desde que tenham um computador com o sistema de emissão de passagens.

Etapas para nova concessão

• Como as regras de concessão ainda estão em estudo, o Daer informou ainda que não há data para publicação final do edital. Documento precisa passar também pela análise da Procuradoria-Geral do Estado, do Tribunal de Contas do Estado e da Contadoria e Auditoria-Geral do Estado e da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) para sua homologação.

    

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