Cuidadora é indiciada pela PC de Venâncio Aires pela morte de amiga e de companheiro

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Os delegados Paulo César Schirrmann e Vinícius Lourenço de Assunção concluíram e encaminharam ao Poder Judiciário, na sexta-feira, 30, um inquérito policial que apura a autoria e motivação de duas mortes. A indiciada é uma mulher de 62 anos, que se diz cuidadora e enfermeira. Mas para os agentes, ela pode ser autora de outras duas mortes, todas usando o mesmo ‘modus operandi’ e com a mesma finalidade: uma superdose de medicamentos com a intenção de obter bens das vítimas.

O caso é conhecido entre os policiais como o ‘inquérito da Viúva Negra’. Ele veio à tona no dia 27 de abril de 2021, quando uma moradora de Vila Santo Antônio, no interior de Mato Leitão, veio a Venâncio Aires e desapareceu. O corpo desta mulher, que tinha 51 anos na época, foi localizado três dias depois, boiando nas águas do arroio Castelhano, no Corredor dos Macacos, em Linha Olavo Bilac.

Assim que se iniciaram as investigações, os agentes souberam que a moradora veio a Venâncio visitar uma conhecida, que residia no Beco do Laçaço, na Vila Rica. Havia câmeras de segurança na residência, mas os policiais não encontraram imagens gravadas. A moradora foi ouvida na Delegacia de Polícia e confirmou que a vítima, que era sua amiga, esteve em sua casa, mas referiu que logo depois ela saiu.

As investigações foram aprofundadas e os policiais descobriram que naquele dia 27, já à noite, a moradora da Vila Rica saiu de casa dirigindo a sua caminhonete e parecia carregar algo no compartimento de carga. Para os policiais, era o corpo da moradora de Vila Santo Antônio, que foi desovado no Castelhano.

O corpo foi encaminhado à necrópsia e os peritos apuraram que a vítima havia ingerido uma dose (não foi possível apurar a quantidade) do medicamento Diazepam. Até aí tudo bem, não fosse o fato da vítima nunca ter usado este medicamento. “Por outro lado, descobrimos que a suspeita do crime costumava pegar este medicamento em uma farmácia e que, na manhã daquele dia 27, ela também comprou cápsulas vazias na farmácia “, explicou o comissário Paulo Ullmann.

Para a PC, a ‘Viúva Negra’ produziu uma superdose de Diazepam, colocou o medicamento dentro de uma cápsula e deu para a vítima tomar, sem que ela soubesse, fazendo com que adormecesse. O medicamento foi ministrado à vítima, que durante a visita à amiga teria se queixado de dores. “Ela também se passava por enfermeira”, disse o inspetor Cassiano Dal Ongaro, que atuou no caso.

Questionada, a suspeita negou ter fornecido uma dose excessiva de medicamentos, mas confirmou que ministrou um remédio para a amiga. Por isso, há suspeitas de que a moradora de Vila Santo Antônio não estava morta quando foi jogada no Castelhano.

Havia indícios de envolvimento da cuidadora no crime, quando os agentes deram mais um passo importante. Segundo Ullmann, eles descobriram que a moradora do interior de Mato Leitão veio a Venâncio para falar com a suspeita, referente a uma área de terras, em Mato Leitão, que a ‘Viúva Negra’ alegava ter comprado do marido da vítima. Porém, o homem já havia falecido.

De acordo com Ullmann, a moradora da Vila Rica forjou um documento, onde tentava provar que havia pago R$ 8 mil pela área de terras que ela alegava ser sua. “Mas está claro que ela falsificou o documento”, garantiu o comissário. E esta disputa pela área teria motivado a ‘Viúva Negra’ a dar uma dose excessiva de medicamentos para a amiga.

Reabertura

O esclarecimento desta morte motivou os agentes do Setor de Investigações (SI) a irem mais além. Eles sabiam que três anos antes da morte desta mulher, o então companheiro da moradora da Vila Rica morreu misteriosamente. Ele foi encontrado sem vida na noite do dia 30 de agosto de 2018, na propriedade onde vivia, em Mato Leitão. Na época, o caso foi tratado como suicídio, já que a única testemunha, a agora indiciada, alegou que seu companheiro havia ingerido veneno.

Ullmann e os agentes do SI apuraram que há alguns meses o casal não morava junto. A mulher veio para Venâncio e o companheiro, que na época tinha 47 anos e trabalhava em Mato Leitão, ficou morando naquele município. “Já não estavam se dando bem”, recordou Ullmann.

As investigações mostraram que naquele 30 de agosto a vítima chegou em casa por volta das 16h e viu que sua companheira estava lá. Por volta das 19h, aos gritos, a mulher pediu socorro a um vizinho, dizendo que seu companheiro tinha tomado veneno e estava morto.

Em depoimento, a mulher relatou que seu companheiro estava nos fundos da casa, que havia tomado remédios e não conseguia caminhar. Ela afirmou que o auxiliou, o levou para o quarto e lhe deu um chá. O laudo de necrópsia apontou o uso do pesticida Furadan, hoje com venda proibida no Rio Grande do Sul. O mesmo laudo também apontava o uso do medicamento Diazepam.

Para os agentes, a suspeita dopou o companheiro com Diazepan e depois deu veneno para ele tomar. “Descobrimos que naquele dia ela comprou uma garrafa com suco de laranja. Provavelmente a vítima sentiria o cheiro do pesticida se ela o desse puro. Por isso, misturou a um copo de suco”, acredita o comissário.

Outro ponto importante da investigação foi a descoberta de uma área de terras que a vítima doou para sua companheira, ainda em vida. “Era a única herança que ele ganhou dos pais. Mas por motivos não esclarecidos, ela (indiciada) fez ele passar para o nome dela, em forma de doação”. resumiu Ullmann.

Mais mortes

No decorrer das investigações, os agentes descobriram que a suspeita conheceu seu companheiro em 2010, quando era cuidadora dos pais dele, que residiam em Vila Santo Antônio, no interior de Mato Leitão. A moradora da Vila Rica não cobrou dinheiro para cuidar os idosos. “Ficou acertado que ela receberia uma área de terras, depois que os idosos morressem”, mencionou Ullmann.

Os policiais descobriram que o futuro sogro da indiciada faleceu por causas normais e a esposa dele, cerca de dois meses depois, também de causas naturais. “Não tem como provarmos, mas acreditamos que ela possa ter sido a responsável pela morte destes dois idosos”, disse o comissário.



Alvaro Pegoraro

Alvaro Pegoraro

Atua na redação do jornal Folha do Mate desde 1990, sendo responsável pela editoria de polícia. Participa diariamente no programa Chimarrão com Notícias, com intervenções na área da segurança pública e trânsito.

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