Em Vila Santa Emília, no interior de Venâncio Aires, o jovem casal William Gabriel Stülp, 24 anos, e Ana Carolini Satler, 22 anos, administra uma plantação com 100 mil pés de tabaco. Além disso, o pai de William, Marcelo Daniel Stülp, trabalha com frangos de corte. A propriedade da família está localizada em uma área de bastante aclive.
Uma das preocupações dos agricultores é com os cuidados com o solo, visto que, há alguns anos, a lavoura que hoje é usada para o cultivo do tabaco servia como pastagem para vacas leiteiras. “Por conta da erosão que as vacas causaram durante aquele tempo, agora precisamos ter um cuidado especial com o solo para obter um resultado positivo na safra”, explica William.
Como também possuem um aviário na propriedade, outra alternativa adotada por eles é o uso da cama de aviário, que é depositada na lavoura para ajudar na recuperação do solo. “Quando os aviários estão vazios, usamos a cama como adubo orgânico na lavoura. Nosso tabaco vem melhorando a cada ano, o resultado vem sendo positivo”, conta.
A novidade no trabalho deste ano é a utilização da crotalária, que foi plantada em janeiro. Ana explica que o casal recebeu, por meio de um projeto da Prefeitura em 2023, calcário e sementes de crotalária para auxiliar nos cuidados com o solo. “Embora tenha demorado um pouco até chegar à propriedade, é importante o incentivo e a preocupação com a qualidade do solo. Essa é a nossa matéria-prima, precisamos cuidar bem da terra”, explica.
A expectativa de William agora é que, após a derrubada da crotalária, a palhada que permanece no solo traga resultados positivos para a produção. “A crotalária libera nitrogênio e a palha que fica é muito positiva para a lavoura. É o primeiro ano que optamos por plantar a crotalária. Conforme for o resultado, pretendemos repetir a prática nas próximas safras”, afirma.
Cobertura de solo
O chefe do escritório da Emater/RS-Ascar de Venâncio Aires, Vicente Fin, explica que existem formas de proteção do solo com coberturas verdes de diferentes espécies, tanto de inverno quanto de verão. As mais comuns no inverno são aveia, azevém, centeio e triticale.
Já entre as leguminosas, destacam-se a ervilha forrageira e o nabo forrageiro. Para cobertura verde de verão, são utilizadas espécies como crotalária e feijão-de-porco, entre outras.
No caso da propriedade da família Stülp, em Vila Santa Emília, utiliza-se a crotalária juncea, uma espécie que atinge grande altura e pode produzir de 10 a 12 toneladas de matéria seca por hectare, podendo chegar a 20 toneladas em condições favoráveis. “Quando, por exemplo, se fala em 10 toneladas de matéria seca, é tudo o que se busca para, em 10 anos, recompor a matéria orgânica necessária para ter um solo minimamente adequado”, explica Fin.
O chefe da Emater também comenta sobre a função da crotalária na incorporação de nitrogênio ao solo. A planta pode adicionar até 120 quilogramas de nitrogênio por hectare. Ele ressalta que, além do bom trabalho de proteção e cobertura do solo que já vem sendo realizado por meio de programas com a participação dos governos estadual e municipal, é necessário também ter atenção com outros fatores, como corrigir o pH do solo. “O solo vai responder ao uso de cobertura verde e palhada para melhoria da matéria orgânica, desde que haja outros componentes associados”, pontua.
Projeto de recuperação do solo contemplará 30 agricultores de Venâncio
Venâncio Aires será contemplado com R$ 94.170,47 da Consulta Popular 2024/25. Os recursos serão utilizados em um projeto voltado à conservação do solo. O Município ainda aguarda a liberação do valor.
Conforme o secretário de Desenvolvimento Rural, Ricardo Landim, a escolha do projeto de conservação do solo ocorreu porque a produção agrícola sofreu muito com as cheias, enchentes e enxurradas no último ano, que acabam levando os nutrientes da terra embora. “Cuidar e repor os nutrientes no solo faz com que a nossa produtividade aumente”, explica Landim.
Nesta iniciativa, 30 agricultores serão beneficiados com a utilização de calcário dolomítico, sementes de crotalária e milheto para a recuperação do solo. O calcário dolomítico é composto principalmente de carbonato de cálcio e magnésio, sendo uma fonte importante de nutrientes essenciais para as plantas. Já a crotalária é utilizada como adubação verde, enquanto o milheto ajuda a reciclar nutrientes, reduzir plantas daninhas e armazenar água no solo.
Além disso, Landim destaca que a secretaria possui um projeto de entrega de calcário para agricultores. A partir de análises de solo, quando se verifica a necessidade de repor nutrientes, a secretaria contribui com a oferta de adubo.
“Mais rentabilidade, quantidade e qualidade do tabaco”
O Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) em parceria com a Embrapa Clima Temperado, lançou durante o mês passado, na 23ª Expoagro Afubra, o Projeto Solo Protegido. Com duração de cinco anos, o projeto terá as etapas de diagnóstico da qualidade do solo, recomendação dos planos de intervenção, intervenção e monitoramento.
Um dos profissionais que atua na execução do trabalho é o pesquisador da Embrapa, Adilson Luis Bamberg. Graduado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Pelotas e mestre em Agronomia, Bamberg explica que o projeto inicia com a seleção de 33 produtores que farão parte do projeto-piloto nos três estados do Sul. O principal objetivo é melhorar a qualidade do tabaco brasileiro.
“Acreditamos em uma melhor rentabilidade, na melhoria da qualidade de vida do produtor, em maior produtividade e em melhor qualidade do tabaco. Para que o projeto tenha sucesso, também é fundamental a colaboração dos produtores, que já demonstraram engajamento e vontade de melhorar a qualidade do solo em suas propriedades”, pontua.
Ele, que também é doutor em Agronomia, comenta que a ideia do projeto surgiu a partir da identificação de problemas já existentes no solo, os quais se agravaram após o evento climático extremo ocorrido em maio do ano passado. Serão implementados planos de intervenção que podem impactar positivamente a saúde do solo. Após essa etapa, os resultados serão monitorados. “O prazo para execução é de cinco anos, e sabemos que os efeitos demoram a aparecer. É um processo lento, estamos apenas no começo”, comenta.
Além dele, demais especialistas da Embrapa atuarão na coleta de amostras para diagnosticar a qualidade física, química e biológica do solo.“Fizemos uma seleção com base em um banco de dados, a partir das informações coletadas pelas empresas associadas, para auxiliar na tomada de decisão em áreas que necessitam de correções no solo. Analisamos informações de 400 produtores, dos quais 33 serão selecionados”, explica Bamberg.
