Deise Weschenfelder abriu a própria academia em Vila Estância Nova (Foto: Juan Grings)
Deise Weschenfelder abriu a própria academia em Vila Estância Nova (Foto: Juan Grings)

É possível afirmar que a pandemia de Covid-19, de 2020 a 2022, mudou, de maneira significativa, a forma como vivemos e como observamos os nossos hábitos, especialmente quando o assunto é saúde. Não é preciso ir muito longe para se lembrar daquele tio que parou de beber, da prima que não consome mais tanto doce ou do vizinho que começou a ir ao médico com mais frequência. Depois de um período que deixou quase 700 mil mortos só no Brasil, foram muitos os que passaram a priorizar rotinas mais saudáveis.

Para a coordenadora do curso de Educação Física da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Miriam Reckziegel, é exatamente esse o fator que ajuda a explicar por que cada vez mais as pessoas estão procurando se manter ativas, com a prática de exercícios. “A gente observa que, a partir da pandemia, houve um aumento de oferta de academias, de studios, de crossfit e até a prática esportiva, caminhada e corrida. As pessoas observaram que ficaram, naquele período, muitas vezes, mais sedentárias, e isso piorou a saúde.

Inclusive, a gente pode ressaltar que os profissionais da saúde começaram a se dar conta, de uma forma mais expressiva, que as pessoas que tiveram Covid-19 e praticavam atividade física, em geral, hospitalizavam menos, conseguiam reagir melhor”, afirma.

O educador físico José Augusto Kuhn concorda que o pós-pandemia representou uma mudança muito significativa no interesse pelo exercício. Como argumenta, o contexto, mais do que proporcionar aumento na procura, também repercutiu na prioridade dos alunos. “A pandemia intensificou mesmo. A gente tem relatos de pessoas que agora nos procuram porque querem ter mais saúde, mais longevidade, independência. Antes, o público prezava muito pela estética”, compara.

José Augusto Kuhn, do Studio Upgrade, aposta no atendimento semipersonalizado (Foto: Juan Grings)

Proximidade com o aluno

Ao lado do também educador físico Nycolas Fernandes Galante, Kuhn é sócio-proprietário do Studio Upgrade, no Centro de Venâncio Aires. O estabelecimento foi aberto em 2021, já em um momento em que o isolamento estava mais flexível. O studio, diferente de uma academia tradicional, trabalha com horário marcado e um número reduzido de alunos por ‘sessão’. São, no máximo, seis alunos por hora.

Dois dos cerca de 90 matriculados são Henrique Mahl, 33 anos, e Caroline Heinen, 31. Eles contam que frequentam o local há aproximadamente dois anos, depois de tentativas frustradas em academias. “A gente tentou outras academias, muitas vezes, mas sempre paramos. Aqui a gente assume um compromisso. O atendimento é mais próximo, é um diferencial”, argumenta Mahl. Para eles, o objetivo é garantir que a saúde esteja em dia. “Eu quero ter autonomia quando for mais velha”, afirma Caroline.

Henrique e Caroline querem envelhecer com saúde (Foto: Juan Grings)

A proximidade do professor com o aluno é uma vantagem importante, garante o profissional: “A gente trata dessa forma como uma garantia da atenção necessária para o aluno. Em vez de ter um professor para 15, 20 pessoas, que acaba não sendo tão satisfatório para o professor, nem para os alunos, que não conseguem receber a atenção necessária, aqui a gente consegue tratar cada pessoa como um conhecido. A gente sabe exatamente suas dores, suas rotinas, suas dificuldades”.

Acompanhamento de perto

A professora Miriam concorda que, assim como é importante se manter ativo, também é fundamental que a prática tenha acompanhamento profissional. “Eu gosto sempre de mencionar que toda pessoa pode fazer exercício físico, mas tem o exercício certo para a pessoa certa. Então, aí vem a importância de uma avaliação bem criteriosa da pessoa que vai prescrever as atividades e o cuidado de não fazer exercícios que coloquem a pessoa em risco”, adverte.

Por isso, é importante, antes de começar a praticar, conversar com um profissional da área, elencar as prioridades e fazer uma avaliação. O primeiro passo é a anamnésia — um questionário em que são citados hábitos, atividades físicas pregressas, sintomas, doenças, entre outros. A educadora física também recomenda que seja feita uma avaliação da composição corporal e cardiorrespiratória. “Caso o paciente apresente alguns indícios de aumento excessivo de pressão, a gente encaminha ele para uma parte mais técnica, na área médica”, explica.

Academia também no interior

Engana-se quem pensa que academias são uma realidade apenas da cidade. Em Vila Estância Nova, interior de Venâncio Aires, por exemplo, está localizada a Academia da Deise, que, como o nome sugere, é administrado por Deise Weschenfelder, 33 anos, moradora da localidade há mais de uma década.

Formada em Educação Física desde 2015, ela conta que, embora tenha trabalhado em estabelecimentos no Centro, sempre desenvolveu atividades com os moradores do nono distrito. “Eu ia com a mochila nas costas mesmo, passava de casa em casa e fazia alguns exercícios com os moradores”, lembra. O negócio deu certo e, em 2019, ela conseguiu abrir um espaço em anexo à sua casa para receber os alunos.

“Eu atendo aqui muitos produtores rurais. Tem muitas pessoas mais velhas que nunca fizeram atividade física regularmente. Achavam que era bobagem, que não era necessário, porque já passavam o dia inteiro no campo fazendo força”, afirma. No entanto, aos poucos, a sementinha plantada por Deise foi dando frutos e ganhando espaço na comunidade.

Segundo a profissional, a vizinhança começou a perceber os benefícios, como melhoria na qualidade de vida, diminuição das dores e aumento da imunidade contra doenças. Hoje, a educadora física tem cerca de 40 alunos.

Tratamento não medicamentoso

Deise com Marli, que é aluna da academia há cinco anos (Crédito: Arquivo pessoal)

A coordenadora do curso de Educação Física da Unisc, Miriam Reckziegel, defende que a prática regular de exercícios promove não somente a saúde corporal, mas também o que ela chama de saúde total: “A gente entende por saúde total aquela que o indivíduo tem não só ausência de doença, mas também qualidade de vida. O exercício é um tratamento não medicamentoso para todas as doenças”.

Esse é o caso de Marli de Oliveira, 57 anos, agricultora de Linha São João. Frequentadora da Academia da Deise desde 2020, ela não esconde a satisfação com os resultados obtidos nos últimos cinco anos. “Eu comecei a treinar porque não conseguia me levantar do sofá sem a ajuda das minhas mãos. Eu tinha muita dor no nervo ciático e nos joelhos, onde fiz uma cirurgia em 2015. Hoje já tenho ótimos resultados. Treino três vezes na semana, não tenho dores no corpo, consigo me movimentar melhor, sentar, levantar e ajudar meu neto. A minha qualidade de vida melhorou muito”, exalta.