Estudo mostra que 56% das crianças do 2º ano não sabem ler e escrever no Brasil

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Segundo dados do Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com base nos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021, 56% das crianças do segundo ano do Ensino Fundamental da rede pública não aprenderam a ler e escrever no Brasil. Os dados foram divulgados no fim do mês passado. A Unicef estabelece que as crianças devem ser alfabetizadas até o momento de ingressar no terceiro ano. Este é o mesmo parâmetro para as escolas estaduais, que participam do programa Alfabetiza Tchê, promovido pela Secretaria Estadual da Educação.

Por outro lado, é diferente na rede municipal de Venâncio Aires. A coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação, Juliane Niedermeyer, explicou que a rede segue resoluções do Conselho Municipal de Educação. Uma delas, publicada em 2019, estabelece que o processo de alfabetização acontece nos três primeiros anos do Ensino Fundamental. Assim, as escolas do Município têm um ano a mais para concluir o processo de leitura e escrita.

No ano passado, 87,43% dos alunos das escolas municipais conseguiram se alfabetizar dentro deste prazo – foram aprovados para o 4º ano. Além disso, Venâncio teve recentemente resultado acima da meta no Saeb: a pontuação alcançada foi de 6,5, o que representa 0,1 ponto acima do objetivo estipulado. “Isso mostra um cenário diferente deste publicado em nível nacional. Estamos contentes? Não. Estamos sempre em busca de melhorar. Acreditamos que a rede de ensino é um local potente, é um espaço de constante busca de melhores resultados”, avalia.

Nas escolas da rede estadual, embora haja o compromisso de ler e escrever nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, o processo de alfabetização vai até o quinto ano. Coordenador da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura explica que, para ser aprovado, o aluno precisa dar conta de, no mínimo, 60% dos conhecimentos da matriz curricular de cada ano. “É muito complexo. Tem criança que consegue deslanchar a partir do terceiro, quarto ano, mas ela deu conta de algumas habilidades que são necessárias lá no primeiro ou segundo ano”, explica.

IMPACTOS DA PANDEMIA

Mesmo passados já dois anos do período mais restritivo da pandemia de Covid-19, os seus reflexos ainda são amplamente sentidos em diversos setores da sociedade, incluindo a educação. Antes do período de isolamento, quase 40% das crianças que estavam no segundo ano do Ensino Fundamental não estavam alfabetizadas no Brasil. O índice, que já era visto com preocupação, aumentou em 16 pontos percentuais.

Juliane Niedermeyer reconhece que a pandemia foi um fator negativo muito importante. “Por mais que se invista em formação, em tecnologias e em aplicativos, é fato que o contato diário, o estar junto em sala de aula, fez falta. Ele fez com que lacunas existissem. Isso deve estar se refletindo nesse dado”, afirma.

Com suporte em casa, auxílio para a alfabetização

Alice (à esquerda), com a irmã e a mãe, Francieli. Aos 5 anos, a menina já reconhece as letras (Foto: Arquivo pessoal)

Na contramão da maioria dos estudantes do país, Alice Bergenthal tem apenas 5 anos e já tem um processo de alfabetização bem acelerado. Na próxima semana, ela inicia sua caminhada no Ensino Fundamental, mas já sabe identificar letras. “Esses dias, ela estava tomando banho e me questionou sobre qual shampoo ela poderia usar, daí ela começou a soletrar para mim: ‘Eu posso usar o shampoo que tem as letras L-I-S-O-S?’”, compartilha a mãe Francieli Bergenthal, de 32 anos. “Eu acho que a base dela está bem boa, até porque a irmã adora brincar de escolinha em casa. Elas têm quadro, cadernos e lápis. Eu acho que isso já ajuda bastante”, considera.

Para a professora da Emef Narciso Mariante de Campos, de Linha Tangerinas, Júlia Helena Melz, o processo de alfabetização precisa do auxílio de dentro de casa: “O sucesso depende muito de cada aluno e do apoio da família em casa. É um período que a gente sempre procura falar com os pais sobre o quanto é importante [o apoio]. A alfabetização é um processo que não acontece só dentro da sala de aula”, diz.

A coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação reforça que este apoio não precisa necessariamente ser apenas em forma de elogio, mas também a partir de incentivo para as tentativas, mesmo que tenham erros. Segundo Juliane Niedermeyer, brincadeiras educativas também são ótimas maneiras de complementar o trabalho realizado em aula.



Juan Grings

Juan Grings

Repórter de geral na Folha do Mate e produtor na Rádio Terra FM.

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