
Quando se fala em poluição, geralmente, as primeiras imagens que vêm à mente são gases sendo emitidos pelas indústrias ou esgoto a céu aberto desembocando em rios e mares. Mas, além disso, existe uma poluição muito grave que não é possível ver a olho nu: a poluição por micropoluentes.
A doutora em Química Lucélia Hoehne explica que isso ocorre pela introdução de substâncias em microescala, em uma velocidade que a natureza não consegue decompor na velocidade que ‘naturalmente’ iria se decompor.

“Isso causa um acúmulo dessas substâncias e elas entram em ciclos de vida de demais seres. E aí é que está o problema, não sabemos o real efeito ainda”, ressalta a professora e pesquisadora dos programas de Pós-Graduação em Biotecnologia e Ambiente e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Taquari (Univates). Entre esses poluentes estão resíduos de metais, medicamentos, pesticidas, hormônios e plásticos, entre outros.
Lucélia observa que, quando um remédio é jogado na pia ou no vaso sanitário, os reagentes são dissolvidos na água e se torna muito mais difícil neutralizar esses compostos depois. “Eles podem atingir seres vivos aquáticos causando um desequilíbrio do local”, afirma.
“Remédios, pesticidas, plásticos ou eletrônicos…tudo deve ser destinado da forma correta, pois quase tudo dá para reaproveitar de maneira em que a natureza consiga se reestabelecer e consigamos melhorar a qualidade de vida. Todos já perceberam que não temos mais estações bem definidas, há enchentes de um lado, secas de outro, temporais. Estamos em desequilibro ambiental. Então temos que fazer a nossa parte para que nossas futuras gerações não sofram com o nosso descaso.”
LUCÉLIA HOEHNE – Doutora em Química e professora da Univates
Um exemplo citado pela pesquisadora são as superbactérias. “Elas existe porque já ficaram expostas a antibióticos ao ponto de já se acostumaram com o fármaco e ele não fazer mais efeito. Aposto que alguém que está lendo essa reportagem já deve ter trocado de vários antibióticos ou conhece alguém que teve que trocar de remédios várias vezes até que um deles faça efeito”, exemplifica, ao reforçar a importância de as pessoas guardarem embalagens de fármacos e medicamentos vencidos e levarem até farmácias ou postos de saúde para o descarte.
Outro aspecto ressaltado por Lucélia está relacionado aos hormônios. “Estudos já evidenciaram que em meios aquáticos onde foi detectado presença de hormônios, eles alteram a fisiologia dos peixes e afetam o desenvolvimento reprodutivo.”
De forma semelhante, pilhas e eletrônicos têm metais e semimetais na composição, que também contribuem para a poluição ‘invisível’, que afeta tanto o meio ambiente quanto os seres humanos. “Quando são jogados no solo ou na água, podem ser incorporados em ciclos de seres vivos, causando desequilíbrio”, ressalta a pesquisadora. Ela também lembra que o óleo de cozinha é outro composto orgânico que não se mistura com a água e pode causar descontrole de oxigênio e morte e peixes. “São substâncias que não estavam na natureza e causam desequilíbrio. Podem causar a impermeabilização e a contaminação do solo, entupimento de redes de esgoto e poluição dos lençóis freáticos.”
Agrotóxicos
Com relação aos pesticidas, a professora Lucélia Hoehne ressalta que devem ser usados conforme o fornecedor exige, com luvas, roupas adequadas, máscaras e o mínimo necessário para a plantação. “Para que realmente seja eficaz no local desejado e que não sobre, pois essa ‘sobra’ pode alcançar águas superficiais com as chuvas, atingindo córregos, rios e lagos”, comenta.
Segundo a doutora em Química, os agrotóxicos podem penetrar no solo e também causar contaminações subterrâneas. “Já está bem estabelecido os efeitos que pesticidas podem acarretar, como leucemias, alterações neurológicas, como o mal de Parkinson; lesões no fígado, pele e pulmão; alergias, alterações hormonais, problemas comportamentais e de saúde mental. Por isso é muito importante que sejam devolvidos os frascos de resíduo aos fornecedores e que os aplicadores obedeçam restritamente o uso destes produtos”, orienta.