No mês de novembro ocorreu a Conferência das Partes (COP) da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, em Baku, no Azerbaijão. Uma das participantes foi a doutoranda em Educação pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Carine Josiéle Wendland, 27 anos, que é também a delegada da Federação Luterana Mundial (FLM). Ela é membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), coordenadora da Juventude no Sínodo Centro-Campanha Sul e faz parte do Fórum de Justiça Climática da América Latina e Caribe que atualmente conta com 12 países. Carine realiza o doutorado com período sanduíche – quando realiza parte dele em uma universidade no exterior – na Universad Nacional Autónoma de México.
O evento, em sua 29ª edição, é uma reunião anual da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) e tem o objetivo de debater medidas para diminuir a emissão de gases do efeito estufa, encontrar soluções para problemas ambientais e negociar acordos. O principal deles, segundo Carine, foi estabelecer um novo marco financeiro para enfrentar os desafios das mudanças climáticas, principalmente no financiamento necessário para que países em desenvolvimento possam mitigar e se adaptar aos impactos climáticos.
Participaram da COP29 193 países da ONU e cinco territórios, e a conferência foi considerada a ‘COP do financiamento’ pelo foco dado às questões de financiamento climático. A meta anterior era de US$ 100 bilhões anuais, valor prometido pelos países desenvolvidos para os em desenvolvimento e afetados climáticos pelas ações dos países ricos, que foi substituída por uma Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG). A exigência era de que o valor chegasse a trilhões, o necessário para os países em desenvolvimento se adaptarem à emergência climática.
Como resultado da COP a nova meta prevê um aumento gradual nos fluxos financeiros globais destinados à mitigação e à adaptação climática de US$ 300 bilhões anuais até 2035. “Ainda permanecem as lacunas em relação à clareza sobre fontes e mecanismos de financiamento, bem como na garantia de apoio efetivo a comunidades vulneráveis já afetadas pela emergência climática”, afirma Carine.
Segunda participação
Esta foi a segunda participação presencial da santa-cruzense em uma COP. Entre os principais motivos que levam à preocupação climática, Carine elenca diversos deles, como a Antártica verde, deserto inundado, Amazônia em chamas e o país coberto de fumaça, Sul imerso em água e secas extensas. Além disso, este deve ser o primeiro ano que o mundo sofre com aquecimento global acima de 1,5 graus Celsius. “Os eventos extremos da emergência climática nos mostram que algo precisa ser feito. Estamos em um ponto máximo”, completa.
Carine, que é moradora de Vera Cruz e presidente do Conselho de Cultura do Município, espera que o pós-COP seja de ações. “Ainda não se sabe bem ao certo quem pagará a conta do ano mais quente do século, mas espero que além do acordo de 300 bilhões de dólares, tenha sido uma COP que vai além das palavras vazias e das promessas e chegue a uma estrutura de financiamento sustentável e justa, com ações coerentes e justiça socioambiental para todas as formas de vida.”
A doutoranda acredita que a luta pela justiça climática e o cuidado com o meio ambiente cresce com as pessoas como uma planta. “Eu sou do interior, tive o privilégio de crescer em meio ao verde, claro, vendo uma mineradora de pedras ao lado da minha casa em busca do ‘desenvolvimento’, mas buscando seguir sempre fazendo alguma diferença.” Ela cita também os pais Célia e Lorenz Wendland, que acompanhou cuidando e cultivando a terra na produção de alimentos agroecológicos.
Ela inclusive destaca exemplos de Vera Cruz, que é um dos 35 municípios do país com 100% de água potável e 564 espécies vegetais de 117 distintas famílias botânicas, devido ao Programa Protetor das Águas. “Nossa região é espaço de soluções climáticas, apresentando inúmeros exemplos de adaptação à emergência climática”, reforça.
Como detentor da maior biodiversidade do planeta e nona maior economia do mundo, o Brasil sediará pela primeira vez a conferência em 2025. A COP 30 será realizada entre 10 e 21 de novembro em Belém, no Pará.
*Com informações de release
“Que a COP30 seja uma oportunidade histórica para o Brasil reafirmar seu papel de liderança nas negociações sobre emergência climática e sustentabilidade global. Que sejamos uma solução e que na COP30 sejamos o maior em mudanças.”
CARINE JOSIÉLE WENDLAND
Doutoranda da Unisc que participou da COP29
- 66 mil – Foi o número de pessoas credenciadas na COP29. O Brasil esteve com a segunda maior delegação, com 1.914 pessoas credenciadas, depois do anfitrião Azerbaijão, com 2.229 pessoas.