É de conhecimento geral que os vírus circulam com mais intensidade nos meses frios do ano e, por isso, também cresce neste período a procura por atendimento médico e aumentam as internações hospitalares. Ainda que seja uma situação sazonal, sempre há preocupação para a possibilidade de agravamento dos casos e é preciso ter atenção com aqueles vírus (além da Covid, que segue circulando) que mais impactam na saúde humana: as influenzas A e B – as chamadas gripes.
Em Venâncio Aires, desde o início de abril, quando começaram a aparecer mais pessoas gripadas, já são 136 casos – 42 de gripe A e 94 do tipo B. Os números são da Vigilância Epidemiológica. Como a doença não é de notificação compulsória, ou seja, a comunicação não é obrigatória à autoridade de saúde, são notificados apenas casos de internados no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), cujos exames vão para o Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen), e por exames particulares.
Também não há detalhamento sobre as idades dos casos confirmados. “Esse exame não tem pelo SUS. Então entram para a contagem as notificações de quem interna e pelo que os laboratórios particulares estão informando. Para nós, interessa saber o que está circulando, até para orientar as pessoas”, destacou a enfermeira da Vigilância Epidemiológica de Venâncios, Carla Lili Müller. Dos 42 casos de gripe A informados pela Vigilância, 40 foram feitos em laboratórios privados e dois no Lacen (sendo um sequenciado H1N1). Do tipo B, também apenas dois foram para o Lacen e 92 são exames particulares. Os que passaram pelo Laboratório Central do Estado são de pessoas que internaram no HSSM.
Vacina
Com essa particularidade em relação às notificações e mesmo que a maioria talvez não seja testada, estima-se que o número de infectados no período é maior e um ‘termômetro’ acaba sendo a rede básica. “Houve um grande aumento na procura de pessoas com sintomas gripais nas últimas semanas, seja de crianças, adolescentes ou adultos, muito relacionado à própria mudança do clima. Infelizmente, ainda é baixa a adesão à vacinação”, comentou o coordenador das unidades de saúde, Alan Flores da Rosa.
A campanha de imunização contra a influenza segue até o dia 31 de maio e, por enquanto, ainda é tímida a procura dos venâncio-airenses. Até quinta-feira, 11, o município chegou a 8.988 doses, o que representa apenas 30% do público-alvo. Vale lembrar que a vacina contra a influenza previne contra os vírus A (H1N1 e H3N2) e B. Ela pode ser aplicada junto com qualquer outra do Programa Nacional de Imunizações, inclusive as da Covid-19.
Opinião médica
O médico pneumologista André Puglia reforçou a importância da vacinação. Ele entende que, por aqui, a campanha deveria iniciar mais cedo. “No Rio Grande do Sul, o ideal seria a partir da metade de março, para que quando tivessem as mudanças climáticas, o pessoal já estivesse com a defesa. Mas, infelizmente, existe a ideia de que tem que começar em todo Brasil ao mesmo tempo.”
Ele destaca que essa época de mudança de clima é exatamente o período em que as viroses se disseminam mais, principalmente porque os ambientes ficam mais fechados e o frio faz com que as defesas (em termos de mucosa nasal e da garganta) fiquem reduzidas e se tornem mais suscetíveis aos vírus. André Puglia lembrou que a vacina não é importante apenas para os grupos de risco e pessoas sem comorbidades também devem se vacinar. “As pessoas saudáveis correm menos risco de terem complicações, mas também devem se vacinar, porque convivem com outros familiares que podem ter comorbidades e estão expostos. A influenza A, em 2009, por exemplo, atacou grávidas, no caso mulheres jovens. Então ninguém está livre de ter uma apresentação grave, mesmo sendo saudável.”
Tipos de vírus
• Segundo a enfermeira da Vigilância Epidemiológica, Carla Lili Müller, para os humanos, os dois tipos de vírus que mais impactam a saúde são o A e o B, que são responsáveis por epidemias sazonais. Os tipos A são os únicos da gripe com potencial de causar pandemias globais.
• Conforme Carla, o tipo B infecta exclusivamente os seres humanos, mas o A é encontrado também em animais, como suínos, cavalos e aves. “Eles ainda são classificados em subtipos de acordo com as combinações de duas proteínas diferentes: a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). Entre os subtipos do A, atualmente o H1N1 e o H3N2 circulam de maneira sazonal e infectam humanos.”
• A enfermeira explica que os vírus causam um quadro clínico semelhante, têm a mesma forma de transmissão, de diagnóstico e também o mesmo tratamento, além da mesma forma de prevenção. “Ambas podem ser prevenidas através da vacinação.”
Alta transmissibilidade entre crianças
A pediatra Vívian Wunderlich revela que, da maioria dos pacientes que atendeu no consultório nas últimas semanas, e para os quais pediu a testagem, vieram positivo para influenzas, tanto A quanto B. Isso inclui de bebês até os maiores, com cerca de 10 anos. A médica explicou que, felizmente, os casos não têm evoluído para quadros graves e conseguem se recuperar em casa, mas entre os pequenos existe um grande potencial de transmissão. “Tem uma alta transmissibilidade, mais ainda em crianças. Vemos muitas que precisam se ausentar da escola. Outro impacto é a descompensação com doenças de base, como quadros de bronquiolite, por exemplo. Além disso, às vezes, pode ter uma associação por infecção bacteriana secundária, devido à baixa imunidade.”
De forma geral, Vívian disse que os sintomas variam e nem todos são presentes ao mesmo tempo. Os mais comuns são febre, dor no corpo, coriza e tosse, sendo que em alguns casos apresentam problemas gastrointestinais, como diarreia e vômito. Além da vacinação em dia, a pediatra orienta para os cuidados básicos de higiene, principalmente de lavar as mãos com frequência.