Recordações das Copas nas páginas das revistas

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Colecionar, na origem da palavra, é apenas o ato de reunir itens em coleção. Contudo, o que a definição do termo não consegue explicar é o afeto e as memórias que o ato traz. E o futebol é um ‘prato cheio’ para isso, seja com as famosas figurinhas da Copa do Mundo, com camisas de times ou, no caso de Telmo José de Borba, revistas e jornais dos anos 50 e 60.

Com os surrados papéis em mãos – porém, em estado aceitável após 50 anos -, o venâncio-airense de 77 anos, atualmente aposentado e morador de Estância Nova, explica que começou a guardar recortes de jornais e revistas completas quando tinha 13 anos (em Linha Taquari Mirim), durante a Copa do Mundo de 1958, realizada na Suécia, e vencida pela Seleção Brasileira – o primeiro dos cinco títulos mundiais. A motivação era simples, a paixão pelo futebol. “Sempre buscava, a cada 10 dias, Correio do Povo lá em Vila Mariante, onde tinha agência. Depois, já com meus 15 anos, comecei a buscar o jornal quando ia jogar futebol na localidade, antes ou depois dos jogos”, frisa.

Porém, as relíquias mais importantes são as revistas, em especial a Cruzeiro. Telmo conta com duas edições em ótimo estado do encartado – que marcou época pelas reportagens com estilos diferentes e com ênfase nas fotografias -, justamente as dos primeiros títulos do Brasil, em 1958 e 1962. “A de 1962 é especial, pois foi a primeira transmitida pela televisão e a revista foi a forma de manter toda essa memória viva”, relembra.

As revistas vinham diretamente para Venâncio Aires e alguns amigos de Telmo guardavam para ele. Em 1975, a Revista Cruzeiro, criada em 1928, foi extinta. “Na Copa do Mundo, eu tinha que ver todos os jogos do Brasil. Por isso, fazia, do Taquari Mirim ao Mariante, 20 quilômetros de bicicleta, à noite, para ver jogos de futebol na televisão, olhava a partida e voltava para a casa”, diz.

Leitura

Ainda jovem, Telmo lembra que o hábito da leitura sempre fez parte de sua vida, principalmente na adolescência. Assim como outros aficionados por esportes, o aposentado sempre teve a ‘mania’ de iniciar a leitura pelas páginas finais – conhecidas pelos conteúdos esportivos. “Com o tempo, após as revistas Cruzeiro serem extintas, comecei a guardar as páginas esportivas dos jornais”, relata.

Os exemplares eram guardados em uma gaveta, no roupeiro de Telmo. Entre eles, diversas edições da Folha Esportiva, da Revista do Grêmio e, também, da Revista Gre-Nal. “Sempre tive o pensamento de guardar, para relembrar no futuro, pois podia ser algo histórico.”

Posteriormente, com a vida adulta se fazendo presente, a leitura passou a ter papel secundário para Telmo. E, com isso, ele diz ter parado de colecionar em 1966, apesar de ainda ter edições da década de 70, mas que não são exclusivas de esportes. “Tinha mudado, agora o esporte ocupava apenas poucas páginas, não era uma revista inteira sobre”, destaca.

Em ótimas condições, a Revista Cruzeiro de 1962. (Foto: Leonardo Pereira)

No momento, são cerca de 30 exemplares, boa parte deles em ótimo estado, que podem ser lidos até os dias atuais. Segundo Telmo, só não estão melhores por que acabou esquecendo por uns anos e, também, passou um período em outras cidades, o que deixou os materiais guardados e expostos.

Mudanças

Segundo ele, tudo se alterou com o tempo, pois, agora, não existe, praticamente, o papel para acessar as notícias, é tudo no digital ou na TV. Por isso, vez ou outra, o aposentado retorna para a coleção, pelo menos de quatro em quatro anos, ou seja, de Copa em Copa. “Lembro até a escalação da Seleção de cada ano”, detalha.

Ainda assim, ele considera muito importante manter o acervo. “Tenho e nunca vou perder ou vender”, pontua. Outro destaque para ele é que, se a Revista Cruzeiro existisse em todas as Copas, ele compraria, mesmo que nas décadas de 60 e 70 fosse difícil a aquisição. De acordo com ele, não tinha ônibus para ir na ‘cidade’ e, por vezes, chegava na banca de revistas e jornais e tinha esgotado. “Ai ficávamos sem, não era tão simples. Até os valores eram pesados, mas era uma revista linda, outro estilo de reportagem, até o português mudou.”

“Há algumas que estão riscadas, outras rasgadas. Mas, o que eu consegui guardar, eu guardei. Infelizmente, umas foram perdidas com o tempo.”

TELMO JOSÉ DE BORBA
Colecionador aposentado

O sonho de assistir ao drible de Garrincha

A primeira Copa acompanhada por Telmo de Borba foi pelo rádio, em 1958, e a segunda em 1962, quando foi transmitida pela televisão os jogos da Seleção. Ele afirma ter sido emocionante, por que podia ver os jogadores, uma revolução à época. “Um dos grandes momentos com a televisão foi ver o drible do Garrincha, aquilo era impressionante, brilhava os olhos. Outro era o ‘Folha Seca’, finalização característica do Didi”, comemora.

Sobre a expectativa para a Copa do Mundo de 2022, realizada no Catar, o colecionador diz estar empolgado para o hexacampeonato. De acordo com ele, essa geração de jogadores é diferente, tem rede social, dancinha, cortes de cabelo excêntricos, que não tinha em sua época, contudo, não significa que está errado ou que falte talento. “O Tite tem ideias diferentes, por exemplo, colocou inúmeros jovens em campo. Mas, estou confiante.”

Conheça Telmo José de Borba

  • Com 77 anos, Telmo está aposentado e, atualmente, cuida das terras que tem em Estância Nova, interior de Venâncio Aires. Chegou a trabalhar em uma empresa de ônibus, nas obras do asfalto da RSC-287 por cinco anos, como motorista e, até, cortou árvores e ‘mato’ para vender. “Foi quando comecei a fazer o meu ‘pé-de-meia’.”
  • É casado desde os anos 1970 com Liane Maria de Borba e tem cinco filhos, a mais velha com 51 anos e o mais novo com 31;
  • A família não gosta de esporte, sendo assim, Telmo nunca conseguiu ‘converter’ ninguém. “Meus pais também não gostavam, apenas o meu irmão gostava e era colorado, mas puxei para o lado que ganhava na época, que era o Grêmio.”
  • Seus ídolos no Grêmio da década de 60 são Juarez “Tanque”, Vieira “Vi” e Marino, o trio de ataque. “Ainda consegui assistir aos jogos ao vivo, no estádio, com um Olímpico com a metade do tamanho atual.”
  • Na Seleção, os maiores ídolos eram Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Gilmar;
  • Chegou a fazer parte da diretoria do Guarani e, também, gostava de ir aos estádios, principalmente no Olímpico, do Grêmio, quando morava em Porto Alegre.


Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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