Depois do excesso de chuva e enchente em 2024, expectativa é que Venâncio Aires supere 130 toneladas de mel em 2025.
Se a enchente histórica e o excesso de chuva de 2024 impactaram a produção de mel em Venâncio Aires, em 2025 a sensação de amargor dá lugar à doçura – tomando a liberdade do trocadilho. Isso porque a expectativa é de uma safra bem mais volumosa neste ano. Segundo projeção da Emater local, o município deve colher cerca de 134 toneladas de mel, quantidade 48% maior que as 90 toneladas da temporada anterior.
“A expectativa é de ficar em cerca de 7,2 mil caixas de abelha [colmeias] em 2025 e o esperado é de 134 toneladas. Isso se não tivermos intempéries, tiver floradas normais e que se façam os devidos acompanhamentos das colmeias”, observa o chefe da Emater, Vicente Fin. Segundo o engenheiro agrônomo, Venâncio fechou o ano passado em cerca de 5,9 mil caixas. “Foram perdidas quase 2 mil colmeias em três enchentes [duas em 2023 e a de 2024], então reduziu bastante a presença das abelhas, mas muitas caixas já foram restabelecidas.”
Recuperação
Ao encontro da expectativa de recuperação da produção de mel da Emater, está a visão de Vilson e Cléria Schlosser, que mantêm uma agroindústria na divisa de Linha Cipó com Vila Deodoro, na região serrana de Venâncio. Na Casa do Mel Serrano, já foram beneficiados 7,5 toneladas de mel em 2025, da colheita de março e abril (florada do eucalipto e da aroeira). E, para a próxima ‘leva’, em novembro (florada das frutíferas e árvores nativas), o casal espera por mais 5 toneladas. “Em 2024 a quebra chegou a 70% e colhemos apenas 2,5 toneladas. Para este ano já conseguimos recuperar as colmeias perdidas no ano passado e queremos aumentar a produção. Se o clima continuar colaborando, tem tudo para ser uma ótima safra, maior até que a de 2022, quando colhemos 10 toneladas”, relata Vilson.
Enquanto isso, o foco é com o manejo das 300 colmeias de abelhas com ferrão que os Schlosser têm espalhados em localidades da região Serrana. “Agora, no inverno, o trabalho é cuidar com invasores, como as formigas, e ajudar no trato”, explica Cléria. Segundo a apicultora, se fornecem suplementos para manter o enxame forte: uma farinha proteica misturada com mel e uma ração especial com vários nutrientes.
Venda do mel
Vilson e Cléria Schlosser são associados da Cooperativa de Produtores de Venâncio Aires (Cooprova) e integram a Associação Venâncio-airense de Apicultores (AVA). O mel produzido pela agroindústria Casa do Mel Serrano vai para mercados e feiras. Desde 2024, ela tem o selo do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-POA), que lhe permite comercializar para todo Brasil.
Ainda sobre venda do mel venâncio-airense, o chefe da Emater, Vicente Fin, destaca que, além das agroindústrias, há produtores que vendem para entrepostos de Santa Catarina. “Cerca de 40% vão para feiras e programas oficiais, 55% para entrepostos de Santa Catarina e 5% venda direta.”
Valores no VBPA
Em 2024, o mel movimentou R$ 246,2 mil dentro do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA) de Venâncio Aires. Em 2023, as vendas chegaram a R$ 389 mil. Segundo Vicente Fin, os últimos dois anos tiveram quebra por causa da chuva e enchentes e, geralmente, os valores giram na casa dos R$ 600 mil anuais dentro do VBPA.
86 – é o número de famílias comerciais que trabalham com mel em Venâncio.
Polinização
Vicente Fin diz que, nos meses de frios, é fundamental que os apicultores forneçam alimento à base de proteína para manter o enxame forte. “É importante que os produtores tenham em mente que, quanto mais forte o enxame sair desse período de inverno, melhor. E, à medida que começa a esquentar, revisar se não tem pragas e doenças atacando.”
O chefe da Emater também chama atenção para a importância ambiental das abelhas para as culturas agrícolas de forma geral. “São 60% das culturas, desde frutas a grãos, que dependem da polinização de algum tipo de inseto ou abelhas. A grande maioria que faz essa polinização são as abelhas, com ou sem ferrão. Elas têm uma importância vital.”
Mel para agregar renda
Na última semana, houve a entrega de 70 caixas de abelha para sete produtores associados à Cooperativa de Produtores de Venâncio Aires (Cooprova). Segundo a presidente, Mônica Moraes, foram 10 caixas para cada apicultor. Os beneficiados tiveram perdas com as chuvas de 2024 e receberam as caixas através de uma parceria com a Sicredi, com recursos do Fundo Social da cooperativa financeira.
Entre os contemplados, está Sandro Volnir Dornelles, 48 anos, que começou a criar abelhas em 2024. “Venâncio teve uma perda muito grande em abelhas, assim como todo o Rio Grande do Sul. Sabemos que elas são muito importantes para a polinização”, avalia o agricultor, que cultiva hortaliças e frutas em Linha 17 de Junho. As 10 caixas que recebeu, ele estima que nos próximos dias já vão atrair abelhas. “Em 2025 o clima está colaborando e espero que a apicultura se recupere. No meu caso, a produção de mel é uma forma de seguir diversificando e agregar mais renda.”