Promoção de atividades lúdicas no pátio da escola
Promoção de atividades lúdicas no pátio da escola

Conscientizar alunos e famílias sobre riscos do uso excessivo das telas e incentivar atividades alternativas. É com este objetivo que a turma do 7º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professora Odila Rosa Scherer, do bairro União, desenvolveu o projeto ‘Mais brincar, menos celular’. A iniciativa teve os primeiros passos no começo do ano letivo e foi aprofundada ao longo dos últimos meses, com pesquisas e atividades de conscientização.

Uma das responsáveis é a professora de Educação Física Mônica Cristina Müller, que também atua como orientadora educacional, e destaca que observou mudanças no comportamento dos alunos, como no desenvolvimento de habilidades físicas. A partir daí, o projeto foi formatado e as alunas Eduarda Neves, Vitória Machry e Maria Eduarda Dutra Bourscheidt ficaram à frente do trabalho.

Com alguns depoimentos, observaram que, especialmente as meninas, se sentiam com autoestima baixa por comparações realizadas nas redes sociais, enquanto outros alunos relataram ansiedade, dores no pescoço, distúrbios no sono e agressividade quando permaneciam muito tempo no celular.

“Após a pandemia percebemos que crianças e adolescentes estão diferentes. Eles retornaram às aulas usando celular, mas agora veio a proibição e consideramos isso muito bom para o desenvolvimento deles. Mas é um acompanhamento que precisa vir de casa, dando o exemplo que muitos alunos da manhã vêm para a escola com sono e dizem ter ficado até tarde jogando”, lamenta a professora.

Mônica justifica que o vilão, nesse caso, não é o próprio celular, mas os usuários, que acabam não tendo controle sobre o tempo que navegam em redes sociais e outras plataformas.

Já a professora Maria Susana Carvalho, que também está no desenvolvimento do projeto, considera a iniciativa como de grande relevância. “Partiu de adolescentes que nasceram e vivem essa era tecnológica, sentindo os benefícios e malefícios pelo uso inadequado. Elas conseguiram ligar, ainda, com suas raízes, sugerindo o resgate de brincadeiras. Então é preciso, em terceiro momento, ainda falar, debater, conscientizar e apontar caminhos e levarem a proposta de conscientização”, afirma a profissional.

Atividades de conscientização sobre telas

Por causa dos resultados da pesquisa, foram pensadas ações que pudessem reaproximar tanto os pais como os alunos de atividades lúdicas, sem a utilização das tecnologias. O projeto incentivou a leitura e brincadeiras como ferramentas para redirecionar o tempo, que antes era totalmente dedicado aos dispositivos.

“Realizamos brincadeiras, jogos e praticamos esportes, trazendo uma reflexão sobre como o tempo pode ser melhor aproveitado”, destaca a estudante Maria Eduarda Dutra Bourscheidt. Ela comenta que foi criado um folder com dicas para equilibrar o uso do celular. Junto com um ‘jogo da velha’, montado a partir de itens reciclados, os materiais foram distribuídos a todos os alunos da escola.

A ação de conscientização se estendeu também à região central da cidade. No dia 9 de agosto, as alunas apresentaram uma faixa com o nome do projeto e distribuíram o folder para a comunidade. “Foi muito interessante, porque muitas famílias falaram da preocupação de não saberem ajudar os seus filhos. Uma ideia muito legal”, considera a outra integrante, Vitória Machry.

Divulgação ocorreu na região central de Venâncio

O projeto foi apresentado na Mostra de Trabalhos da escola e ficou em 1º lugar. O próximo passo, será a apresentação na 14ª Mostra Municipal de Pesquisa e Inovação (Mompi), durante a 26ª Feira do Livro de Venâncio Aires, que ocorre em setembro.

Olhar próprio

A estudante Eduarda Neves destaca que, para ela, o projeto está sendo muito importante. Ela considera o fato de poder ajudar outros colegas, além de elaborar autoconhecimento sobre o tema. “Ficava uma duas horas por dia no celular. Após as pesquisas, consegui diminuir. Agora uso esse tempo para ficar com minhas amigas e jogar vôlei, que é algo que eu gosto muito. Na escola tinha falta de concentração e agora não tenho mais”, afirma, citando exemplo prático sobre como o uso excessivo é prejudicial.

Emeis

  • A intenção do grupo é apresentar o projeto em uma escola municipal de educação infantil (Emei), contando de forma lúdica o quão prejudicial as telas podem ser para as crianças.
  • Por isso, foi confeccionado um boneco, inspirado no livro ‘A menina da cabeça quadrada’, de Emília Nunez. Como remete ao título da história infantil, a personagem principal, Cecília, fica com a cabeça quadrada por causa do uso excessivo de telas.
  • Ela pede, então, ajuda para a avó, que orienta a menina a realizar brincadeiras redondas, como jogar bola, pião e ciranda, para, segundo o livro, “desquadradizar” a cabeça – incentivando o contato pessoal entre amigos e família.

“O monitoramento não deve ser somente dos filhos. Em várias situações, os pais precisam de orientações, pois não sabem dos próprios limites.”
MÔNICA CRISTINA MÜLLER
Professora e orientadora educacional

Ponto de vista profissional sobre o uso exagerado das telas

O uso cada vez mais disseminado de dispositivos com telas tem levado profissionais a analisar com atenção os efeitos desse comportamento na rotina. A psicóloga Letícia Nedwed avalia que o uso exagerado pode acarretar atrasos no desenvolvimento da comunicação e interação social em crianças, além de criar baixos níveis de concentração e colaborar para problemas de saúde, já que as crianças tendem a ficar mais sedentárias.

A profissional pondera que a infância é o período em que as crianças aprendem brincando, por meio de atividades que estimulam o movimento e apresentam situações importantes. Entre os exemplos, ela cita o compartilhamento de brinquedos, onde aprendem a lidar com conflitos e a tomar decisões. “Elas necessitam de interação para o desenvolvimento de habilidades e do relacionamento interpessoal. O contato mais próximo e exagerado com as telas pode gerar transtornos como ansiedade e depressão, além de afetar a interação social e ter impactos cognitivos.”

No entanto, a psicóloga reitera que, quando utilizadas de forma correta, as ferramentas digitais podem ter um grande significado para o desenvolvimento. “E a família tem uma grande influência neste processo. É ela quem educa e ensina como utilizar de forma segura e responsável, estabelecendo limites no tempo de uso, demonstrando interesse nos assuntos dos filhos, construindo confiança e mantendo uma relação de diálogo”, considera.

A preocupação com o uso de telas também é compartilhada pela médica pediatra Vívian Wunderlich. “Já sabemos que crianças expostas precocemente às telas, especialmente quando o tempo de uso cresce após os três anos de idade, apresentam menor desempenho em testes de inteligência, memória de trabalho e velocidade de processamento”, exemplifica. Ela justifica que o tempo gasto diante das telas reduz as oportunidades de interação e de estímulos cognitivos de qualidade, que são fundamentais para o desenvolvimento cerebral.

Sono e saúde ocular

Os distúrbios do sono em crianças e adolescentes, na maioria das vezes, são provocados pela exposição excessiva a dispositivos eletrônicos. A profissional destaca que dormir mal na infância aumenta o risco de problemas de atenção, hiperatividade, irritabilidade e dificuldades na regulação emocional.

O impacto se estende também para a saúde ocular. “O alerta é crescente: o uso prolongado está associado ao surgimento de alterações como miopia, astigmatismo, ressecamento ocular e até inflamações. O risco é claramente maior em crianças que permanecem muitas horas por dia expostas a dispositivos digitais.”

Como ‘receita’ para uma rotina saudável, a médica orienta que crianças de 0 a 2 anos não devem ter contato com as telas, evitando-as ao máximo, com exceção apenas para videochamadas com familiares. Para crianças de 2 a 5 anos, o limite é de até uma hora por dia, com supervisão de um adulto, priorizando sempre brincadeiras ativas, leitura e convívio social.

Conforme a pediatra, a partir dos 6 anos, é recomendado criar um plano familiar de uso, estabelecendo regras de horários, locais e tipo de conteúdo, nunca substituindo atividades como sono, exercícios físicos ou refeições em família por tempo de tela.

Regras para utilização

  • Proibir a utilização no quarto e mesa de refeições
  • Pais devem manter supervisão ativa sobre o conteúdo assistido ou jogado pela criança
  • Priorizar movimentos, ar livre e leitura de livros, pelos menos duas horas ao dia
  • Buscar manter um sono regular, com a rotina noturna sem celular ou TV.

“O excesso de telas na infância está associado a prejuízos persistentes em múltiplos domínios do desenvolvimento, especialmente quando o tempo de exposição é elevado, começa muito cedo, ocorre sem supervisão de adultos e com conteúdos de baixa qualidade. As recomendações atuais destacam não apenas a necessidade de limitar o tempo, mas também de garantir que telas nunca substituam o que é insubstituível: brincar, dormir bem, se movimentar e conviver.”
VIVIAN WUNDERLICH
Médica pediatra

Júnior Posselt

Acompanha de perto o dia a dia da comunidade, com olhar atento ao interior e à educação.

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