O orgulho de uma localidade. A Banda Marcial da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Mariante sempre foi definida desta forma em todo o município e, até mesmo, em cidades próximas. No entanto, a banda não se apresenta desde 2018, pois o desfile de 2019 foi cancelado em decorrência das chuvas e, em 2020 e 2021, não foi realizado por conta da pandemia de Covid-19. Agora, o cenário de dúvidas é ainda maior, a partir da interdição dos dois prédios da escola por problemas estruturais.
No meio desta incerteza toda, surgiu a ideia de retornar as atividades da banda. O ‘estalo’ veio após o convite do secretário municipal de Educação, Émerson Eloi Henrique, para participar do desfile cívico em Venâncio Aires, no dia 7 de setembro. “Pensamos bem e, no outro dia, colocamos a situação em pauta com a diretora, Naira Elisabeth Rosa. Nossa escola existe desde 1939, temos tantas histórias e vida dentro da escola, não são apenas prédios e paredes”, relata a vice-diretora, Sinara Cezar Maria.
Atualmente, o grupo é formado por 45 pessoas, entre ex-alunos e alunos, e ensaia no pavilhão da comunidade aos sábados e nos fins de tarde, com mais de 50 instrumentos, como surdos, tarol e pratos, entre outros. O convite para ex-estudantes foi feito após a falta de integrantes remanescentes das últimas apresentações, em 2019, pois restaram apenas três. Dessa forma, a diretoria encaminhou o convite para antigos participantes e a adesão foi enorme. Além disso, o número final soma com novos alunos que aceitaram o desafio.
“Convidamos os alunos a partir do sexto ano e ‘choveram’ alunos antigos, que estavam com saudades. Decidimos participar para mostrar que a escola tem vida, tem história e não pode ser abandonada deste jeito”, destaca Sinara.
Atual momento
Com os problemas na escola, a sugestão de reativar a banda foi recebida de forma negativa por alguns pais e membros da comunidade escolar. Eles entenderam que a impressão seria de que está tudo bem no educandário. No entanto, segundo Sinara, o objetivo é exatamente o oposto: a ideia é representar o poder e união que a localidade ainda tem. “Óbvio que não estamos felizes com a situação. Mas decidimos participar do desfile para aumentar a autoestima da comunidade escolar e dar uma felicidade para ela, que está abalada na escuridão que trabalhamos atualmente”, cita a vice-diretora.
O grupo é comandado por Lairton Saldanha, que está há mais de 15 anos à frente da banda (em alguns períodos atuou como assistente e, atualmente, é o principal responsável). Em meio a gestos com as mãos, como um bom regente de orquestra, ele determina o ritmo e as melodias marcantes da banda. De acordo com Saldanha, assim como a instituição de ensino, a banda faz parte da história da comunidade de Vila Mariante e, enquanto houver participantes e voluntários, a história não será esquecida. “Mesmo com a situação que vivemos, estamos ensaiando para darmos o nosso melhor”, completa.
Outro que retornou para o projeto foi o ex-estudante Eduardo Hartmann, de 22 anos, dono da responsabilidade de abrir o desfile da banda, levando o surdo mestre em mãos – o instrumento que dá os primeiros toques na apresentação. Foram seis anos no projeto, enquanto ainda era aluno e, agora, relata a importância de mostrar um lado positivo da comunidade. “Mostra a ‘cara’ da escola, o comprometimento dos alunos e professores”, frisa.
Protesto
• A banda deve realizar um protesto durante o desfile, com uma faixa revelando a indignação da comunidade. Contudo, o objetivo não é realizar uma nova manifestação como a realizada em 16 de julho, nas ruas da localidade. A ideia é ser mais contida e o foco voltado para a apresentação da equipe.
• São diversos instrumentos novos, de um projeto realizado em 2019. Então, a participação não terá nenhum gasto para o educandário. De acordo com a vice-diretora, Sinara Cezar Maria, a escola perdeu alunos nos últimos anos, desde a pandemia e a realidade momentânea.
• “Não dá para julgar os pais, compreendemos quem está levando os filhos para outras escolas, é natural e necessário em alguns casos. Sabemos que, quando tudo voltar ao normal, eles retornarão”, argumenta.
Em caso de dúvidas, os professores e diretores estão no prédio ‘mais recente’ da escola, que está interditado por problemas elétricos. A vice-diretoria Sinara Cezar Maria afirma que todos estão à disposição para tirar dúvidas de pais e alunos. “Quer saber como está? Pode ir lá perguntar”, diz.
45
é o atual número de integrantes na banda
“A banda sempre foi motivo de orgulho. O nosso objetivo é mostrar que estamos vivos. Queremos deixar claro que, mesmo sem prédios, ainda existimos e queremos mudanças.”
SINARA CEZAR MARIA
Vice-diretora
Uma história que não pode ser apagada
A fundação da banda data do início dos anos 70. À época, a Escola Coronel Brito estava em atividades no Ginásio Luiz Vasquez da Cunha e, com os instrumentos da antiga escola de samba da localidade – Pirilampos -, começaram os ensaios com quatro ou cinco integrantes. Os poucos membros tocavam com entusiasmo e empolgação. O destaque para a organização da marcha era notável, de acordo com relatos do período.
Durante mais de 30 anos, a banda foi atração não apenas em Venâncio Aires e cidades próximas, como também nos desfiles cívicos em Vila Mariante. Estas atividades, em sua maioria organizadas pela Escola Mariante, contavam com alunos do educandário, bandas vizinhas e, também, autoridades municipais. A Banda Marcial da Escola Mariante chegou, em seu auge, a ter mais de 65 integrantes.
O que é?
Banda marcial é um grupo de músicos instrumentais que, geralmente, apresentam-se ao ar livre e incorporam movimentos corporais – geralmente algum tipo de marcha – à sua apresentação musical. Estes grupos geralmente utilizam duas classes de instrumentos musicais: os metais e a percussão.