Dois moradores de Venâncio Aires estão entre os mais de 100 gaúchos que foram presos e são investigados por envolvimento em protestos que resultaram na depredação das sedes dos três poderes em Brasília, dia 8 de janeiro. Os atos de vandalismo provocaram destruição no Congresso, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF).
A Folha do Mate apurou que se trata de Gláucia Nadine Pimentel, 39 anos, e Rafael Rodrigo Zarth, 21. Os nomes de todos os investigados constam em lista pública no site da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal.
De volta a Venâncio, o homem e a mulher participaram de uma audiência na sexta, 3, no Fórum da cidade, com a defensora pública, Luciana Artus Schneider, o juiz João Francisco Goulart Borges e o promotor Pedro Rui da Fontoura Porto. Segundo Luciana, o encontro serviu para o juiz reforçar todas as condições já determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para que alguns investigados pudessem retornar aos municípios onde moram. Entre as medidas para a liberação, o uso de tornozeleiras eletrônicas (instaladas pela Polícia Federal ainda em Brasília), apresentação semanal ao Fórum, proibição do uso de redes sociais e proibição de contato com outros envolvidos. Os passaportes também foram apreendidos.
“Mesmo com a tornozeleira eletrônica, não se trata de uma prisão domiciliar. Eles podem seguir com a vida deles, desde que estejam dentro da zona de monitoramento estabelecida, o que inclui a casa, o trabalho e outros locais que frequentam e que foram estabelecidos”, explica a defensora. Luciana destaca ainda que as investigações sobre as manifestações e de crimes contra a União estão a cargo do Ministério Público Federal com auxílio da Polícia Federal (PF). “Não tem um prazo para as investigações, mas de quem está preso, a tendência é andar mais rápido. E cada processo é individual.”
Gaúchos
De acordo com dados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape), divulgados dia 31 de janeiro, são mais de 1,3 mil pessoas presas em flagrante após os atos provocados em Brasília. Do total, são 105 gaúchos e 46 deles foram liberados mediante o uso de tornozeleira. Os outros 59 seguem detidos no Distrito Federal, cumprindo prisão preventiva determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“Os atos de depredação foram causados pela esquerda”, afirma investigada
Gláucia Nadine Pimentel tem 39 anos e trabalha como secretária. No dia 8 de janeiro, em Brasília, ela conta que estava num acampamento com outros moradores da região, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Entendemos que não houve um esclarecimento à população sobre o processo eleitoral e consideramos essa eleição ilícita. Estávamos num movimento pacífico e queríamos exercer nossa cidadania.”
Conforme Gláucia, quando o ônibus em que ela estava se aproximou da Praça dos Três Poderes, a destruição das sedes dos poderes já tinha acontecido. “Nós acompanhamos do ônibus tudo que estava acontecendo. Não me envolvi em nenhum desses atos. A depredação foi um ato da esquerda, dos apoiadores do presidente Lula, que fizeram uma armadilha para os bolsonaristas”, disparou.

A investigada relata que foi presa e ficou quase dois dias na Polícia Federal. Depois, foram mais 12 dias na Colmeia, como é chamada a Penitenciária Feminina do Distrito Federal. A volta para Venâncio Aires aconteceu no dia 22 de janeiro, já usando uma tornozeleira eletrônica. Em Brasília, ela prestou depoimento à Polícia Federal e à Polícia Penal. Sobre os crimes que pautam as investigações, Gláucia é categórica. “Estou sendo investigada por crimes que não cometi.” Entre as situações pontuadas nos papéis que estão com ela, são citados, por exemplo, atos terroristas, associação criminosa, ameaça e incitação ao crime.
Ao encontro da fala de Gláucia, o industriário Rafael Rodrigo Zarth, 21 anos, também afirma que os atos de vandalismo foram provocados por apoiadores de Lula. “O PT ‘comprou’ aquele pessoal para fazer isso.” Zarth relatou que também esteve no acampamento com bolsonaristas, mas não saiu do local até a segunda-feira, 9 de janeiro. “Minha turma ficou o tempo todo lá. Nem chegamos perto de onde tudo aconteceu. Daí a polícia chegou, disse que nos levaria para a rodoviária, mas acabamos na Polícia Federal. Até criança tinha junto.” O jovem conta ainda que ficou dois dias na PF e 10 dias no Complexo Penitenciário da Papuda, retornando para Venâncio Aires dia 23 de janeiro. “Não é justo o que fizeram com a gente e espero que se resolva logo.”