Há uma década, a médica Yanin Blanco Zapata iniciava sua história com Mato Leitão. Aos 26 anos, em abril de 2014, ela chegou ao município, por meio do programa Mais Médicos, do Governo Federal. Distante 6.635,08 quilômetros da cidade natal Matanzas, em Cuba, ela precisou encontrar na Cidade das Orquídeas uma nova casa.
Hoje, aos 36 anos, ele segue trabalhando no município, mais especificamente no posto de saúde em Vila Santo Antônio, no interior, e construiu a própria família. Casada com Luciano Vargas desde março de 2016 e mãe de Laís Vitória Blanco Vargas, 5 anos, e Marcos Vinicius Blanco Vargas, 2 anos, ela assegura: “Com certeza este município é minha nova casa.”
Formada em Medicina pela Universidade de Ciências Médicas de Matanzas, Yanin conta que atuar nessa profissão era um sonho. “Se não tivesse feito Medicina não sei o que ia fazer”, comenta. Antes de trabalhar no Brasil, a médica atuou na Venezuela durante um ano e três meses pelo programa Misión Barrio Adentro.
Ao saber do programa Mais Médicos se inscreveu e, depois da escolha feita pelo Governo Federal, começou a atuar em Mato Leitão. Apesar de já estar adaptada à nova cidade e ter conquistado mais autonomia em relação ao idioma e aos costumes, Yanin lembra que a chegada ao município foi desafiadora.
“No início foi difícil pela linguagem e os costumes. Depois, fui me adaptando em relação à convivência com os pacientes. Mas o principal desafio foi a linguagem”, recorda. Apesar das dificuldades que toda mudança envolve, ela lembra que foi muito bem acolhida pela comunidade. “Hoje em dia estou mais segura, compreendo mais a língua”, acrescenta.
Adaptação de Yanin
Depois de trabalhar durante três anos na Cidade das Orquídeas pelo programa Mais Médicos, Yanin fez a prova de revalidação do título no Brasil. Além disso, por um ano atuou em outros locais de forma terceirizada e há seis voltou a atender pelo Mais Médicos. “No momento, estou especializada em Medicina Familiar e Comunidade”, compartilha. Ela também é responsável pela Estratégia Saúde da Família (ESF) da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Vila Santo Antônio.
Ao longo dessa década, a médica voltou para Cuba, de férias, nos três primeiros anos em que estava morando em Mato Leitão. Depois disso, não retornou mais para o país de origem. Para Yanin, os pontos positivos de atuar em uma cidade do interior envolvem o melhor funcionamento do sistema e convênios para consultas com especialistas e realização de exames, o que agiliza o diagnóstico dos pacientes.
“Na minha opinião, o posto de saúde deveria ser ampliado, tanto no espaço físico quanto no número de profissionais, pois tem muita demanda de pacientes. O município cresceu muito”, sugere. Ela ainda ressalta que percebe muitas diferenças entre a medicina brasileira e a cubana. “Em Cuba tudo é do Governo, não existe Medicina particular nem convênios”, relata.
Adesão ao programa ajudou a sanar dificuldade com rotatividade de médicos
Prefeita na época da adesão de Mato Leitão ao programa Mais Médicos, Carmen Goerck recorda que, após o lançamento da iniciativa, em julho de 2013, pela então presidente Dilma Rousseff (PT), a Administração Municipal habilitou o município imediatamente. “Tínhamos como prioridade suprir de maneira adequada o atendimento em saúde com equipe qualificada, devido a diversos programas implantados que exigiam mais profissionais e também a continuidade do serviço, para a eficiência e resolutividade”, destaca.
Naquele ano, tinha sido implementada a segunda equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF), em Vila Santo Antônio, e havia dificuldade em manter o profissional médico na equipe, o que gerava grande rotatividade. “A adesão ao programa e a instalação da médica cubana no município foi muito importante, pois veio sanar a dificuldade de manter no quadro de pessoal, de um município pequeno, profissionais médicos em número e horário adequados às necessidades da população, tendo sido uma decisão assertiva do governo municipal”, avalia.
Desafios
De acordo com Carmen, com a chegada da médica estrangeira o primeiro desafio foi a adaptação à língua portuguesa. “Mas a doutora Yanin era muito esforçada e rapidamente se fez entender. Muito atenciosa e receptiva, rapidamente conquistou a população”, menciona.
A ex-prefeita também lembra que foi preciso auxiliar na adaptação da profissional ao sistema, que envolve a rotina de consultas, visitas e exames, por exemplo, além da utilização do sistema da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) disponibilizados na Cidade das Orquídeas.
“Tudo foi superado e rapidamente a profissional estava integrada à equipe e à comunidade, que inicialmente estava receosa, mas passou a ser confiante. A experiência foi tão positiva para todos, que a médica destinada à Cidade das Orquídeas em 2013 permaneceu no município, elegendo nossa cidade para trabalhar e constituir família, após cumprir os atos legais pertinentes.”
A atual secretária municipal de Saúde, Luciani Konzen, também avalia que a chegada da profissional ajudou a suprir a carência de médicos no município. “O médico é importante porque tem o objetivo de prevenir e combater doenças, colaborar com a qualidade de vida e o bem-estar individual e coletivo”, ressalta.
Nesse sentido, Luciani agradece as atividades de Yanin ao longo desses 10 anos de atuação na Cidade das Orquídeas e parabeniza a profissional pelo trabalho. A secretária também explica que Mato Leitão só pode ter um profissional em atuação no município ligado ao programa Mais Médicos, tendo em vista critérios relacionados à vulnerabilidade social estabelecidos pelo Governo Federal.
Auxílio no início da instalação
• Segundo a ex-prefeita de Mato Leitão, Carmen Goerck, ao chegar em Mato Leitão, pelo programa Mais Médicos, a profissional recebeu Bolsa Formação custeada pelo Ministério da Saúde. Na época, o valor era R$ 10,4 mil.
• Ela explica que a contrapartida do município era custear as despesas de alimentação e moradia e criar condições que favorecessem a adaptação do profissional. “Uma vez que os médicos passaram a viver em comunidades distantes do seu país de origem, com costumes e tradições diferentes e ainda tinham que administrar a saudade dos familiares, além do trabalho e a adaptação ao local destinado”, recorda.
Programa Mais Médicos
O Programa Mais Médicos, do Governo Federal, tem a intenção de apoiar estados e municípios, para a melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Além de levar médicos para regiões onde há escassez ou ausência desses profissionais, a iniciativa prevê a reorganização da oferta de novas vagas de graduação e residência médica, para qualificar a formação desses profissionais.
Nesse sentido, o programa busca resolver a questão emergencial do atendimento básico ao cidadão, e também cria condições para continuar a garantir um atendimento qualificado no futuro para aqueles que acessam cotidianamente o SUS.
Ao longo de 10 anos, o Mais Médicos conseguiu reunir diversas estratégias para prover e fixar médicos. O programa chegou a ter 18.240 profissionais médicos atuando em 4.058 municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas em todas as regiões do Brasil, possibilitando a cobertura de 63 milhões de brasileiros.
Em março de 2023 o Governo Federal editou a Medida Provisória 1.165, que institui a Estratégia Nacional de Formação de Especialistas para a Saúde, no âmbito do Programa Mais Médicos. A estratégia é uma evolução do Programa Mais Médicos, que agora vai formar médicos especialistas em Atenção Primária à Saúde.
(Fonte: Portal do programa Mais Médicos do Governo Federal)