Aos poucos, seu Loreno vai 'domar' a velha companheira (Foto: Alvaro Pegoraro)
Aos poucos, seu Loreno vai 'domar' a velha companheira (Foto: Alvaro Pegoraro)

Seu João Adelmo da Silva aprendeu a tocar sozinho e aos 18 anos, quando um familiar apareceu com uma gaita, na casa da família, na localidade de Linha Picada Mariante, ele surpreendeu a todos com seus acordes. O amor pelo instrumento musical cresceu e por quase 60 anos, percorreu o município e outras cidades do Estado animando bailes e festas. Ficou conhecido e participou de diversos programas de rádio a ponto de trocar seu nome de batismo e assumir o nome artístico. “Não sei de onde veio, mas todos o chamam de Loreno”, explica a esposa Ana Maria da Silva, de 70 anos.

Casados há 50 anos, ela recorda que seu Loreno sempre foi músico. No entanto, o sustento da família vinha da fumicultura, da criação de animais e do cultivo de hortaliças. “Mas ele sempre tocou. Sempre foi músico e sempre cuidou muito bem da sua gaita”, recorda.

Há cerca de cinco anos, seu Loreno foi diagnosticado com gota, uma doença inflamatória que acomete sobretudo as articulações. Isso o fez parar de tocar, mas a companheira de tantos bailes e festas foi carinhosamente colocada dentro do estojo e guardada em casa. Seu Loreno disse que neste tempo recebeu muitos convites para tocar e inclusive para voltar a fazer programas de rádio, mas a dificuldade para movimentar os dedos o impediu e ele segue buscando tratamento para melhorar.

Capítulo triste e a perda da gaita

A casa onde seu Loreno vivia com a família nunca tinha sido atingida pela enchente. As chuvas que começaram no fim de abril e entraram maio adentro pegaram a família de surpresa. Ao ver a água entrando na propriedade, seu Loreno colocou a gaita sobre um freezer velho, a deixando a mais de um metro e meio do chão.

Mas a força da natureza falou mais alto e seu Loreno e a família tiveram que sair às pressas, levando só a roupa do corpo. “Perdemos tudo, até a nossa casa”, recordou o músico. Mas uma das maiores dores foi saber que sua gaita também tinha sido levada pela enchente.

União de forças

O lamento do seu Loreno tomou proporções na região e muita gente passou a procurar por ela. A gaita foi encontrada no dia 8 de maio, às margens do rio Taquari, em Vila Mariante, por Carlos Riedel. Ainda estava dentro do estojo, mas os dias na água danificaram o aparelho a ponto de não funcionar.

O vereador Nelsoir Battisti (PSD) presenciou o momento em que seu Loreno reconheceu sua gaita. Emocionado, chorou e viu que ela não estava funcionando. Solídário, de imediato Battisti disse que ela seria consertada. Ele contatou alguns amigos que se prontificaram a ajudar.

A gaita Scala foi entregue a Ismael Kroth, da IK instrumentos musicais, de Santa Cruz do Sul. Ele entrou em contato com a Casa da Gaita Ponto, de Porto Alegre, que doou um fole novo. Kroth consertou a gaita, que custaria cerca de R$ 6 mil. “Tivemos um custo e então fizemos uma ‘vaquinha’ e eu, o Cristiano Leandro e o Dionatan Vargas pagam o resto da despesa”, mencionou Battisti.

Emocionado, seu Loreno recebeu a gaita de Nelsoir Battisti, Cristiano Leandro e Dionatan Vargas (Foto: Alvaro Pegoraro)

Gaita nova

Ontem à tarde, Battisti e as pessoas que auxiliaram no conserto da gaita foram até Linha Rincão de Souza, onde seu Loreno está residindo, e lhe devolveram a gaita. Emocionado, chorou ao ver sua Scala ser retirada de dentro do estojo e colocada em frente ao seu peito. Tentou dedilhar algumas músicas, mas a inflamação nos dedos dificultaram suas ações. “Mas pode deixar, vou domar ela e daqui uns dias já estou afinadinho”, resumiu.