Nesta semana, a Biblioteca Pública Municipal Caá Yari se despediu da companhia e de uma parceria de quase 20 anos com a bibliotecária Rosaria Costa, 62 anos, que agora se declara aposentada do cargo. A segunda-feira, 8, foi seu último dia oficial de trabalho, mas ela antecipa: “Vou continuar contando histórias.” A despedida da bibliotecária foi marcada por um sarau, ocorrido nesta sexta-feira, 12, que comemorou também os 52 anos de fundação da Biblioteca de Venâncio Aires.
Rosaria afirma que se despede da rotina de trabalho com sentimento de dever cumprido e de que fez o melhor como servidora pública. Além disso, se orgulha de ter promovido a leitura e diversos eventos, como os saraus multiculturais. Ela ressalta que o que mais gostava era do atendimento às pessoas e de indicar livros conforme os gostos de quem visitava a biblioteca. “É gratificante saber que meu trabalho influenciou o estudo de muito sócios, que prestaram vestibular, mestrado e doutorado. Pude acompanhar muitas dessas trajetórias. Quando cheguei, as pessoas ainda usavam a Barsa para pesquisas”, relembra.
A bibliotecária assumiu cargo em Venâncio Aires no dia 20 de dezembro de 2004, após passar no primeiro concurso que abriu a vaga. Ao chegar na Capital do Chimarrão, participou da reativação da Feira do Livro, em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc) e realizou o primeiro sarau do município, em abril de 2005. Participou da criação e fez parte da diretoria do primeiro Conselho Municipal de Cultura. Um dos orgulhos de Rosaria é ter conseguido movimentar os escritores venâncio-airenses, que hoje têm grupos específicos, e contribuir com orientação e ajuda para a formação de tantos outros.
Entre os pontos marcantes da trajetória, ela destaca os sócios ativos que levam os filhos para se associarem à biblioteca. Rosaria afirma que já acompanhou muitos associados que já faleceram, como é o caso da sócia número um da biblioteca, Sonia Müeller Ferreira. A bibliotecária chegou a levar exemplares para a associada em sua própria casa, nos momentos de fragilidade da saúde. Ela também acompanha as pessoas em situação de rua, que frequentemente procuram o local para acessar a internet pelos computadores.
Sobre a decisão de se aposentar, Rosaria explica que foi o fator saúde que falou mais alto.
Ela tem o diagnóstico de fibromialgia e sofre constantemente, principalmente no inverno, com dores. A partir de agora, pretende se dedicar a dois projetos: a criação de um espaço de leitura na Associação Esperança Azul e a organização e publicação do livro de relatos do grupo Guarda-Chuva de Flor, que presta assistência às pessoas e familiares que cuidam de pacientes com alzheimer. Além disso, Rosaria destaca que agora terá mais tempo para visitas e viagens a Rio Grande e Porto Alegre, cidades onde tem familiares.
Ela ressalta que já há novos nomes para assumir o cargo, pois a vaga fez parte do concurso público realizado em 2022. “Sei que já há profissionais designados. Espero que sejam chamados logo e que os venâncio-airenses os acolham tão bem quanto me acolheram”, afirma. Segundo ela, todos os possíveis candidatos a assumirem sua vaga são de outros municípios.
Dicas da bibliotecária
- Em vídeo publicado nas redes sociais do jornal Folha do Mate e da rádio Terra FM, a bibliotecária Rosaria Costa divulga seis livros preferidos e dicas de leituras aos apaixonados pela literatura. Confere lá!
A escolha
1 Rosaria conta que, desde que se conhece por gente, esteve no meio de livros. Na época do Ensino Médio, cogitou se graduar em Psicologia, mas o curso não existia na grade da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), em Rio Grande, onde morava. Foi mãe, passou a ser dona de casa, mas nunca deixou os livros: era a contadora de histórias do bairro e da família.
2 Depois da separação do primeiro casamento, fez a tão sonhada faculdade e, naquele momento, não teve dúvidas que seria Biblioteconomia. A formatura foi no início de 1997. Logo após, passou a atuar na Biblioteca Central do Serviço Social do Comércio (Sesc), em Porto Alegre. “O desejo de atuação sempre foi em bibliotecas públicas, sempre gostei, talvez por sentir falta de uma na minha infância”, diz.
3 Rosaria entrou para o Conselho de Biblioteconomia e foi coordenadora do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, mas foi através do programa Biblioteca em Ação, do Governo Federal, que veio para Venâncio Aires. O programa incentivou a fundação de bibliotecas públicas com bibliotecários em todo o Brasil, e Venâncio Aires foi um dos municípios contemplados. Rosaria foi aprovada para o cargo através de concurso público.
4 Sobre a profissão, Rosaria acredita que, com o passar dos anos, haverá cada vez mais profissionais na área, apesar de não ser tão procurada nas universidades. “Estudos científicos comprovam a maior eficácia do aprendizado quando feito em materiais físicos. Por isso, acredito que as bibliotecas ainda permanecerão ativas por muitos anos”, avalia.
“Venâncio é um público leitor”
Perguntada sobre a movimentação da biblioteca nos últimos anos, Rosaria afirma que, com a mudança de gerações, o ritmo tem diminuído, mas o número de novos sócios não para de crescer. Segundo ela, Venâncio Aires tem um público leitor variado, de crianças até idosos. “Venâncio é um público leitor”, reforça. O que também facilita e contribui para essa afirmação, de acordo com a bibliotecária, é o fácil acesso e a localização da Biblioteca Pública, no Centro.
Outro fator é o acervo de livros atualizado. Rosaria explica que os recursos que entram na biblioteca permanecem lá, pois a decisão foi regulamentada através de lei municipal. Por ano, são gerados cerca de R$ 3 mil com pagamento de multas e taxas para aquisição e renovação da carteirinha, valor que é usado para adquirir novos exemplares.
Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas
- Na terça-feira, 9, o Governo Federal instituiu, por meio da Lei nº 14.837/2024, o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE). A ação tem o intuito de promover e incentivar a implantação de bibliotecas escolares em todas as instituições de ensino do Brasil.
- O novo sistema tem, entre suas dez funções básicas, a de definir a obrigatoriedade de um acervo mínimo de livros e de materiais de ensino nas bibliotecas escolares, com base no número de alunos efetivamente matriculados em cada unidade escolar e nas especificidades da realidade local.
- O Governo Federal também trabalhará para favorecer a ação dos sistemas estaduais e municipais de ensino e para que os profissionais vinculados às bibliotecas atuem como agentes culturais, em favor do livro e de uma política de leitura nas escolas.
(Fonte: Governo Federal)
- 14.273 – É o atual número de associados da Biblioteca Pública Municipal Caá Yari, deste total, cerca de 3 mil são associados ativos.
- 14.242 – É o número de títulos cadastrados na biblioteca. Em exemplares, são mais de 24 mil livros.