Casa do Imigrante de Venâncio forma 43 alunos no curso de Português

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“Oi, boa tarde! Meu nome é Fouad Mahmoud Mohammed Naser, moro em Venâncio Aires. Eu cheguei aqui no Brasil dia 2 de agosto de 2017. Eu tenho parentes morando aqui e me casei com a filha deles. Eu vim para o Brasil para casar com ela, procurar liberdade e ter uma vida de qualidade. Sem guerras. Para realizar o meu sonho de virar um empresário.” O relato é do árabe Fouad, 33 anos. Aqui, ele realizou o sonho de ser um empresário e foi no curso de Língua Portuguesa da Casa do Imigrante que ele teve a oportunidade de aprimorar o idioma para conseguir se comunicar com amigos e clientes.

“Meu nome é Williamnis Salazar Franchi, mas há três anos faço uso do meu segundo nome, Glenda, por ser de mais fácil pronúncia. Sou venezuelana, cheguei em São Paulo com uma amiga e uma mala cheia de roupas, esperanças e ilusões. Meses depois a família da minha amiga veio para o Brasil e eu decidi vir para o Sul para encontrar um parente. Com apoio da Casa do Imigrante consegui tirar meus documentos e meu primeiro emprego com carteira assinada.” A fala é da venezuelana Glenda, 23 anos, formada em Comunicação Social no seu país, mas que aqui não consegue exercer a profissão. Ela aperfeiçoou o seu português no curso, com a possibilidade de tirar dúvidas com a professora.

Estes são dois dos 43 alunos que participaram do curso de Língua Portuguesa oferecido pela Casa do Imigrante, em parceria com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e a Sicredi Vale do Rio Pardo, através do Fundo Social. De acordo com uma das servidoras da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Social e bolsista do Grupo de Trabalho em Apoio a Refugiados e Imigrantes (Gtari) – projeto de extensão da Unisc -, Grichele Alexandra de Freitas da Rosa, cada estudante chegou no curso com um nível de português. “Alguns já falavam bem, outros não sabiam ler e escrever, então aqui aperfeiçoamos conforme a necessidade de cada um.”

Com o recurso de R$ 10 mil da Sicredi, a professora da Unisc Idiomas, Vera Maria Assmann, foi contratada para garantir o aprendizado dos alunos, além da instituição de ensino também fornecer os materiais necessários para o estudo, como cadernos, canetas e lápis. As aulas ocorriam nas segundas e terças à noite, na Casa do Imigrante. “A experiência como professora neste curso foi um pouco desafiadora devido aos diferentes idiomas e níveis de português dos alunos, mas também muito gratificante e enriquecedora”, afirma.

Materiais fornecidos pela Unisc para os estudantes.

Ela explica que no início de todas as aulas eram compartilhados trava-línguas, parlendas ou expressões idiomáticas, e nelas eram trabalhadas a audição, leitura, fala e escrita. “Os alunos foram muito participativos e encorajados a contribuir com exemplos ou situações pessoais para enriquecer as aulas. Com isso, tivemos uma troca muito rica de experiências.”

  • Para treinar o português, Fouad e Glenda gravaram um vídeo especial para o jornal Folha do Mate, contando um pouco mais sobre a participação da dupla no curso.

Demanda

Segundo a coordenadora do Grupo de Trabalho em Apoio a Refugiados e Imigrantes (Gtari), Mariana Dalalana Corbellini, a vontade de ter um curso de português para os imigrantes residentes em Venâncio surgiu em 2020, quando a Prefeitura procurou a universidade, mas na ocasião, devido à pandemia e à falta de recursos, não foi possível tirar do papel. Em 2022, com a parceria da Sicredi, a iniciativa se viabilizou. Então, a Prefeitura entrou com a estrutura física, a Sicredi com os recursos de custeio – o Gtari foi articulador e idealizador do curso – e a Unisc Idiomas com a realização e participação da professora e estagiários que atuaram diretamente com os alunos.

Mariana defende o interesse da Unisc para a continuação da parceria para os próximos anos, mas para isso, há necessidade de disponibilização de recursos. “Pensamos que podemos fazer novos cursos, ou fazer uma continuação com os alunos já participantes para avançar no conhecimento. Sabemos da importância dessa oferta, mas dependemos também da viabilidade financeira”, reforça.

A coordenadora destaca que uma das primeiras necessidades dos imigrantes quando chegam em um território desconhecido é a comunicação para o acesso aos serviços públicos, a inserção no mercado de trabalho e a comunicação na sociedade como um todo. “O curso é curto, tem 30 horas. Sabemos que o imigrante não sairá fluente, mas é importante para repassar informações e conhecimentos básicos.” Durante as aulas, os alunos aprenderam a gramática, que é importante para aqueles que desejam fazer a prova do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras), parte do processo para naturalização como brasileiros.

Aulas do curso ocorreram na Casa do Imigrante.

Saiba mais

• O curso teve início no dia 10 de setembro e contou com 12 encontros, que serão encerrados nesta terça-feira, 13.

• Esta é a segunda turma que participa, mas a primeira que, com a parceria entre Unisc e Sicredi, com uma professora da Unisc Idiomas, consegue certificar os alunos de acordo com portaria do Ministério da Educação (MEC).

• A formatura da turma está marcada para o dia 22 de dezembro, a partir das 19h30min no auditório da Unisc campus Venâncio Aires.

Projeções para 2023

1 Para o próximo ano, segundo o secretário de Habitação e Desenvolvimento Social, Ricardo Landim, o planejamento para atividades com os imigrantes está garantido até o fim do primeiro semestre de 2023. “É até onde temos recursos garantidos, e depois disso ainda não posso prever porque não sabemos a intenção do Governo Federal em continuar, já que estamos em uma fase de transição”, destaca.

2 Para o período dos primeiros seis meses do próximo ano está garantida a manutenção do plano de acolhimento aos imigrantes, com atendimento e acompanhamento familiar. Além disso, está prevista a realização de outros cursos como gastronomia, português para imigrantes e preparação para o primeiro emprego.

3 Expandindo as atividades, está prevista a realização de encontros de informação para alunos da rede municipal de Ensino Fundamental com a temática migração, capacitação de servidores públicos para atendimento de imigrantes e encontros do grupo técnico de trabalho intersetorial com políticas de saúde, educação e assistência social.

A chance de aprender e aperfeiçoar o português

Foi nas aulas de português que Fouad e Glenda aprenderam a escrever os trechos trazidos no início desta matéria. Glenda está no Brasil há três anos e meio e em Venâncio há quase dois. A jovem já tinha facilidade com a comunicação em português, já que tem convivência com famílias brasileiras, mas segundo ela, o curso foi essencial para tirar as dúvidas. A venezuelana soube do curso através de uma amiga que também participa.

Já Fouad vivia uma realidade diferente. Com uma loja no Centro de Venâncio, a dificuldade do empresário era de conseguir se comunicar com os clientes e realizar vendas, pois não sabia nada da Língua Portuguesa. “Geralmente, usava os gestos e mímica para me comunicar. Agora já melhorei muito”, afirma. A dificuldade maior, segundo ele, que tem um certo conhecimento de inglês, é de não se enganar na escrita e na fala, misturando os idiomas. O árabe está no Brasil e em Venâncio desde 2017 e tem comércio há três anos e meio. “O curso foi um divisor de águas, o que faltava para mim.”

O haitiano Felder Charles, 43 anos, que é professor de francês em Venâncio desde 2018, também aproveitou a oportunidade para desenvolver o português. Há oito anos no país e desde 2017 no município, Charles tinha mais facilidade na escrita, e o objetivo ao entrar para o curso foi de desenvolver a fala.

Fouad, Glenda e Felder estarão formados no fim do mês. (Foto: Luana Schweikart)


Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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