O plantio e colheita de melancias era frequente em Vale Verde em anos anteriores, porém, com o advento da soja, a produção teve queda e, atualmente, são apenas três produtores que mantêm o cultivo da fruta.
Um dos que continua apostando na cultura é Derli Dornelles Porto, 58. O agricultor, junto com a esposa Sônia Bastos dos Santos Porto, 54, cultiva mil pés de melancia a cada ano em uma área de um hectare.
O casal iniciou o cultivo da fruta há cinco anos, quando Derli passou por um problema de saúde e optou por parar de plantar tabaco. Para seguir na agricultura, escolheu plantar melancias, pois acreditava que poderia ter um bom retorno financeiro. Derli ressalta que o diferencial é conseguir sempre plantar na mesma área e, de acordo com ele, desde o começo até agora, a produção tem sido satisfatória.
Recentemente, o casal encerrou mais uma colheita, que rendeu cerca de 1,7 mil melancias, mais ou menos duas frutas por pé, e cada uma pesou, em média, 12 quilos. O plantio dos novos pés de melancia sempre são feitos depois do dia 20 de agosto, e as frutas levam quatro meses para se desenvolverem por completo.
A época de colheita tem duração de 60 dias e, no mesmo período que vai colhendo os frutos, já recebe caminhões para transporte e comercialização no Centro de Vale Verde. “Nesta colheita, até atrasou um pouco o início, por causa da chuva. Comecei a colher dia 22 de dezembro”, explica o produtor.
Produção e venda
No primeiro ano, Derli pediu orientações de um agrônomo da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e, para ‘segurar’ a fruta no pé e ela aumentar de tamanho, faz uso de adubo foliar uma vez na semana, além de cal para as melancias não queimarem no sol. “Depois que aprendi, fui fazendo por conta. Mesmo que o produto seja caro, ainda compensa para se ter uma fruta boa para venda”, comenta.
De acordo com o agricultor, na colheita passada foi o pior ano da produção, quando houve muita chuva e atrasou toda a colheita. Por outro lado, os melhores anos foram o primeiro e a safra atual. “Passamos por anos de seca e, na safra passada, tivemos muita chuva, mas este ano foi o que melhor produziu, as melancias ficaram doces. Tem que ter calor e chuva para adoçar”, ressalta Derli.
A clientela é formada por moradores de Vale Verde, Passo do Sobrado e Mato Leitão. Muitos, inclusive, buscam as frutas na casa dos agricultores. Neste caso, têm a opção de escolher as melancias na área de plantio, que fica em frente à residência do casal. “Sempre consigo vender, já tenho uma boa freguesia”, comenta Derli. Além do plantio das melancias, a família também tem renda na criação de gado.
Derli afirma que vendeu cada fruta por R$ 20 a R$ 25 no auge da comercialização das melancias, mas como nas últimas semanas estava no fim da colheita, vendeu por menos, pois precisa se desfazer das melancias restantes para iniciar o preparo da terra para um novo plantio. Após a colheita, sempre avalia a produção e os lucros. Para o próximo ano, pretende plantar novamente.
Para manter a terra saudável e produtiva, Derli cultiva milho para silagem. Depois, faz a verga (espaçamento na terra) e planta aveia. Mais tarde, planta novos pés de melancia na palhada da aveia. Com o fim da colheita, nesta semana, a intenção de Derli é lavrar a terra para plantar o milho. “Parece pouca coisa, mas fazemos tudo manual e é um ciclo, nunca termina”, observa o agricultor.
Dados da Emater
- Segundo o engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater de Vale Verde, João Antônio Leal da Silva, atualmente são três produtores que continuam com o plantio de melancias.
- Cada um faz o cultivo de meio a até um hectare, totalizando uma área de no máximo três hectares de produção da fruta em Vale Verde. “O pessoal que antes arrendava áreas de 30 a 40 hectares para plantar melancias e vender em outros municípios, como Porto Alegre, não cultiva mais. Com o surgimento da soja, não se tem mais uma área ampla para melancias”, esclarece.
- Os produtores que permanecem cultivam a melancia para venda local e nenhum deles tem produção ecológica, ou seja, fazem uso de químicos. A variedade produzida no município é a Crimson Sweet, a melancia mais comum, que tem uma casca mais dura e rígida e resistência ao sol.
Dicas
- O produtor Derli Porto ressalta que, na hora da colheita, para saber se a melancia está boa, é preciso verificar a coloração embaixo da futa. Se estiver bem amarelinha, está boa.
- Para apanhar a fruta, é preciso que ela esteja madura. Se for tirada ainda verde, amadurece e fica murcha.
Melancia como aliada na saúde
Segundo a nutricionista do Sesc, Juliette Carvalho da Silva, a melancia é uma das frutas mais consumidas pelas pessoas. Cerca de 92% da composição da fruta é de água e, por isso, ajuda na hidratação do corpo, prevenção de retenção de líquidos, melhora o intestino e fortalece o sistema imunológico, por ter vitaminas A e C, que atuam como antioxidantes. “Frutas mais ricas em água, como a melancia, geralmente são produzidas no verão, justamente por ajudar na hidratação, nesta época do ano de calor intenso”, explica.
Na hora de escolher a melancia ideal, a nutricionista indica aquela cuja casca tem áreas grandes amareladas. Isso é característica de uma melancia que ficou muito tempo em contato com o chão e sol para amadurecer. As melancias de cascas esbranquiçadas podem sinalizar uma colheita precoce, o que impacta na doçura da fruta.
Receita
- Para aproveitar a fruta, a profissional indica uma receita: o suco frevo. Fácil e rápido de ser preparado, ajuda a hidratar e diminuir a retenção líquida. Confira.
Suco Frevo
Ingredientes:
- Duas fatias de abacaxi
- Dois pedaços de melancia
- 500 ml de água
Modo de preparo
- Bata tudo no liquidificador e tome sem coar. Se as frutas estiverem bem maduras, não é necessário adoçar.