“As ações precisam ser conjuntas, pensadas de forma regional e em nível de bacia hidrográfica”, afirma doutora em Recursos Hídricos

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Com mais de 2,2 milhões de pessoas atingidas diretamente, 461 municípios afetados e mais de 150 mortos, além de quase 100 desaparecidos, a maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul gerou destruição e prejuízos ainda incalculáveis após fortes as chuvas e enchentes registradas desde o fim de abril. Em Venâncio Aires, foram 23 mil moradores cujas casas foram invadidas pelas águas do rio Taquari e do arroio Castelhano.

Especialistas alertam para o fato de que eventos extremos se tornarão cada vez mais frequentes. Diante desse cenário, o que podemos – e precisamos – fazer para prevenir e reduzir os impactos de novas situações assim?

“Chuvas em excesso, assim como períodos de seca e temporais, vão ocorrer cada vez mais e de forma mais intensa. Por isso, precisamos pensar em sistemas de monitoramento eficazes, de alerta de emergência para população, para que as pessoas saiam de casa a tempo”, alerta a engenheira ambiental e professora Priscila Pacheco Mariani, doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, ao explicar que os eventos extremos são efeito das mudanças climáticas, resultantes do aquecimento global.

Paralelamente, ela reforça a necessidade de realocação da população que reside em áreas de risco, aliada a ações preventivas para minimizar os efeitos de inundações e temporais. Entre as possibilidades, Priscila cita técnicas e sistemas de contenção, retenção e amortecimento de água, além de estratégias para aumentar a infiltração da água no meio urbano (mais áreas permeáveis).

“Existem muitas ações que devem ser pensadas, mas precisam ser adaptadas para condições e realidades de cada região. Não é simplesmente fazer uma contenção sem avaliar todo o cenário e a viabilidade ambiental, econômica, social e técnica”, destaca a coordenadora do curso de Agronomia da Unisc.

Integrante do Centro Socioambiental da Unisc, ela também reforça a qualidade de profissionais disponíveis na região e que podem contribuir para a elaboração dessas ações, já que estão envolvidos em diversos projetos na região dos vales do Rio Pardo e Taquari.

“O diferencial é que são pessoas que conhecem a realidade da região. No Centro Socioambiental da Unisc, já estamos pensando em ações, trabalhando de forma intensa neste momento junto ao Gabinete de Crise. Precisamos entender o cenário para pensar em ações e projetos para mitigar e prevenir impactos dessas situações que vão se repetir”, ressalta.

Ações coletivas

Na opinião da professora Priscila, há estratégias que podem ser trabalhadas em diferentes âmbitos – desde a esfera municipal até regional, estadual e nacional. Ela também reforça a necessidade de se pensar o assunto de forma conjunta, considerando a abrangência das bacias hidrográficas. “Não se tem limite de município, nesta situação. Uma ação isolada não vai ser suficiente. “As ações precisam ser conjuntas, pensadas de forma regional e em nível de bacia hidrográfica, como a questão da recomposição da mata ciliar”, cita.

“Uma das coisas urgentes é repensar o planejamento das áreas urbanas, tendo a experiência e o aprendizado que esse desastre nos trouxe. De forma pontual, nos municípios, é preciso trabalhar a maior retenção e o armazenamento dessa água, sem áreas tão impermeáveis, reduzir o fluxo de água e minimizar o transporte de água na drenagem urbana.”


PRISCILA PACHECO MARIANI
Doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental

Poluição e qualidade da água pós-enchente

Além da destruição de casas, prejuízos na agricultura, em empresas e na infraestrutura urbana e rural, o excesso de chuva e as enchentes registradas no Rio Grande do Sul terão um impacto na qualidade da água com efeitos a longo prazo.

Doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, a professora Priscila Pacheco Mariani explica que a água que saiu do leito de rios e arroios e inundou cidades, carregou detritos, nutrientes, materiais tóxicos e bactérias por onde passou – casas, lavouras, indústrias. Esses sedimentos se depositam no solo, causando a contaminação, além de serem carregados para o leito do rio e permanecendo na água.

Embora não seja possível afirmar em quanto tempo e quais os efeitos da poluição da água após a enchente, não há dúvida de que haverá impacto tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente. “Vai causar uma poluição do ecossistema como um todo. O excesso de nutrientes que foram carregados, de diversas fontes, contribuem, por exemplo, para proliferação de algas nocivas, que vão consumir o oxigênio daquele local e gerar a produção de matéria orgânica, um processo que acaba desequilibrando aquele ecossistema”, cita.

Priscila também observa que os elementos poluentes variam em cada região, conforme a existência de indústrias no local, por exemplo. “É muito difícil quantificar e caracterizar os poluentes, isso vai ser influenciado de acordo com as atividades de cada local, mas sem dúvida que esses materiais vão gerar impacto tanto a saúde como também ao meio onde ele está tendo acesso.”



Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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