Horários alternativos e receio da população: os desafios dos recenseadores em Venâncio

-

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou, na terça-feira, 1º, que 66% dos brasileiros (dois terços da população) já foram recenseados e prorrogou o prazo de coleta de dados novamente. O prazo, que era fim de outubro, foi ampliado para o início de dezembro e, agora, para a metade do mês que vem.

Desde que o Censo começou, em agosto, o caminho não tem sido fácil para concluir o trabalho que vai resultar no novo ‘retrato’ brasileiro. Entre as dificuldades, a falta de recenseadores, idas e vindas até encontrar os moradores em casa, receio de algumas pessoas em receber os profissionais e até ‘nãos’ taxativos em responder às perguntas.

Em Venâncio Aires, os desafios são os mesmos. Para se ter uma ideia, o município poderia contratar até 70 recenseadores, mas hoje são 35. “Desses, 19 estão no interior, que é muito grande, e porque na cidade está mais adiantado. Em Mato Leitão, onde havia dois, um veio reforçar Venâncio, porque lá está sendo finalizado. Apesar de a equipe ser menor, o trabalho tem andado e, proporcionalmente, não dá para falar em atrasos”, destacou a agente censitária municipal, Kelly Helfer Reis.

Sabedores de que a maioria das pessoas não está em casa durante o dia, de segunda a sexta, muitos recenseadores têm se organizado para visitas à noite e nos fins de semana. É o caso de Marlice Rasch, 56 anos, que já trabalhou no Censo 2010. Na última terça-feira à tarde, por exemplo, no portão de um edifício do Centro, ela tocou a campainha de sete apartamentos e apenas um atendeu. Mas, por estar em trabalho remoto, o morador pediu para voltar depois das 18h. “Precisamos voltar até quatro vezes no mesmo endereço para tentar conseguir as respostas. Eu me organizei assim: de domingo a domingo, das 7h às 21h. Deixo meu contato, agendo por telefone e assim vou encontrando formas”, relatou Marlice, que no fim de semana anterior também foi a campo.

Poucos minutos

Marlice Rasch explicou que 90% dos questionários feitos são os chamados básicos, com pouco mais de 10 perguntas (como número de moradores, nomes completos, data de nascimento, sobre abastecimento de água, um número de telefone e o CPF, por exemplo) e que levam cerca de dois a três minutos para serem finalizados. Os outros 10% são os questionários de ‘amostra’ e esses demoram mais, cerca de 20 minutos, porque as perguntas são sobre todos da casa. É o endereço do domicílio que vai dizer se será básico ou amostra.

“De forma geral, eu tenho facilidade na abordagem e procuro trazer a entrevista mais para um tom de conversa, deixar as pessoas à vontade. E é tudo bastante rápido, que podemos fazer no portão”, destacou Marlice. A recenseadora é responsável por 19 quadras no Centro de Venâncio, onde há 17 prédios residenciais. “Acredito que serão umas 500 entrevistas até o fim.”

Trabalho necessário

Se no prédio Marlice não teve ‘sorte’ na terça à tarde, numa casa na mesma quadra ela foi recebida pela aposentada Ana de Fátima da Cunha Canabarro, 66 anos. “Não tem porque a gente não receber bem e responder as perguntas. É rápido. O Censo é feito a cada 10 anos e é um trabalho necessário e importante, para atualizar todos os dados do Brasil”, ressaltou Ana.

Vale lembrar que os recenseadores estão identificados, com colete do IBGE e crachá onde constam o nome, a matrícula e a foto. Também levam uma bolsa do instituto, um mapa para orientação e o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC), smartphone onde as informações são inseridas.

Obrigatoriedade e desinformação

A agente censitária municipal, Kelly Helfer Reis, ressaltou que trabalhar em horários alternativos é algo que ocorre desde o início e estava previsto. No entanto, ela conta que uma das dificuldades são as negativas. “Tem muitas pessoas com receio de receber ou com medo de passar informações. Mas no caso do CPF, por exemplo: não é obrigatório informar, mas é um número que hoje a gente dá no mercado e na farmácia, em todo lugar.”

Embora o CPF não seja obrigatório, a entrevista em si, deve ser respondida. No verso do crachá do recenseador, está a lei 5.534/1968, que diz que toda pessoa é obrigada a prestar as informações solicitadas pelo IBGE. “Essa mesma lei garante total sigilo das informações, então a comunidade não precisa ter medo de informar.” Conforme Kelly, se alguém se negar a responder, a lei também prevê multa de até 10 vezes o salário mínimo.

A agente censitária também chama atenção para imprevistos, como o que aconteceu durante as últimas semanas. “Lidar com fake news foi difícil, porque muita gente achou que estávamos fazendo pesquisa eleitoral ou que o aparelho do recenseador era uma urna eletrônica. Além disso, a falta de informação ainda é grande, porque tem pessoas que não sabem o que é o Censo.”

Revisão

Em paralelo à coleta de dados, uma equipe formada por sete supervisores já trabalha na revisão de domicílios inicialmente considerados vagos em Venâncio Aires.

291,4 mil – é o número de pessoas já recenseadas na região de Santa Cruz do Sul (que abrange 14 municípios, incluindo Venâncio Aires). Dados individuais de cada cidade não foram informados.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

Clique Aqui para ver o autor

    

Destaques

Últimas

Exclusivo Assinantes

Template being used: /var/www/html/wp-content/plugins/td-cloud-library/wp_templates/tdb_view_single.php
error: Conteúdo protegido