Nesta semana, marcando no calendário o início oficial do verão europeu, estamos curtindo um calorzinho gostoso de 30 graus no litoral da Croácia e de onde escrevo a coluna de hoje. A história deste país com pouco menos de 4 milhões de habitantes é tumultuada, desde os tempos romanos até os conflitos no início dos anos 90 durante a sangrenta Guerra da Bósnia, que abalou toda região dos Balcãs e fez parte do processo de desintegração da Iugoslávia, precipitando assim a independência da Croácia.
Nosso passeio pela Croácia iniciou em Split, a segunda maior cidade do país com cerca de 170 mil habitantes, e um dos tesouros da costa da Dalmácia. A cidade é a sede administrativa do condado de Split-Dalmácia, localizada numa península do mar Adriático e principal porto para navios de cruzeiro e acesso às centenas de ilhas croatas. A história desta pérola croata está intrinsecamente ligada aos tempos romanos. Diocleciano, um imperador romano que governou entre 284 e 305, era conhecido por suas reformas e pela perseguição aos cristãos. No final do século III ele ordenou a construção de seu palácio na região onde hoje se encontra Split, devido à localização próxima de Salona, na época uma das capitais do Império Romano. Quando Salona foi atacada pelos povos Ávaros e Eslavos durante o século VII a população refugiou-se no palácio de Diocleciano surgindo assim o vilarejo de Split, no interior das muralhas do palácio.
O Palácio de Diocleciano é um dos monumentos mais bem preservados da arquitetura romana do mundo, considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO. O termo “palácio” é, de certa forma, enganoso pois ao entrar pelos portões das muralhas gigantes não se tem a impressão de estar visitando um palácio. Na verdade, a sensação é de estar passeando em uma parte fortificada do centro histórico. Um fato interessante é que durante a época do imperador Diocleciano o palácio era a única construção de toda região. Split, como cidade, sequer existia. A praça imperial de Peristilo formava a parte central do palácio e hoje em dia é um dos locais mais movimentados de Split, sempre lotada de gente cantando, bebericando nas escadarias em torno da praça ou apenas sentados absorvendo a energia incrível deste lugar histórico. Uma atração imperdível!
Split está localizada ao pé do morro Marjan, entre montanhas e oceano. Desta forma, por onde se anda a vista é sempre espetacular seja caminhando pela orla refletindo as águas cristalinas do mar Adriático ou pelas ruelas pitorescas do centro histórico com os picos rochosos de pano de fundo. A cidade velha de Split é um poço de história com beleza estonteante. São centenas de ruazinhas estreitas formando um labirinto de palacetes e casarios de puro charme. Esta pequena península foi dominada durante mais de um milênio por vários impérios – romano, bizantino, otomano, veneziano e austro-húngaro – e em cada canto pode-se contemplar a influência arquitetônica dos respectivos reinados.
Passear pelo centro histórico de Split significa se perder e se achar novamente. Entre uma esquina e outra vale à pena sentar num dos tantos barzinhos e restaurantes para degustar um bom prato de peixe, regado a um vinho branco croata, escutando o burburinho do emaranhado de ruelas. Por vezes, a impressão é de estarmos passeando por Veneza ou Roma tamanha a semelhança nas construções e praças. Por falar nelas, uma das características de Split e que me chamou atenção, é o grande número de praças espalhadas em toda cidade, tornando o principal ponto de encontro de cada bairro. Na praça da Fruta, circundada por construções do estilo veneziano, e antigamente um mercado de frutas e verduras, mesinhas na calçada ficam lotadas de gente tomando um cafezinho ou uma cervejinha croata. A praça da República se destaca no centro histórico, tomada por restaurantes além de uma área de apresentação artística. Esta é a nossa primeira visita à Croácia e com certeza não será a última pois esta jovem democracia com história milenar, natureza abundante e mar transparente cativou nossos corações. Continuo na próxima semana.