Responsável por grande parte da economia da região Sul do país, o setor do tabaco também é um importante aliado na erradicação do trabalho infantil. Individualmente, as empresas repassam orientações aos produtores integrados, combatendo esse tipo de situação. Além disso, o Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) mantém o Instituto Crescer Legal.
Fundada em 23 de abril de 2015, a instituição tem como foco a atuação com filhos de agricultores. O objetivo é oferecer habilidades a esses jovens, como uma resposta à ausência de oportunidades para eles, que não podem atuar na maioria das demandas do meio rural. “Muitos deles, além da escola, não viam uma possibilidade de aprender sobre o mundo do trabalho, de se desenvolver no sentido de buscar novas maneiras de gerir a propriedade e de empreender no campo”, destaca a gerente do instituto, Nádia Fengler Solf.
A dirigente observa que as atividades fazem com que os participantes fiquem atentos às comunidades que estão inseridos e a necessidade de construir soluções conjuntas, não aguardando somente por soluções externas. “O impacto que nós já sentimos no nosso dia a dia junto a essas comunidades, com os jovens e os seus familiares, é de transformação, no sentido de que esses jovens despertem para as possibilidades que existem na sua propriedade, onde ele reside com a sua família, de onde tira o seu sustento”.
Dados comprovam a importância do Crescer Legal. Levantamento feito pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), sobre o impacto do Programa de Aprendizagem Profissional Rural, aponta que os egressos seguem estudando ou buscando por qualificação, mostrando a importância do papel desempenhado na carreira desses jovens: “Para quem está no meio rural, eles seguem buscando tanto cursos técnicos como também graduações, principalmente ciências agrárias e licenciaturas. E além disso, claro, muitos outros cursos. Então, o despertar para um desenvolvimento cada vez maior é certamente um dos grandes impactos”, afirma.
A pesquisa conduzida pelo Idis ainda afirmou que, pelo menos a metade dos egressos, passaram a enxergar o meio rural como uma possibilidade para o futuro e avaliam a possibilidade de serem sucessores das atividades nas propriedades.
Entre outros aspectos, a responsável pelo Instituto Crescer Legal também elenca o engajamento das famílias, desde o processo da matrícula até o final da formação. Segundo Nádia, logo no ingresso dos jovens nas aulas, equipes vão até as famílias e avaliações muito positivas são recebidas nas visitas. “As respostas vêm no sentido de como teria sido bom para eles, quando crianças, terem tido essa oportunidade de se desenvolverem sem sair da localidade”.

Oportunidade de renda e desenvolvimento
Diversas frentes dentro do instituto foram criadas para prevenir o trabalho infantil nas regiões produtoras de tabaco. Uma das iniciativas é o Programa de Aprendizagem Profissional Rural, sendo pioneiro ao oferecer aprendizagem profissional aos alunos sem sair do campo e da escola.
Durante o período de um ano, os estudantes participam do curso de gestão rural e empreendedorismo, e ainda são contratados como aprendizes por empresas do setor do tabaco e apoiadoras do instituto. “Além de uma oportunidade de desenvolvimento, representa o ingresso de renda na realidade desses adolescentes. Eles têm pela primeira vez na vida a Carteira de Trabalho assinada e com todos os direitos, num ambiente protegido de formação teórica e prática sem sair das suas comunidades”.
Os alunos, recebem salário proporcional a 20 horas semanais – e a carga horária do curso ocorre no contraturno escolar – e no final da qualificação ainda ganham certificados. Apesar de terem vínculos com as empresas, os aprendizes de 14 a 17 anos participam das atividades práticas e teóricas nas próprias escolas ou em ambientes comunitários.
Após terem concluído o curso, automaticamente os alunos participam do Programa de Acompanhamento dos Egressos. Além do vínculo de suporte para projetos, contam com oportunidades de formação. “Essa ação é desenvolvida na parceria de outras instituições com o Instituto Crescer Legal. Algumas oportunidades inclusive de financiamentos para os seus projetos poderem sair do papel e se tornarem realidade”, observa Nádia.
Outros programas do Instituto Crescer Legal
- Programa Nós por Elas – A voz feminina do campo: O Instituto Crescer Legal também tem um programa específico voltando para as estudantes. Desenvolvido desde 2017 em parceria com os cursos de comunicação da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e diversos sindicatos, a iniciativa reflete sobre temas inerentes à questão de gênero e do papel da mulher no meio rural. “Elas elegem temas, elaboram e gravam boletins de rádio que são veiculados pelos nossos parceiros. O programa leva essa mensagem por meio das ondas do rádio para as comunidades do campo, porque ainda é a principal ferramenta de comunicação, especialmente do meio rural”, explica a gerente do Instituto Crescer Legal, Nádia Fengler Solf.
- Programa Boas Práticas de Empreendedorismo para a Educação: É destinado para professores de escolas do meio rural e aborda temas de autoconhecimento, empatia e comunicação, inovação e organização. Os professores contam, durante a formação, com assessoria remota de profissionais de referência do instituto. As melhores práticas são compartilhadas pelos professores na Mostra de Boas Práticas Pedagógicas.