Seguir a profissão dos pais nem sempre é o sonho dos filhos. Seja pelos desafios, as dificuldades ou até mesmo pela falta de interesse pela área. E a história de Enoir e Leonardo de Almeida, de 53 e 25 anos, respectivamente, está mais próxima desta realidade do que daquela história de sonho de criança de seguir os passos do pai. O acaso e a oportunidade foram o que tornaram pai e filho companheiros no ramo da pintura – ainda que um costume estar sempre nas alturas e outro com os pés firmes no chão.
Quase 35 anos dedicados à profissão
Morador do bairro Santa Tecla há mais de 45 anos, Enoir de Almeida trabalha no ramo de pintura desde abril de 1991. No entanto, ainda que já tivesse interesse pelo assunto, a decisão de interromper a busca por empregos em empresas e se dedicar a pintura veio pela timidez. “Tinha vergonha de pedir emprego. Chegava a esperar na fila e, na hora da entrevista, abandonava. Foi quando um conhecido me chamou para a pintura”, relembra.
Depois de um acidente de trânsito, Enoir precisou ficar afastado por 10 meses e, no retorno, ‘perdeu’ a parceria e passou a apostar no negócio próprio. Com a calculadora na mão, encarou a nota etapa na vida “com nervosismo e intercalando com serviços em outras empresas”.
Atualmente, a Almeida Pinturas tem entre oito e 10 funcionários e um deles é mais do que especial, o filho Leonardo. “Nunca precisei oferecer meus serviços, sempre teve alguém que me indicou pelo bom trabalho”, comemora Enoir.
“Nunca pensei em trabalhar”
A frase é dita com leveza e sinceridade pelo filho Leonardo de Almeida, de 25 anos. Formado em técnico em Informática pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) de Venâncio Aires, o jovem brinca que o objetivo nunca foi trabalhar junto ao pai e que a decisão ocorreu pela proximidade, facilidade e por conciliar um esporte de adrenalina que praticava com o retorno financeiro.
Em 2019, após um ‘ano sabático’, como ele mesmo define, surgiu a oportunidade de entrar no ramo. Inicialmente, por indicação do pai, começou em serviços mais básicos, como acabamentos e, na sequência, iniciaram os desafios mais perigosos. Neste momento, por exemplo, ele é o responsável pelos serviços em altura, quando uniu o amor pelo rapel com o trabalho.
“Fui escoteiro e gosto de aventura. Com o amor pelo rapel e a experiência como alpinista, passei a trabalhar pendurado nos prédios. E descobri que é uma área que falta mão de obra, então paga muito bem”, afirma, entusiasmado.
Sentimento de proteção aflora em momentos de risco
Apesar da animação do filho, seu Enoir não esconde o medo de vê-lo ‘nas alturas’. Ainda que tenha sido um dos grandes incentivadores de transformar o hobby de Leonardo em profissão, Enoir não perde o sentimento paterno de ver o filho em perigo. “Claro, sempre dá um medo. Uma vez precisei segurar o equipamento para ele subir e, mesmo sem necessidade, meus braços ficaram tensos de ansiedade”, complementa.
“Jamais imaginei que ele fosse trabalhar comigo. Sempre achei que ele iria para algum escritório. Mas hoje tenho muito orgulho, ele me ajuda e resolve muitos problemas na empresa.”
ENOIR DE ALMEIDA
Pai e pintor
Agora, os dois administram a empresa juntos e consideram que o perfeccionismo está no sangue. Com trabalhos distintos, dificilmente estão juntos na mesma obra, mas não negam que o desafio é algo que lhes chama atenção. “Nunca dizemos não para uma obra, exceto quando é realmente impossível. Encaramos os desafios, com capricho e determinação”, afirma Leonardo.
Contudo, Leonardo segue na saga de se aposentar cedo. O jovem brinca que mantém investimentos, para que, com 30 anos, já possa estar aposentado. “Fazer o dinheiro render por mim”, destaca, gerando gargalhadas do pai.
“Foi tudo conveniente. Uniu o nome da família, o alpinismo e o conhecimento. Então, se for para ganhar dinheiro com isso, melhor ainda.”
LEONARDO DE ALMEIDA
Filho e pintor
Entre os trabalhos realizados pelos dois estão a reforma do segundo e terceiro pisos do Museu de Venâncio Aires, a pintura das lixeiras da Praça Coronel Thomaz Pereira e os acabamentos da nova escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), no bairro Aviação. “O sucesso da empresa se dá pelos colabores e as parcerias com arquitetos também”, reitera Enoir.