Na casa de um dos investigados foram apreendidos R$ 176 mil (Foto: Alvaro Pegoraro)
Na casa de um dos investigados foram apreendidos R$ 176 mil (Foto: Alvaro Pegoraro)

Seguem no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul os quatro suspeitos de envolvimento em um esquema que movimentava cerca de R$ 100 mil por dia. Eles foram presos na quinta-feira, 30, em uma ação desencadeada pela Polícia Civil (PC) de Venâncio Aires e a Polícia Federal (PF). Dois empresários foram encontrados em suas casas, em Venâncio, um em sua residência de luxo, em Arroio do Sal, e um em Minas Gerais. Um quinto indivíduo que também teve a prisão preventiva decretada, está foragido.

As investigações da PC e PF revelam que desde janeiro de 2019 o mentor do bando trazia bebidas da Argentina e do Uruguai, sem o recolhimento dos impostos. O esquema começou modesto, com a intenção de fornecer vodca, uísque, vinho e outras bebidas de alto custo para eventos e pequenos estabelecimentos comerciais. Logo o chefe da organização criminosa viu que poderia lucrar muito dinheiro e a venda começou a ser feita diretamente para grandes empresas.

Como havia necessidade de ‘esquentar’ os altos valores recebidos e por não poder ter conta bancária, o mentor colocou pessoas das suas relações no esquema e, com o tempo, passou a usar notas frias e até carretas terceirizadas para que as bebidas chegassem até os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

“Não sei quanto cada um recebia. Mas boa parte do dinheiro da venda do descaminho ingressava na conta dos empresários e era usado para a compra de veículos e para a construção de imóveis.”

MAURO LIMA SILVEIRA – Delegado da Polícia Federal

O esquema

Nomes não foram revelados, mas a reportagem apurou que o chefe do esquema já residiu em Venâncio, onde tem negócios, passou por Cruzeiro do Sul e atualmente residia em um condomínio de luxo, em Lajeado. Com auxílio do indivíduo que está foragido – e que tem apartamento no bairro São Francisco Xavier -, eles começaram a trazer bebidas do Uruguai e da Argentina. “Ele fazia a logística do bando, pois anteriormente já foi motorista de contrabandistas de cigarro. Ele conhece as rotas”, revelou o inspetor Cassiano Dal Ongaro, um dos responsáveis pelas investigações.

Como o negócio prosperou, o chefe do bando colocou no esquema um conhecido que atua no ramo da construção civil. Ele passou a receber depósitos feitos pelos empresários de Minas, São Paulo e Rio, mas o montante era tão alto que, segundo a PF, não conseguia lavar sozinho todo o dinheiro. Foi então que um empresário do ramo de veículos passou a receber valores para ‘esquentar’.

Mas também não foi suficiente e um indivíduo que já foi investigado pelo contrabando de cigarros e que atualmente é representante de uma empresa que fabrica cigarros no Brasil, entrou no esquema. Ele passou a receber depósitos e como movimenta altas somas em Real – por conta da venda de cigarros -, facilitava o repasse de dinheiro para o chefe da organização.

De acordo com o inspetor Cassiano, há outros empresários, onde foram cumpridos mandados de busca e apreensão, que entraram no esquema para esquentar os valores provenientes da venda das bebidas. “Tem muita gente envolvida e agora, através dos materiais apreendidos, a PF buscará provas para indiciá-los”.

Sociedade informal

Ontem à tarde, o delegado da PF, Mauro Lima Silveira, que conduz o inquérito policial, disse acreditar que os empresários do ramo da construção civil e de veículos tinham alguma sociedade ‘informal’ com o principal alvo. “Eles recebiam dinheiro na conta de pessoas próximas, deles e da empresa deles, proveniente da venda das bebidas para catapultar o negócio deles. E um dos motivos das buscas é confirmar que o dinheiro entrava na conta das empresas, era misturado com dinheiro lícito e boa quantia ficava com eles e boa parte retornava para o cabeça do esquema”.

Como não houve pedido para encerramento das atividades, as empresas envolvidas seguem funcionando.

“Afora os presos, há empresários que tiveram bens bloqueados e que cumprirão medidas cautelares, como prisão domiciliar, por exemplo. E todos responderão por organização criminosa, entre outros crimes.”

CASSIANO DAL ONGARO – Inspetor de Polícia