Uma refeição para aproximadamente 30 pessoas acabou descartada na noite desta sexta-feira, 10, em Venâncio Aires. Isso porque o molho de tomate usado para fazer um pirão e complementar um molho com carne de frango estava com uma desagradável surpresa. Dentro de um sachê de 1,7 quilo de molho de tomate da marca Fugini, havia um corpo estranho. “Já tínhamos usado parte e, quando foi para tirar o restante, ‘trancou’ no pacote. Aí vimos que tinha aquela coisa, parecendo um couro de algum bicho”, relatou a agente comunitária de saúde, Fernanda Raimundo, 33 anos.
Ela estava nesse encontro com mais pessoas, no bairro Gressler. “A janta precisou ir fora, porque quando todos viram, ninguém teve coragem de comer.” Ainda conforme Fernanda, o sachê em questão tem validade até setembro de 2023 e faz parte do lote 26710363.
Ainda no fim de semana, Paulo Gollmann, morador do bairro Battisti, procurou a Folha do Mate para dizer que também encontrou uma espécie de ‘couro’ de animal. A embalagem vence em setembro de 2023, sendo do lote 2511946151.
Esses dois casos se somam a outros três, que chegaram ao conhecimento da reportagem no fim de dezembro, quando moradores dos bairros Macedo e Coronel Brito e de Linha Antão, também encontraram corpos estranhos dentro de sachês de molho de tomate da marca Fugini. Na época, a Folha do Mate contatou a empresa, mas não teve resposta. Essa semana foi feita outra tentativa de contato, mas novamente não houve retorno.
Diante das situações e de que episódios semelhantes aconteceram em outras cidades gaúchas, a Folha procurou ouvir a Polícia Civil, a Vigilância Sanitária e o Procon, para entender a possibilidade de amparo no caso de reclamações ou pedido de ressarcimentos, bem como saber sobre o comportamento de consumidores em supermercados após as notícias em relação ao produto.
PROCON
Segundo a coordenadora do Procon de Venâncio Aires, Fernanda Bauermann, algumas pessoas já entraram em contato sobre o assunto, mas apenas duas reclamações foram formalizadas: em junho de 2021 e em dezembro de 2022. “Passamos a notificação para a Fugini pedindo esclarecimentos e em, ambas as situações, nos mandaram a mesma resposta. Também pedimos que retirassem o lote de circulação, mas não foi feito. Então oriento a pessoa que foi lesionada, que também procure a Polícia e encaminhe para Vigilância para fazer análise, para se tomar uma providência, porque eles oferecem o estorno do valor pago ou a troca do produto, somente isso.” Os contatos diretos são pelo 0800-702-4337 ou e-mail [email protected].
VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Segundo o coordenador da Vigilância Sanitária e Ambiental de Venâncio, Gabriel Alves, ninguém procurou a vigilância. Ele diz ainda que não é possível determinar a proibição da comercialização, pois isso cabe à Vigilância Sanitária no município onde fica a fábrica (Monte Alto, em São Paulo). “Só podemos fazer a coleta dos produtos, mandar para análise e comunicar a vigilância responsável, mas, para isso, é necessário que os consumidores nos informem, o que não aconteceu em nenhuma das vezes. Essa marca tem reclamações em outros locais, parece que já estava sendo apurado junto ao fabricante”, informou Alves.
POLÍCIA CIVIL
O delegado Vinícius Lourenço de Assunção, responsável pela Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), explica que, caso a pessoa procure a delegacia, é feito o registro e depois se encaminha ao Procon. “Se a pessoa vier, fazemos o registro e encaminhamos ao Procon. Ou a Defensoria Pública ou um advogado, para procurar a esfera cível e buscar eventual reparação.” Assunção diz ainda que, para que tenha crime configurado, teria que ter o dolo, que é a intenção de fazer mal. “Acho pouco crível que essa empresa tenha colocado propositadamente algum item estranho. E, se ocorresse uma investigação, ela não seria em Venâncio. Vai ocorrer onde houve a contaminação. Aqui aconteceu só a venda do produto.”
Em publicação nas redes sociais, Fugini explica formação de bolor nos sachês
A Folha do Mate tentou novo contato direto com a Fugini, que tem sua sede em Monte Alto, em São Paulo. No entanto, não teve resposta. Numa rápida busca na internet, pessoas de outras regiões do estado compartilharam situações semelhantes nas redes sociais e, nos comentários, a empresa se manifestou através do seu perfil no Facebook. O texto diz o seguinte:
“A embalagem sachê é industrializada automaticamente desde sua formação, enchimento e fechamento da mesma. O que pode vir a ocorrer, eventualmente, é um micro furo na embalagem (pode ocorrer por manuseio incorreto em transporte e/ou armazenamento nos pontos de distribuição), onde há a contaminação do produto pelo ar do meio ambiente, e consequentemente, o surgimento de bolor. Ressaltamos que o bolor é formado devido a entrada de ar, ocasionada por micro furo na embalagem (imperceptível a olho nu). Os bolores possuem variações de formatos, cores e tamanhos, entre eles aqueles denominados “biofilme”, que pode ter a aparência retratada. É característica da colônia de fungo do tomate apresentar deformidades como o exemplo da foto enviada. Lamentamos que tenham tido essa experiência com nosso produto, e ficamos gratos pela possibilidade de prestarmos esclarecimentos e solicitamos que entre em contato e nos relate o ocorrido através do link https://www.fugini.com.br/canal…/central-de-relacionamento.”
Procura se manteve nos mercados
Depois que as notícias ficaram mais frequentes sobre o assunto, nas rodas de conversa pela cidade há quem já diga que não comprou mais molho de tomate ou trocou de marca. A reportagem contatou alguns supermercados de Venâncio Aires, para saber se, de fato, diminuiu a procura pelo produto nas prateleiras.
Roderlei Lenz, comprador do Super Lenz: “Não tivemos nenhuma informação sobre isso, de que eles possam ter tido algum tipo de notificação. A comercialização segue normal. Sempre foi uma empresa séria, em todas essas décadas que compramos os produtos. Quanto à procura, não percebemos diferença e o item continua saindo normalmente.”
Maquiele Cimarosti, gerente do Super Dobom: “A procura se manteve e nossa reposição é sempre conforme a demanda. É uma marca consolidada no mercado, tem muitos itens, mas acredito que, se continuarem acontecendo essas situações, acho que vai impactar na escolha e os consumidores vão procurar outras marcas.”
Adriano Steffens, comprador do Supermercado Schlosser: “Para nós a procura continua normal. E sobre esses casos, na minha opinião, já que trabalhei muitos anos em indústria, toda essa parte de embalamento tem filtros, não sei como seria possível entrar um objeto ou corpo estranho. Provavelmente são coisas que acontecem depois, com um micro furo e aí se estraga o produto com alguma contaminação por bactéria.”
Pelo estado
• Desde o início do ano, também há relatos de situações semelhantes em outras cidades gaúchas, como Viamão, Porto Alegre, São Leopoldo, Sapiranga, Dois Irmãos e Santa Cruz do Sul. Em Viamão, foi aberto inquérito policial para apurar os registros.