Estudos devem ser realizados para verificar a possibilidade de desassoreamento em pontos do Taquari, inclusive em Vila Mariante
(Foto: Débora Kist)
Estudos devem ser realizados para verificar a possibilidade de desassoreamento em pontos do Taquari, inclusive em Vila Mariante (Foto: Débora Kist)

Na semana passada, integrantes do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH-UFRGS), do Serviço Geológico do Brasil (SGB) e da Universidade do Vale do Taquari (Univates) divulgaram nota técnica sobre as modificações no leito do Rio Taquari após a catástrofe climática de maio de 2024 e as implicações para as inundações que afetam a região.

O estudo analisou o trecho compreendido entre a ponte da BR-386, entre Estrela e Lajeado, e a barragem de Bom Retiro do Sul. Foram utilizados levantamentos batimétricos realizados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) antes e depois da enchente do ano passado, além de dados históricos coletados em 2016. Com base em modelagens hidrodinâmicas e comparações topográficas, pesquisadores concluíram que não há evidências de que o assoreamento tenha causado ou intensificado a cheia de 2024 nesse trecho.

Análise do Rio Taquari

A análise mostrou que a enchente de 2024 provocou alterações significativas na morfologia do rio, com variações de profundidade superiores a cinco metros em pontos específicos. Em média, o leito ficou 17 centímetros mais elevado após a cheia, confirmando tendência de acúmulo de sedimentos.

Segundo as simulações realizadas, as modificações observadas têm potencial para aumentar entre 10 e 14 centímetros a cota máxima em futuras cheias de magnitude semelhante. Embora esse aumento seja considerado pequeno, frente à dimensão das inundações históricas, os pesquisadores alertam para a possibilidade de efeitos cumulativos, caso eventos extremos se repitam.

A nota técnica recomenda a continuidade e ampliação dos levantamentos batimétricos no Taquari e em outros rios do estado, especialmente em áreas urbanas propensas a inundações. Além disso, destaca-se a necessidade de estudos de dragagem baseados em modelagens hidrodinâmicas, para mitigar possíveis impactos futuros.

Futuro

Conforme o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), integrante do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e doutor em Hidrologia, Walter Collischonn, um dos responsáveis pelo levantamento, o efeito da mudança do leito sobre uma próxima cheia depende do local. “Em boa parte do rio, o efeito é praticamente imperceptível. Nos locais com maior efeito, o nível da água poderia ficar cerca de 10 centímetros mais alto em uma cheia futura”, explica.

Collischonn reitera que os resultados mostram que o rio não está completamente assoreado, como tem sido sugerido. “Em vários pontos está até mais profundo do que era antes”, enfatiza. Contudo, ele afirma que os impactos podem ser mitigados com a retirada de sedimentos (cascalhos) em alguns trechos curtos do Rio Taquari. *Com informações do IPH da UFRGS

O trabalho foi desenvolvido por Walter Collischonn, Fernando Mainardi Fan, Rodrigo Cauduro Dias de Paiva e Mateus Sampaio (IPH-UFRGS), Franco Buffon (SGB) e Sofia Royer Moraes (Univates).

Estudos no Rio Taquari

Um novo trabalho de campo batimétrico para avaliar a profundidade dos grandes rios do Rio Grande do Sul começou na segunda-feira, 7. A primeira ação foi no Rio Taquari, em Triunfo, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O objetivo é identificar pontos críticos de acúmulo de sedimentos e outras alterações no leito, especialmente após eventos extremos, como as enchentes que atingiram o Estado em 2024.

A batimetria traz informação fundamental para melhorar o sistema de alerta de inundação por meio de modelagem hidrodinâmica – simula com maior precisão o comportamento do fluxo de água – e aprimorar o planejamento de gestão de eventos críticos de natureza hidrológica no Rio Grande do Sul.

Os dados obtidos vão subsidiar decisões técnicas sobre futuras intervenções previstas no Programa de Desassoreamento do Rio Grande do Sul (Desassorear RS). A atividade integra o Eixo 2 do programa e conta com investimento de R$ 45,9 milhões voltado aos rios de grande porte. (Fonte: Governo do Estado)