Rudimar Serpa de Abreu é diretor de Ensino e Tecnologia Educacional da Unisc (Foto: Fátima Assis)
Rudimar Serpa de Abreu é diretor de Ensino e Tecnologia Educacional da Unisc (Foto: Fátima Assis)

Esta segunda-feira, 11 de agosto, marca a passagem de mais um Dia do Estudante, data comemorada desde 1927, quando se celebrou o centenário da criação dos dois primeiros cursos superiores do Brasil, instituídos por Dom Pedro I, em 1827. De lá para cá, é claro, muita coisa mudou na vida de quem está em sala de aula.

Hoje, um dos temas que mais geram dúvidas e discussões no ambiente educacional é o surgimento e avanço das ferramentas de inteligência artificial (IA). Já presentes em diversas áreas do mercado de trabalho, elas também começam a transformar o modo como se ensina e aprende.

A pesquisa Inteligência Artificial na Educação Superior, realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), em parceria com a Educa Insights, e divulgada em 2024, revelou que sete em cada dez estudantes universitários ou interessados em ingressar na graduação já utilizam frequentemente ferramentas de IA no dia a dia acadêmico. Um percentual ainda maior, 80%, afirma conhecer as principais plataformas, como ChatGPT e Gemini.

Segundo o levantamento, 29% dos entrevistados utilizam IA nos estudos diariamente, e outros 42%, semanalmente – totalizando 71% de uso frequente. A amostragem foi feita em julho de 2024 com 300 pessoas, entre 17 e 50 anos, das cinco regiões do país. Participaram estudantes que ingressaram em faculdades privadas entre o final de 2023 e o início de 2024, além de interessados em começar uma graduação.

Ou seja, mais do que uma tendência para o futuro, a pesquisa mostra que o uso da inteligência artificial na rotina dos estudantes já é uma realidade, o que levanta questionamentos sobre os limites, os benefícios e os riscos dessa nova ferramenta no ambiente educacional. Por isso, para entender melhor esse cenário, a Folha do Mate conversou com o diretor de Ensino e Tecnologia Educacional da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), professor Rudimar Serpa de Abreu.

*Com informações da Agência Brasil


“A inteligência artificial é, a meu ver, inevitável”

Folha do Mate: A inteligência artificial é uma aliada, inimiga ou simplesmente inevitável na rotina dos estudantes hoje?
Rudimar Serpa de Abreu: A inteligência artificial é, a meu ver, inevitável e, quando incorporada de forma crítica e responsável, pode se tornar uma aliada estratégica no processo formativo dos estudantes. Pesquisas recentes mostram que a proibição tende a estimular o uso oculto, enquanto a omissão afasta a instituição escolar de um debate que é inadiável. Por isso, sua integração nos processos de ensinar e aprender deve ocorrer dentro de parâmetros éticos bem definidos, garantindo a preservação da autoria e atuando como complemento às competências intelectuais e criativas, nunca como substituta.

Quais são as armadilhas no uso da IA, como o risco de vieses nos conteúdos gerados?
Existem riscos importantes que precisam ser considerados. O primeiro é o viés, pois muitos modelos são treinados com dados provenientes de países e centros de tecnologia hegemônicos, o que pode reforçar desigualdades culturais, linguísticas e sociais. Outro é a “alucinação”, quando a IA fornece informações incorretas com aparência de verdade. Há ainda o chamado “colonialismo de dados”, em que nossas interações alimentam sistemas privados, e o risco da dependência excessiva, que pode enfraquecer o pensamento crítico. Destaco que reconhecer e reduzir esses riscos é essencial para um uso seguro e responsável da IA na educação.

De que forma a IA pode contribuir positivamente no processo de aprendizagem?
A IA, sob uso orientado, pode enriquecer a experiência de aprendizagem ao oferecer personalização, apoiar a sistematização de informações e fomentar a criatividade. Defendo que ela seja empregada para promover inclusão, diversidade e equidade no acesso ao conhecimento. Também destaco que a sua utilidade em atividades como geração de ideias, pesquisas, busca e síntese de materiais, tradução e análise de dados — desde que o estudante mantenha protagonismo intelectual e capacidade de análise crítica.

Como as instituições de ensino devem lidar com o uso crescente da IA por parte dos alunos?
Entendo que tanto no ensino superior como na educação básica, as instituições devem adotar políticas institucionais claras, compatíveis com marcos regulatórios como a LGPD, contemplando a proteção de dados, a integridade didático-pedagógica e a formação docente para o uso pedagógico da IA. Talvez estabelecer faixas etárias mínimas — como a restrição de uso para menores de 13 anos — e validar a adequação pedagógica e ética das ferramentas, por exemplo. Na Unisc, seguimos essa perspectiva: não se trata de permitir ou vetar, mas de educar para o uso crítico, transparente e responsável, exigindo que o estudante declare, com precisão, quando e como recorreu à IA.

Que dica você daria aos estudantes sobre a melhor forma de se fazer uso de IA nos estudos hoje?
Minha sugestão é que a IA seja utilizada como ponto de partida, jamais como produto final. É fundamental validar as informações, confrontá-las com múltiplas fontes e imprimir a marca autoral no trabalho. Podemos denominar essa prática de “co-criação responsável”. Na universidade, enfatizamos que a IA deve ocupar o papel de assistente intelectual: capaz de ampliar possibilidades, mas jamais de substituir o rigor, a originalidade e a responsabilidade que competem unicamente ao estudante.

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Alan Faleiro

Com foco na produção de notícias sobre negócios, contribui para divulgar o que é relevante no mundo corporativo e tudo o que mais impacta a comunidade local.

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