Empresas, escolas e Afubra unidas pelo descarte correto do óleo saturado

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A preocupação ambiental com o desperdício de água já é de conhecimento da maioria da população. No entanto, outro ponto que merece atenção é o descarte do óleo saturado, que quando feito de forma incorreta, como o derramamento na pia da cozinha, pode poluir a água potável, entupir as tubulações e dificultar o tratamento da rede de esgoto.

Recentemente, durante a Semana do Meio Ambiente, a Prefeitura de Venâncio Aires reconheceu cinco empresas e uma comunidade com o selo Estabelecimento Verde da campanha ‘De olho no óleo: uma receita sustentável’. O projeto envolve estabelecimentos, escolas e a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), com o Programa de Coleta de Óleo Saturado, uma das ações do Verde é Vida. A parceria é firmada entre as empresas e escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, que recebem o óleo saturado e o repassam para a Afubra. Com isso, os educandários saem ganhando, pois cada litro de óleo é revertido em R$ 1, que são gastos em vale-compras na loja. A entidade, por fim, faz a filtragem e o óleo é transformado em biocombustível.

Na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Vó Helma, a comunidade escolar é presente quando o assunto é ajudar. Neste projeto, a Emei do bairro Brands tem parceria com a empresa Onça Pintada e também recebe óleo saturado descartado pelas famílias dos estudantes.

A diretora Janete Cândida Sulzbach Bilo enfatiza que o recolhimento de óleo já acontecia na escola antes do envolvimento com a empresa e a Afubra, e o material era vendido para um morador da proximidade, Darci da Rosa, que fabrica sabão. Agora com o repasse da empresa de cerca de 60 litros ao mês, o educandário participa do Verde é Vida. Janete ressalta que a parceria com a Onça Pintada foi intermediada por uma colega e a empresa se mostrou bastante disposta e acessível em contribuir. A intenção agora é de buscar novas empresas parceiras para aumentar a rede de recolhimento de óleo. “Não é só pelo valor, que nos ajuda a adquirir itens que faltam na escola, mas principalmente pelo bem ao meio ambiente.”

Com os alunos, a vice-diretora Nelsione Gregor, reforça que são feitas muitas atividades com o objetivo de os conscientizar para o cuidado com o meio ambiente, como o plantio de flores e a limpeza de terrenos. “Faz uma grande diferença na vida dos pequenos e na importância pelas coisas pequenas, que juntas, se tornam algo muito maior”, destaca Nelsione.

Os prejuízos do descarte incorreto

O coordenador do projeto Verde é Vida da Afubra, Luis Carlos da Silva, explica que a importância de destinar corretamento o óleo saturado é principalmente devido aos mananciais de água, além de outros problemas que podem ser desencadeados. Ele destaca que o óleo contribui para o entupimento das tubulações do município, dificultado a passagem de água nos dias de chuva; dificulta o tratamento de esgoto e também da água potável, quando é necessário o uso de produtos químicos para filtrar o resíduo. Além disso, o óleo descartado no ralo da pia propicia a procriação de ratos e baratas, que causam diversas doenças.

Assim como jogar o óleo no ralo da pia, o descarte em terrenos, diretamente no solo, também é prejudicial. “O óleo criará uma película que, em períodos de chuva, serão levados aos rios, e principalmente aos lençóis freáticos mais rasos, que posteriormente viram nascentes, e novamente contamina a água potável.”

  • 25 mil litros – é a quantidade de água que pode ser contaminada a cada um litro de óleo saturado descartado de forma incorreta.

Ação das empresas: parceria que dá certo

Uma das empresas que recebeu o selo Estabelecimento Verde foi o restaurante Sabor e Arte, que repassa o óleo para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Dois Irmãos. As proprietárias Solange Maria Etges Hübner e Greice Andréa Hübner explicam que a parceria surgiu através da professora e orientadora Adriana Soares Etges, que leva os galões e garrafas de óleo para a escola. No restaurante, são aproximadamente sete litros trocados e coados toda semana. Solange ressalta que o descarte correto sempre foi uma das preocupações do local, que existe há 15 anos.

Além do óleo, o empreendimento também se organiza para contribuir com outras ações em benefício do meio ambiente, como a separação do lixo, lacres, tampas plásticas, garrafas e jornais, além do uso da composteira. “Fazemos a nossa parte e os colaboradores já sabem, tudo é separado e destinado. É só deixar limpo que alguém vem buscar ou entregamos em um local de recolhimento”, afirma Solange, que, antes de ter o restaurante trabalhava como professora e entende e dissemina a importância dessas iniciativas para o futuro da sociedade.

Greice e Solange fazem questão de destinar o óleo corretamente. O restaurante delas foi um dos que recebeu o selo Estabelecimento Verde. (Foto: Luana Schweikart)

Participação da comunidade pelo bem do meio ambiente

Fernanda Roselaine da Rosa Wolschick, 40 anos, é um dos exemplos a serem seguidos, que contribui com o recolhimento de óleo para entregar às escolas. A iniciativa dela surgiu quando o filho Raul, hoje com 5 anos, frequentava a Emei Vó Helma. “A professora enviou um aviso sobre o recolhimento pois estavam vendendo a um senhor que comprava para fabricar sabão, e com o valor das vendas iriam comprar novos brinquedos às crianças”, relembra. Ela se empenhou em ajudar e o hábito permaneceu. Desde então, já foram mais de 25 litros doados para a escola. “É uma maneira de contribuir com o meio ambiente, com a pessoa que produz o sabão e com as crianças da escola.”

Quando o filho saiu da Emei para continuar os estudos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Bento Gonçalves, ela continuou a guardar o óleo para destinar à instituição do bairro Brands e conscientizou os vizinhos que também passaram a ajudar. Em contato com a diretora Janete, recebeu um cartaz para colocar na autoeletromecânica Munique, em Vila Estância Nova, empresa da família que agora é um ponto de recolhimento de óleo saturado. O local inclusive, também será reconhecido com o selo Estabelecimento Verde. Assim, quem precisar, pode levar garrafas de óleo na mecânica que Fernanda se responsabiliza em encaminhar para a escola.

Fernanda e o filho Raul com as arrecadações de óleo e tampinhas plásticas recebidas no estabelecimento da família. (Foto: Arquivo pessoal)

“Fico muito realizada em poder ajudar, pois, no fim, todos ganham. Quem puder ajudar fará o bem para o meio ambiente e principalmente para as crianças.”
FERNANDA ROSELAINE DA ROSA WOLSCHICK
Auxiliar administrativa

Coletas do projeto

Durante o ano, são feitas três coletas pelo programa de recolhimento de óleo do Verde é Vida. A próxima deve ser em setembro, junto com a programação de aniversário de 40 anos da Afubra. O coordenador do projeto, Luis Carlos da Silva, explica que, além de entregar o óleo para as escolas, as pessoas também podem levar o óleo em garrafas até a Afubra e indicarem uma instituição para ser beneficiada. “É uma ação ambiental completa, se faz a destinação correta e escolas ainda são bonificadas”, salienta.



Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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