Os vereadores de Venâncio Aires não utilizavam a tribuna da Câmara desde o dia 11 de julho e, na segunda-feira, 1º de agosto, quando voltaram a contar com o período de Comunicações, soltaram o verbo no Plenário Vicente Schuck, espaço onde são realizadas as sessões do Poder Legislativo. E a ‘metralhadora’ da oposição foi apontada e disparou com tudo na direção do secretário municipal de Desenvolvimento Rural, Gilberto dos Santos (MDB), que é vereador eleito, porém está no primeiro escalão da Administração Jarbas da Rosa (PDT). André Kaufmann (PTB) e Elígio Weschenfelder, o Muchila (PSB) foram os parlamentares que atacaram Santos, com denúncias de não cumprimento de horário de expediente.
Ex-secretário de Desenvolvimento Rural, Kaufmann foi o primeiro a fazer denúncia contra o atual titular da pasta. Comentou que, nas últimas semanas, nas andanças pelo interior de Venâncio Aires, ouviu “uma reclamação geral”. A principal, segundo o petebista, se refere ao fato de as pessoas não encontrarem Gilberto dos Santos na secretaria. “Vou protocolar um pedido de informação. Pessoas vão até lá e não encontram. Inclusive há denúncia, no meu celular, de que o secretário está cuidando dos seus afazeres particulares em pleno horário de trabalho. Quando eu era secretário, batia o ponto rigorosamente”, declarou.
Kaufmann disse ainda que está muito preocupado com a situação, pois ele mesmo teria confirmado a ausência de Santos na pasta. “Algumas vezes estive lá e não encontrava o secretário. Às vezes era na corrida, assinava uns papéis e ia embora. Vamos buscar as informações para tentar esclarecer à comunidade se realmente está acontecendo. É dinheiro público. A partir do momento que assumiu o compromisso, cumpra-se! Ninguém é secretário por hobby. Não é só pra tirar foto ou ir aos eventos fazer uma fala”, observou.
Muchila foi ainda mais longe, afirmando que teria flagrado Santos em sua propriedade particular em horário de expediente. “O secretário trabalha só meio-dia e todos sabem. Não façam aqui cara de espanto, porque ninguém é criança. Eu mesmo o vi, no interior, em sua propriedade, trabalhando às três horas da tarde. Só fui infeliz pra tirar uma foto”, denunciou, para em seguida garantir que vai levar as informações ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas. “Chega, este desgoverno é uma farra com o dinheiro público, é uma bagunça, cada um faz o que quer e como bem entende”, disse o vereador socialista.
Contraponto
Procurado pela reportagem da Folha do Mate, o secretário de Desenvolvimento Rural, Gilberto dos Santos, se mostrou tranquilo em relação às acusações e disse as investidas de Kaufmann e Muchila têm como intenção desprestigiá-lo politicamente. “Estou na secretaria religiosamente, todos os dias. É lógico que tenho meus compromissos fora. Agora, por exemplo, estou aqui na Emater”, afirmou, usando a agenda, no momento da ligação, como exemplo. Sobre a denúncia de Muchila, que disse tê-lo visto em horário de expediente na propriedade particular, Santos foi direto e irônico: “Só se ele foi me cuidar em algum feriado. Sei que tem sempre alguém que não está contente, pois o trabalho vai indo bem”, argumentou.
O titular da pasta garantiu que vai seguir o planejamento traçado, se colocou à disposição de toda a comunidade e sugeriu que, quem precisar falar diretamente com ele, faça um contato anterior para a marcação de um horário, como forma de evitar desencontros. “Muito me admira os vereadores, em especial o André, que já foi secretário, levantarem este tipo de suspeita. Eles sabem que o secretário trabalha direto, que muitas vezes está atendendo telefone à noite, e eu não deixo de atender qualquer pessoa”, argumentou.
FG, horas extras, difícil acesso e feminicida
Nos bastidores, o encontro semanal do Legislativo ganhou o apelido de ‘sessão das denúncias’. Isso porque, além das acusações relacionadas ao secretário Gilberto dos Santos, outras foram levantadas na tribuna. Elígio Weschenfelder, o Muchila (PSB), disse que recebeu informações sobre servidores que estariam ganhando FG (função gratificada) e também horas extras, o que é vedado pelo regime dos servidores.
“E pasmem, são vários. Não vou compactuar com este tipo de aberração, porque são privilégios que não estão previstos em lei”, observou. Ele ainda declarou que capatazes e CCs estão se deslocando para o interior com veículos oficiais e ganhando o benefício do difícil acesso. A exemplo do caso envolvendo o secretário, Muchila não apresentou provas em relação às acusações feitas na tribuna.
Feminicídio
Muchila também criticou o fato de que Arlei Giovane da Rosa Dornelles, de 42 anos, que matou a ex-companheira, Elisane Schneider Noll, de 55 anos, a tiros, na madrugada do dia 25 de julho, em Linha Travessa, era contratado temporário da Prefeitura, como operário. “Onde estava o RH, onde estava o jurídico, que não olharam a ficha corrida deste cidadão? Até preso esteve”, disparou, para na sequência comparar o processo seletivo simplificado – pelo qual são escolhidos os contratados temporariamente – com as formas de acesso para os servidores de carreira. “O funcionário público, para entrar na Prefeitura, passa por uma bateria de testes, psicotécnico e por um probatório de três anos para ser efetivado”, concluiu.
“Não sei se estas denúncias são verdadeiras. Não cabe a mim apurar, mas garanto às senhoras e senhores que estarei encaminhando aos órgãos competentes.”
ELÍGIO WESCHENFELDER
Vereador do PSB
- Líder de governo na Câmara, o vereador Gerson Ruppenthal (PDT) classificou a denúncia contra Gilberto dos Santos como “gravíssima” e afirmou que não compactua “com esta ideia e com esta atitude, seja de um secretário ou de qualquer funcionário em horário de trabalho”. De acordo com ele, o fato deve ser apurado. “O servidor tem que trabalhar as suas horas”, completou.
Folha confere
• A reportagem da Folha do Mate foi conferir e, realmente, o autor do feminicídio trabalhava como operário na Prefeitura de Venâncio Aires. Após ser aprovado no processo seletivo, foi contratado por um ano, com possibilidade de ampliação do vínculo por mais um ano. Arlei Dornelles permaneceu na função de 6 de setembro de 2021 a 25 de julho de 2022. Ou seja, no mesmo dia em que cometeu o crime, foi demitido. De acordo com a Prefeitura, como ele não tinha sentença transitada em julgado e cumpriu os requisitos do processo, foi considerado apto à função.
Quem mais se manifestou
• Ana Cláudia do Amaral Teixeira (PDT): “Sobre a denúncia de que servidores estariam recebendo FG e horas extras de forma cumulativa, imediatamente fui atrás da informação e a hora extra é correspondente ao mês anterior, pois só agora passou a ter FG. É uma servidora de carreira que contempla duas secretarias. Esse alarde todo, às vezes, é pra chamar atenção para o trabalho que não está conseguindo realizar. Tem gente aqui que recebeu FG por muito tempo, sem sequer estar na função. E ainda foi pra Justiça e perdeu”, disparou a pedetista, em referência à FG que Muchila recebia até pouco tempo.
• Ricardo Landim (União Brasil): “Essa denúncia das horas extras e FG logo se vê que não tem pé nem cabeça. Se acha que tem fundamento, leve adiante, mas tenho certeza que o senhor não tem razão”, comentou.
• Ezequiel Stahl (PTB): “Quando era o vereador Tiago Quintana denunciando o rotativo e o pingo de solda na casa da filha do ex-vice-prefeito Celso Krämer, não tinha problema. Agora, não querem que denunciem? Tem que ser tudo investigado”, analisou.
“Eles sabem que estão mentindo”
“Eles sabem que estão mentindo. Isso é tudo fake news”. Essa foi a manifestação do prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa (PDT), sobre as denúncias feitas durante a sessão da Câmara de Vereadores. De acordo com o chefe do Executivo, “capatazes e CCs não ganham difícil acesso e secretário trabalha normalmente, sem a necessidade de bater ponto”. No entanto, os detentores de cargos de primeiro escalão apresentam relatório comprobatório das atividades que são realizadas.
Sobre o contrato do autor do feminicídio, Jarbas afirmou que, segundo a lei federal e parecer jurídico, ele estava apto à função de operário. Em relação às horas extras e FGs, ressaltou que jamais são pagas de forma cumulativa. “Eram horas e depois virou FG. Está junto na folha porque as horas são pagas retroativas a dois meses”, explicou, para em seguida finalizar com um recado a Muchila: “Me admira as denúncias virem de um vereador que ficou dois anos ganhando FG sem estar no exercício da função, por estar cedido ao sindicato. Isso sim, pra mim, é imoral”.
“A prova viva vai ser o cartão ponto. Se não tiver problema, serei o primeiro a dizer aqui: ‘É, realmente, estava equivocado’. Também vou fazer pedido sobre os serviços realizados, pois só atendem aqueles que são amigos do rei.”
ANDRÉ KAUFMANN
Vereador do PTB
“Não tô nem aí. Me sinto tranquilo e despreocupado, porque sei que se trata de ataque político. Para estar neste cargo, tem que estar ligado 24 horas e matar um leão por dia. Não vou me estressar por conta do ciúme dos outros.”
GILBERTO DOS SANTOS
Secretário de Desenvolvimento Rural