Enem: a prova que mistura medo e esperança

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Todos que se prepararam, em algum momento, para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), já conhecem aquela sensação de ‘frio na barriga’ às vésperas da prova. Tocar no assunto é sinônimo de ansiedade e, ao mesmo tempo, de esperança para o desejado futuro em uma universidade. Neste meio estão os jovens que se organizam para o Enem 2022, que será realizado nos dias 13 e 20 de novembro.

Entre eles, o estudante do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Bom Jesus, Christian Loeblein, de 17 anos. O guri está se preparando para o terceiro Enem, contudo, destaca que é a primeira vez ‘para valer’ e que os demais anos foram para testar e, também, de aprendizados. “O primeiro foi o mais difícil, pois tudo era novo para mim. O segundo já tinha uma noção maior e, agora, é a prova de verdade”, destaca.

O sonho é passar em uma universidade federal, no curso de Agronomia. O desejo vem a partir do trabalho no campo de sua família, principalmente, seus avós. Além disso, o jovem relata que é uma área em crescimento, promissora e que sempre precisa de adaptação e novos profissionais.

Quem também se prepara para o exame é a aluna do terceirão da Escola Estadual de Ensino Médio Cônego Albino Juchem (CAJ), Amanda Tirelli Schwarzbold, de 17 anos. Assim como Christian, ela está indo para uma nova experiência com o Enem, dessa vez, a segunda prova. A primeira participação foi um teste, segundo ela, para entender o funcionamento do exame. Neste ano, o objetivo é conseguir uma nota significativamente boa e entrar no curso de Medicina Veterinária.

Rotina

Amanda explica que, além de realizar um curso de redação desde março, também faz simulados de questões, o que dá, em média, duas horas e trinta minutos de estudo por dia. “Minha maior dificuldade hoje é a perda do foco, pois é algo que me atrapalha muito. Seja por cansaço ou por que me distraio com outras coisas, é difícil parar e me dedicar exclusivamente aos cadernos”, pontua.

Já Christian diz que, no Colégio Bom Jesus, o primeiro e segundo anos são de aprendizado e conteúdos, enquanto o terceiro é de aprofundamento e revisão. “Estamos terminando as apostilas e iniciando o superintensivo, que é um livro focado no Enem. A preparação está bem intensa, com muitos exercícios, além de aulas em casa”, conta. Segundo ele, a média de estudos por dia é de uma hora e trinta minutos.

Medos

O jovem relata que suas matérias preferidas são História e Geografia, além de Matemática e Espanhol. As maiores dificuldades são em Química, Física e Biologia, seus maiores medos na prova. No entanto, a grande dificuldade está ligada em conciliar o estudo com a expectativa pela prova pois, faltando menos de um mês para o tão temido dia, é impossível não estar aflito. “O mais difícil é controlar a ansiedade para não afetar o trabalho. Mas é uma questão bem pessoal, consigo me organizar para estudar, mas ainda existe o medo por não saber o que vai cair, sabemos a base, mas as questões são inéditas”, diz Christian.

Para Amanda, a matéria mais complicada é Português, enquanto a Matemática é a preferida. Porém, o maior medo é em relação ao futuro pois, de acordo com ela, não conseguir atingir a nota desejada e os objetivos esperados seria um baque enorme.
Christian enfatiza que, mesmo com apenas 17 anos, o problema é colocar na cabeça que a prova ‘define o seu futuro’. “O conteúdo não me assusta, pois estudo diariamente para estar pronto. Mas uma falha na prova, um dia ruim, é o que me deixa preocupado.”

“Os simulados são muito importantes para ter uma noção prática de como funciona a prova e o tempo.”
CHRISTIAN LOEBLEIN
Aluno do Bom Jesus

As preocupações de um professor de Terceirão

O professor de Ciências da Natureza da EEEM Cônego Albino Juchem (CAJ), João Carlos Tavares, leciona há mais de 30 anos e, apenas com o Enem, desenvolve aulas há cerca de 12 anos. De acordo com ele, a sensação em sala de aula é de desmotivação dos alunos, principalmente, após o retorno da pandemia, onde os estudantes ficaram dois anos com aulas remotas, em modalidade Ensino a Distância (EAD).

Tavares explica que essa desmotivação é confirmada pela falta de procura pela prova. Por exemplo, o CAJ disponibiliza um horário extra de aulas no projeto ‘Trilha Formativa: da Escola Pública ao sonho do Ensino Superior’ e, mesmo sendo gratuito e no turno da noite, apenas 20 alunos – de um total de 150 para os quais é oferecido – participam. “Tem alunos que ‘pularam’ do 9º ano para o 3º Ano do Médio, e isso criou uma desfasagem de aprendizado enorme. É como se eles tivessem desaprendido temas simples, como funções básicas de Matemática”, conta.

Outro ponto destacado pelo professor é a evasão escolar. Durante o período pandêmico, diversos alunos abandonaram a escola por problemas, desde questões familiares até financeiras. E, o ano de 2022, é uma espécie de retomada à normalidade, contudo, com uma perda irreparável destes anos. “Os alunos não acreditam que podem conseguir uma vaga em universidades e, por isso, acabam fazendo o Enem por fazer”, declara.

João Tavares tem mais de 10 anos de experiência abordando o Enem em sala de aula. (Foto: Leonardo Pereira)

O projeto do CAJ é um de muitos realizados em escolas públicas com o intuito de reduzir a defasagem de ensino desenvolvida nos últimos anos. O objetivo é proporcionar aos estudantes de Terceirão o aprofundamento dos estudos e objetos de conhecimento, visando melhores resultados no Enem e, posteriormente, vagas em universidades com bolsas como ProUni e Sisu. O programa conta com oito professores nas áreas de Ciências Humanas, Linguagens, Ciências da Natureza e Matemática.

Em sala de aula

Apesar da falta de interesse dos alunos em algum momento, Tavares utiliza questões de Enem durante suas provas e, também, gosta de trabalhar os temas mais abordados para, ao mínimo, apresentar uma noção básica aos estudantes. “É importante pois eles conseguem responder as questões fáceis. Sempre brinco com eles, pelo menos as fáceis vocês vão acertar”, explica.

Em turmas de terceiro ano, o professor tenta conectar seus conteúdos aos utilizados frequentemente no Enem, mas não pode abandonar aqueles obrigatórios previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Temos que fazer abordagens relativas ao Enem. Questões ambientais, socioambientais, relação homem e natureza, que são temas recorrentes na prova”, observa.



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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