Quem já passou pela Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Gressler talvez tenha notado as pichações na academia de saúde, nos fundos do local. No sábado passado, os desenhos e palavrões deram lugar ao colorido do grafite. A ideia surgiu no ano passado, com a professora Eliane Turcato, que desenvolve o projeto ‘Divas do SUS’ no espaço e, há algumas semanas, o secretário municipal de Saúde, Tiago Quintana, convidou a Organização Não Governamental (ONG) Consciência e Atitude (Coat) para a ação – a Prefeitura chegou a pintar o local duas vezes, mas ele foi novamente vandalizado.
A ação reuniu 11 artistas e o local foi repaginado. Participaram Berma MC e Celo, de Santa Cruz do Sul; Doug, de Porto Alegre; Gin, de Lajeado; e o Solar, grupo de Bogotá, na Colômbia – a equipe está em Lajeado, em intercâmbio na Universidade do Vale do Taquari (Univates). De Venâncio Aires marcaram presença Welliton Dente, Dardo, Lari, Alana e Sap Peralta. A organização foi do produtor cultura e coordenador da Coat, Djalma da Silva. “Após diversas tentativas sem sucesso, desta vez a Prefeitura resolveu buscar a linguagem da cultura e da arte para solucionar o problema”, comenta.
O grafiteiro Gin, de Lajeado, foi o mais experiente a participar do evento e destacou a importância de ajudar os jovens a desenvolverem talentos como hobby e, também, com visão profissionalizante, além de ajudá-los a entender os valores da cultura do hip hop e das ruas. De acordo com Silva, muitas vezes a diferença entre um adolescente se tornar pichador ou grafiteiro está apenas em uma oportunidade, orientação ou conversa. “Queremos que esses adolescentes entendam que esse espaço também é deles e que precisamos, juntos, preservar e utilizar de modo que não fira o direito do próximo”, frisa.
Pichação X grafite
Segundo Djalma da Silva, a pichação vem da mesma vertente cultural e artística do grafite, embora a pichação seja crime e, muitas vezes, invada o espaço de forma violenta e ofensiva. “Acima disso, o picho é uma maneira de comunicação, e ele nos revela que naquele local existem problemas, principalmente com adolescentes. Claramente ali existe revolta e rebeldia, mas acima disso, existe uma molecada desvirtuada, mal instruída. Esses adolescentes acabam ofendendo suas próprias mães, avós e pessoas do seu convívio, já que o local é utilizado por essas pessoas”, relata. Ele afirma que já foram colocadas câmeras no local e a Polícia circula com certa frequência, mas nada disso tem dado resultado. “É preciso utilizar uma linguagem que seja compreendida por todos, nesse caso a linguagem da arte de rua.”
“Passar tinta por sobre o picho não resolve nada, apenas tira dos olhos aquilo que não queremos ver, mas o picho continua lá, escondido, mas no mesmo lugar. Da mesma forma, seria utilizar maneiras de coibir na força ou na lei, a circulação desses adolescentes no local. É preciso tratar o problema.”
DJALMA DA SILVA
Coordenador da ação