Dizem que a fé move montanhas. Ou, em outro caso, mexe na estrutura de pedras gigantescas e que pesam toneladas. É assim que começa uma história no interior de Vale Verde, onde imensas pedras grês compõem as encostas do Cerro do Chileno.
Foi dentro de uma delas que, há mais de 20 anos, Ari Pasinato, um homem extremamente religioso e ao mesmo tempo um pai aflito, cavou uma pequena fenda e colocou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Fez isso depois de uma promessa, para que o filho se curasse de um câncer.
O ‘milagre’ se espalhou e, com o tempo, vizinhos e mesmo moradores de outros locais, passaram a frequentar o lugar, seja para agradecer ou para pedir. Desde então, o local vem atraindo cada vez mais devotos e foi ganhando outra proporção, outro tamanho, literalmente falando. Em 2018, o pecuarista Jorge Ribeiro, hoje com 70 anos, decidiu construir uma capela sobre a gruta. O motivo? Ele também teve um pedido atendido pela santinha. “Eu tinha uma questão financeira praticamente perdida. O banco me deu 30 dias para resolver. E, em 30 dias, eu consegui. Para agradecer, decidi construir uma capela, tudo por minha conta.”
A fé de um menino
Entre tantas pessoas que creditam milagres à santinha, está a família de Cléa Janete Moser, 48 anos. Em 2016, a agricultora descobriu um nódulo no útero. O primeiro exame apontou a palavra que ninguém gosta de ler ou ouvir: maligno.
Antes da cirurgia, o filho dela, Diomar, que tinha apenas 9 anos, fez uma promessa: se a mãe se curasse, em todo 12 de outubro iria, a cavalo, levar flores para a santinha. Depois da operação, um novo exame constatou: o tumor não era maligno e, desde então, a saúde de Cléa vai muito bem. “O Diomar, desde pequeno, sempre teve muita fé”, relata a agricultora, que também é devota da santa.
Capela
A capela tem 126 metros quadrados. No fundo dela, está metade da pedra gigante onde Ari Pasinato fez a primeira fenda. A outra metade fica do lado de fora, ou seja, a parede foi construída sobre a rocha. Na parte interna, o espaço onde está a imagem santa foi talhado de forma mais uniforme e, no alto, a estrutura foi aplainada.
No pé do altar, inúmeras flores compõem o cenário, além de 20 bancos de madeira, para receber fiéis que, em todo 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, lotam a capela e o entorno dela. Assim foi no último feriado da padroeira do Brasil. Centenas de cavalarianos do município também vão até o local, para participar da chamada ‘missa da santinha’.
Na frente dela, com ajuda de doações, foi construído um abrigo, onde geralmente o padre fica durante as missas. A capela está sempre aberta para quem quiser visitá-la. Na entrada, a chave fica pendurada em uma chaleira e, dentro desta, uma caixa de fósforos para quem quiser acender velas.
Prefeitura quer criar um parque municipal
Foi há mais de 300 anos que Domingos, João e Filipe ‘pescaram’, das águas do rio Paraíba, no interior de São Paulo, uma pequena escultura. Primeiro apareceu o corpo, depois as redes trouxeram a cabeça. Era a figura de uma mulher, com as mãos unidas em oração. Para o trio de pescadores, era a própria Virgem Maria, que naquele outubro de 1717 encheu o seu barco de peixes.
Foi, então, construído um pequeno altar e, tempos depois e durante os próximos séculos, a devoção em torno da imagem só cresceu, sendo a ela atribuídos vários milagres, reconhecidos pelo Vaticano. Nascia ali, para os católicos, Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil e, para ela, que no início teve um pequeno altar, hoje sua imensa basílica é um dos maiores santuários do mundo.
Guardadas as devidas proporções, a história parece se repetir no interior de Vale Verde. O que começou com uma fenda em uma pedra, hoje tem uma capela e pode, com o tempo, crescer ainda mais. Para começar, o caminho de 2,6 quilômetros que leva à grutinha já mudou de nome e agora é a Estrada da Gruta Nossa Senhora Aparecida. O projeto, de autoria do vereador Clécio Hertz (PSB), já foi sancionado pelo Executivo. “A ideia é que o local receba cada vez mais melhorias para virar um ponto turístico religioso”, comenta Hertz.
A ideia da Prefeitura é comprar de Irene Pasinato, viúva de Ari, mais 1,5 hectare. Nesse espaço, somado ao outro hectare que ela doou há alguns anos para o Município e onde está a gruta, o objetivo é criar o Parque Municipal Nossa Senhora Aparecida, um local para receber fiéis e turistas. “A ideia é buscar recursos para construir um salão no local, um espaço que a comunidade possa usar também. Para isso, a proposta é que se crie uma associação dos moradores, para que no futuro eles cuidem do local”, explicou o prefeito Carlos Gustavo Schuch.