Em 21 de março de 1955, foi criada a Associação dos Plantadores de Fumo em Folha do Rio Grande do Sul, em Santa Cruz do Sul (Foto: Divulgação/ Afubra)
Em 21 de março de 1955, foi criada a Associação dos Plantadores de Fumo em Folha do Rio Grande do Sul, em Santa Cruz do Sul (Foto: Divulgação/ Afubra)

“Um por todos e todos por um, é um auxílio mútuo.” É assim que o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Marcílio Drescher, define o trabalho de sete décadas dedicadas à agricultura familiar, realizado pela entidade que ele lidera desde 2023. Nesta sexta-feira, 21, a entidade chega aos 70 anos.

A relação entre Drescher e a Afubra começou quando ele cultivava tabaco Burley, conhecido como o típico de galpão, em Cunha Porã, no estado de Santa Catarina. Depois de alguns anos, se tornou conselheiro da diretoria, vice-presidente e, somando todos os cargos, acumula 28 anos de participação na linha de frente da associação.

Presidente Marcílio Drescher (Foto: Bruno Pedry/ Divulgação Afubra)

Em 1955, a história da Afubra começou, quando foi fundada a Associação dos Plantadores de Fumo em Folha no Rio Grande do Sul, inicialmente voltada apenas para os agricultores do estado. A entidade surgiu com o propósito de dar voz aos fumicultores, reivindicar políticas de proteção e oferecer apoio às famílias, especialmente em relação às perdas causadas pelo clima.

Entre as metas para os próximos anos de trabalho com a Afubra, Drescher destaca o desejo de manter o grande número de associados, que passa de 92,2 mil. Além disso, reforça a importância de continuar discutindo todas as decisões de forma democrática, por meio de assembleias, como tem sido feito desde o primeiro encontro há 70 anos.

Entre as principais evoluções dos últimos anos, o presidente ressalta a consolidação dos preços na etapa de comercialização do tabaco, o equilíbrio entre oferta e demanda e a melhor remuneração para os fumicultores. Além disso, destaca o auxílio contra danos nas lavouras de tabaco causados pelo granizo. “É uma forma de incentivo ao produtor. Um jeito para ele continuar a produzir tabaco, mesmo depois de ter perdido a safra com um temporal de granizo”, argumenta.


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O sistema Mutualista da Afubra foi criado em 1956 e, em 1980, passou a incluir também a cobertura contra danos provocados por tufões. Já dois anos depois, foi ampliado para oferecer auxílio na construção de estufas atingidas por incêndios e, em 2001, passou a abranger estragos em estufas causados por vendavais, granizo e raios.

“Se não existisse a Afubra, a cadeia produtiva do tabaco não seria a potência que é hoje.”

MARCÍLIO DRESCHER

Presidente da Afubra


Expoagro Afubra, a maior feira da agricultura familiar do Brasil

Durante os 70 anos de Afubra, há 23 edições, os nomes Expoagro e Afubra se complementam. Neste ano, o evento ocorre na próxima semana, de terça a sexta-feira, 25 a 28, com entrada gratuita, no Parque de Exposições, localizado em Rincão Del Rey, em Rio Pardo.

Considerada a maior feira da agricultura familiar do Brasil, a Expoagro de 2025 tem foco na superação dos agricultores. O presidente Marcílio Drescher destaca a persistência dos agricultores diante dos desafios climáticos, como enchentes, cheias, calor intenso e estiagens.

Crédito: Divulgação

Drescher também ressalta a importância da feira para a marca Afubra, pois proporciona maior visibilidade e abre oportunidades para o mercado da agricultura familiar e do agronegócio como um todo. “Para o produtor, a Expoagro possibilita a diversificação de culturas nas propriedades e abre novos horizontes e formas de negócios”, enfatiza.


Mais de 3,2 mil famílias associadas em Venâncio Aires

Entre os 3.224 associados à Afubra em Venâncio Aires está a família Renz, de Linha Sexto Regimento, pertencente à região serrana da Capital do Chimarrão. Lodvino Renz, que completou 91 anos na semana passada, ele está na lista dos associados pioneiros. “Me associei desde o início da Afubra”, relembra.

A produção de tabaco na propriedade Renz é passada de geração em geração. O trabalho começou ainda com os pais de Lodvino, Reinoldo e Otília Renz, que ensinaram o filho a ter o tabaco como fonte de renda. Casado com Sibylla (já falecida), ele também repassou os ensinamentos à única filha, Loreni, de 66 anos, que acompanhou a entrevista e auxiliou o pai com as respostas e as memórias do passado.

Lodvino Renz, de Linha Sexto Regimento, é um dos associados mais antigos da Afubra em Venâncio Aires (Arquivo Pessoal)

Há mais de 10 anos, o patriarca não participa mais diretamente do trabalho com o tabaco e, por conta de problemas de saúde, Loreni também encerrou as atividades há cinco anos. No entanto, junto do marido Nelsido Bohn, 69, auxilia sempre que possível o filho Clóvis e a nora Adelaide, que também são produtores de tabaco na localidade.

Ao ser perguntado sobre a importância do trabalho da Afubra para os agricultores durante os 70 anos da entidade, Lodvino Renz destaca o sistema mutualista contra danos causados por temporais e para as estufas, além do auxílio-funeral. Loreni ressalta principalmente o auxílio contra danos, pois a família precisou recorrer ao recurso algumas vezes pelo granizo que afetou a produção. “Pelo menos de cinco em cinco anos o temporal danifica a lavoura. Esse ‘seguro’ é importante, pois serve como incentivo e como uma forma de continuar a produção”, considera.

Mesmo com nove décadas de vida, Renz não deixa de ter atividades ligadas à lavoura. A filha lembra que, na época em que o tabaco seco precisava ser manocado, ele passava o dia fazendo esse serviço no galpão. Agora, isso não é mais necessário, pois o tabaco é enfardado de forma solta. Loreni também conta que o pai mantém uma horta completa, onde cuida cuidadosamente das suas plantações.

Momentos marcantes nos 70 anos

• Em 21 de março de 1955, foi criada a Associação dos Plantadores de Fumo em Folha do Rio Grande do Sul, em Santa Cruz do Sul. Esse foi o primeiro nome da Afubra que tinha foco em agricultores do estado.

• Um dos marcos é a criação do Sistema Mutualista, com o auxílio contra danos em lavouras de tabaco causados pelo granizo. O sistema foi criado em 1956 e, em 1980, incluiu o auxílio contra danos por tufão. Em 1982, passou a contar ainda com auxílio de construção de estufas atingidas por incêndio e, em 2001, incluiu estragos nas estufas provocados por vendaval, granizo e raios.

• A criação do Departamento de Fomento Agropecuário, no fim da década de 1950, também é emblemático. Começou com uma pequena loja de vendas e evoluiu para a Agro-Comercial Afubra em 1994, com vasto portfólio de mercadorias.

• Em 1967, a Afubra criou o auxílio-funeral para o associado e cônjuge, estendido para os filhos menores de 24 anos incompletos, desde que vinculados aos pais. Outro marco é a apuração do custo de produção do tabaco, iniciado nos primeiros anos da década de 1960. Desde 1980, é feito em conjunto com as federações – Fetag, Fetaesc, Fetaep, Farsul, Faesc e Faep.

• Em 1978, foi criado o hoje chamado Centro de Difusão Agropecuária, em Rincão del Rey, Rio Pardo. O centro fica onde é o Parque da Expoagro Afubra, o Viveiro Agroflorestal e a Usina de Biodiesel, usando o óleo saturado, recolhido pelo Programa da Afubra, em parceria com as escolas dos três estados do Sul do Brasil.

• Também é destaque o projeto Verde é Vida e os trabalhos ambientais da entidade, que estão, inclusive, nos estatutos de fundação da Afubra e ganharam reforço em 1978, quando foi assinado o primeiro convênio com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).

*Colaborou a repórter Débora Kist

Júlia Brandenburg

Repórter

Com foco na agricultura e no interior, também atua em pautas gerais, sempre com um olhar atento para a apuração dos fatos

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