Mesmo situado a cerca de cinco quilômetros de distância do leito do rio Taquari, o cemitério da localidade de Linha Picada Nova, em Vila Estância Nova, no interior de Venâncio Aires, não passou ileso pela histórica enchente de maio deste ano. Como conta o presidente da Comunidade Imaculada Conceição, Alexandre Santos, 46 anos, a água cobriu completamente o cemitério, que atualmente tem cerca de 400 pessoas enterradas, e boa parte da capela velatória e da igreja, que ficam no mesmo terreno, chegando a pouco mais de dois metros de altura.
Ainda que o cenário naquele momento fosse preocupante, Santos pontua que os estragos não foram tão grandes, se comparados às imagens registradas em outros pontos, como em Vila Mariante. “Graças a Deus não arrancou nenhum túmulo. Tivemos apenas danos pequenos. Algumas cabeceiras de túmulos que já estavam soltas ou que tinham se degradado com o tempo foram arrancadas e caíram, as flores que estavam também foram levadas.”
O maior desafio, contudo, foi lidar com a lama que ficou acumulada especialmente no fundo do cemitério. O presidente lembra que o primeiro mês foi de abandono, porque o espaço ficou inacessível devido ao lodo. Além disso, os líderes da comunidade também precisavam priorizar a reconstrução das suas residências e do seu ‘ganha-pão’ – seja ele na produção rural ou em empreendimentos locais, uma vez que boa parte das construções da região foram invadidas pela água.
Reconstrução do Cemitério de Picada Nova
Com o passar do tempo e restabelecimento da normalidade, a comunidade voltou os esforços para a recuperação do local. Embora o serviço braçal tenha sido executado, na sua grande maioria, pelos moradores da região, a Imaculada Conceição também contou com auxílio externo, como de um grupo do pequeno município catarinense de Guatambu, de 8,4 mil habitantes, quase na divisa com o Rio Grande do Sul.
“Eles trouxeram R$ 4.750, que usamos para a recuperação dos espaços, e brinquedos, materiais escolares e utensílios domésticos, que distribuímos para a comunidade. Foi uma grande ajuda para nós”, exaltou Alexandre Santos. Além da assistência do estado vizinho, a Mitra Diocesana de Santa Cruz do Sul também enviou R$ 8,1 mil para pintura, recuperação da parte elétrica e portas.
No cemitério, com o tempo seco, foi possível remover os montes de terra que se formaram e colocar brita em torno dos túmulos – serviço que foi executado ao longo desta semana, considerando o alto fluxo de pessoas que o Dia de Finados deve proporcionar.
Uma das pessoas que deve visitar o cemitério neste feriado é Arnildo da Silva, 56, tesoureiro da comunidade há 6 anos. Ele tem seus dois avôs maternos enterrados no local. “A gente sempre visita. Inclusive, eu vou ficar aqui no sábado. Eu e o Xande [Alexandre Santos, presidente da comunidade] ficamos aqui sempre para receber o pessoal que vem”, afirma.