Estelionato foi o crime mais praticado no ano passado no Rio Grande do Sul

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Os policiais que atuam na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Venâncio, o plantão 24h da Polícia Civil, já conhecem esta história. Sempre que uma pessoa se aproxima da sala de atendimento de cabeça baixa, receosa, envergonhada, começa a gaguejar e demora a conseguir se explicar é ‘batata’: ela foi vítima de um golpe. E se pede para falar em particular, caiu no golpe do nudes.

Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul revelam que entre janeiro e novembro do ano passado (os números de dezembro ainda não foram computados), 78.835 pessoas procuraram um órgão policial para declarar que foram vítimas de estelionato. Os tipos de golpes são os mais variados e passam do antigo, mas sempre atual conto do bilhete premiado, ao eficiente golpe do nudes, sem esquecer das falsas vendas de veículos, do golpe do mecânico e das pessoas que se passam por familiares para pedir dinheiro através do WhatsApp, entre tantos outros.

Só no mês de março foram 8.287 registros nas Delegacias de Polícia do Estado. Mas apesar destes números altos, os policiais acreditam (e garantem) que nem a metade das vítimas procura um órgão policiais para comunicar que caiu em um golpe. “A vergonha é que faz com que a maioria das vítimas não venha registrar os casos”, explica o inspetor Cassiano Dal Ongaro.

O policial, que atua no Setor de Investigações (SI), acredita que mais da metade das vítimas de golpes ficam caladas e estes números não são contabilizados.
Mas as vezes as vítimas escapam do golpe devido ao alto valor que pretendiam entregar aos desconhecidos. Foi o que aconteceu com uma mulher de 82 anos, moradora de Lajeado. Na quarta-feira, 3, ela saiu de um supermercado e foi abordada por uma mulher. Assim que ela deu início ao golpe, surgiu o segundo estelionatário e então a golpista mostrou um bilhete da Mega-Sena que estaria premiado com o valor de R$ 1,3 milhão. Porém, ela só queria R$ 300 mil. O restante ficaria com quem a ajudasse a sacar o dinheiro.

O golpista que se prontificou a ajudar propôs à idosa que cada um desse R$ 150 mil e ficariam com o bilhete e lucrariam R$ 500 mil cada um. A vítima foi até uma agência bancária e solicitou um saque de R$ 150 mil e só não levou, porque foi preciso agendar o saque, que seria feito em outro dia. Ao chegar em casa e conversar com os familiares, foi informada de que havia escapado do conto do bilhete premiado.

Violência doméstica

O segundo crime mais registrado no estado é referente à Lei Maria da Penha. As estatísticas da SSP mostram que entre janeiro e novembro do ano passado, 50.329 mulheres foram vítimas de um tipo de violência doméstica. Foram 30.040 ameaças, 17.739 lesões corporais, 2.257 estupros e 80 feminicídios consumados. O restante dos casos se referem às tentativas de feminicídios.

Na DPPA de Venâncio, o estelionato divide o posto de ocorrência mais registrada com a violência doméstica e os furtos, crime que leva certa vantagem sobre os outros dois ítens, devido a epidemia de crack. O restante das ocorrências, que não chega a 10%, engloba tráfico de drogas, roubos, lesões e outros crimes de menor potencial ofensivo.

Sobre a violência doméstica, os dados da SSP mostram que não houve feminicídios na Capital do Chimarrão no ano passado. O último caso foi no dia 22 de maio de 2022, em Linha Sapé. Uma mulher de 55 anos foi morta a tiros pelo ex-companheiro, que está recolhido na Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva).

Os dados do município revelam que 11 mulheres foram estupradas no ano passado, 112 foram vítimas de lesões corporais e outras 198 sofreram ameaças.

Há uma Patrulha Maria da Penha em Venâncio, criada pela brigada Militar para fazer visitas rotineiras às vítimas de violência doméstica, com intuito de saber se os agressores estão respeitando as determinações judiciais.

No ano passado foram feitas 400 visitas, sendo 183 fiscalizações de fato, onde as vítimas conversaram com a Patrulha. Outras 155 mulheres não foram localizadas, 33 estavam com o endereço incompleto e houve 18 reconciliações. Ainda há dez término de acompanhamento e um caso mais grave, que foi encaminhado a outra esfera.

“A vergonha impede a maioria das vítimas de procurar um órgão policial para comunicar que foi vítima de um golpe. Acredito que nem a metade das pessoas registram que caíram em um golpe.”

CASSIANO DAL ONGARO
Inspetor de Polícia



Alvaro Pegoraro

Alvaro Pegoraro

Atua na redação do jornal Folha do Mate desde 1990, sendo responsável pela editoria de polícia. Participa diariamente no programa Chimarrão com Notícias, com intervenções na área da segurança pública e trânsito.

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