Na rede básica de saúde, há atendimento de pediatra em dois postos de saúde de Venâncio, de segunda a sexta-feira. (Foto: Divulgação/Freepik)
Na rede básica de saúde, há atendimento de pediatra em dois postos de saúde de Venâncio, de segunda a sexta-feira. (Foto: Divulgação/Freepik)

Neste mês, quem procurar por um pediatra para atendimento através de convênio ou de forma particular no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) não encontrará. O anúncio foi feito pela administração do HSSM na noite do domingo, 3, e gerou repercussão no município. O motivo é a falta de pediatras para suprir a grande demanda, sendo que os mesmos profissionais atendem obrigatoriamente partos, atendimentos de urgência e emergência do plantão do Sistema Único de Saúde (SUS) e acompanham as crianças internadas.

O administrador do hospital, Luís Fernando Siqueira, explica que as mudanças para o mês de julho são apenas para o setor de convênio e particular do Pronto Atendimento (PA). O principal motivo para esta interrupção de atendimentos de consultas particulares foi uma reivindicação dos próprios profissionais, segundo Siqueira, que já temem pela integridade física.

A demanda de crianças internadas e em estado grave era grande para o pouco número de profissionais e os pais acabavam tendo uma grande espera no atendimento. Com isso, as reclamações eram grandes. “Crianças intubadas necessitam de uma atenção maior e especial, o que acaba ocupando os pediatras quase que de forma exclusiva. Com partos acontecendo e muitas internações de crianças, as consultas ficavam em segundo plano, o que gerava muitas reclamações.”

Para se ter uma ideia, no momento, são cinco crianças internadas e uma delas precisa de uma atenção especial do pediatra, que na manhã de ontem, passou praticamente todo o turno envolvido com esta criança. No primeiro semestre de 2022, o HSSM transferiu 16 crianças em estado grave, já entubadas para outros hospitais com atenção de UTI Pediátrica. São mais de duas crianças ao mês.

Honorários

Desde o início do ano, os pediatras também reivindicavam maiores honorários para atuar no plantão do HSSM. Assim, o hospital começou a pagar R$ 50 a mais por cada consulta feita por convênios particulares. Porém, o número ‘estourou’ neste mês e se tornou inviável, já que um mesmo plantonista acompanhava as obrigações do SUS e os atendimentos eletivos particulares.

A situação, conforme argumenta Siqueira, é que o hospital consegue pagar a mais por apenas um plantonista. “Para dois, o custo fica alto, no entanto, um profissional é pouco para a grande demanda exigida”, comenta. Em agosto, segundo Siqueira, a situação deve ser reavaliada para o retorno dos atendimentos eletivos particulares, junto com a expectativa de redução da demanda.

Desde sempre, de acordo com o administrador, o HSSM conta com um pediatra de plantão 24 horas para todos os atendimentos, exceto para consultas no Pronto Atendimento SUS.

  • 700 crianças passavam, em média, por mês, por consultas da Unimed no Pronto Atendimento do hospital. O número representa mais de 80% do total de atendimentos de convênio no PA. De acordo com o administrador do HSSM, Luís Fernando Siqueira, já houve um diálogo com a Unimed para tentar aplicar em Venâncio um modelo semelhante ao que acontece em Santa Cruz do Sul e Lajeado, com pediatra do próprio convênio atuando nos hospitais. No entanto, a Unimed teria argumentado que, questões de custo e modelo do convênio, o recurso não é viável em Venâncio.

“Entre escolher ter um serviço rentável para o hospital ou um serviço que ainda ofereça segurança para o paciente, eu não posso abrir mão da segunda opção. Se a demanda de volume e complexidade permanecer, é difícil, aí teremos que repensar o modelo, pois ainda não temos uma UTI Pediátrica.”

FERNANDO SIQUEIRA

Administrador do Hospital São Sebastião Mártir

  • 9 é o número de pediatras em Venâncio registrados no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), com situação regular. São quatro que atuam de forma conveniada pela Unimed, conforme o site da cooperativa médica.

Famílias pedem ajuda na Câmara

Na tarde de ontem, um grupo de pais e responsáveis de crianças que não foram atendidas no último fim de semana foram até a Câmara de Vereadores de Venâncio Aires pedir auxílio do Legislativo. Um dos casos é o da pequena Alícia, de 1 ano e 1 mês, filha da corretora de imóveis Wellen Borba, 27 anos. A mãe tentou atendimento no domingo, 3, para tratar um quadro de virose. “Tentei atendimento primeiro com a pediatra dela, que não me atendeu e como ela já teve pneumonia severa e sei que as crianças são mais instáveis, resolvi não esperar. Ao chegar no hospital, a recepcionista já me disse que ela não seria atendida e que eu deveria procurar pelas cidades vizinhas.” A família acabou se encaminhando então para procurar o atendimento no Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul.

Wellen fez questão de participar da reunião, pois, segundo ela, se a família tem a condição de pagar um plano de saúde para a filha, deveria, pelo menos, conseguir usá-lo. “Acho injusto usar o SUS tendo a opção de outro atendimento, até porque se todos forem para o atendimento público de uma hora para outra, vai piorar o que já não está bom.”

Além de Wellen, demais mães, pais e avós também estiveram presentes para reivindicar pelo atendimento particular no PA do hospital. Para ouvir os cidadãos, além dos vereadores, também participaram do encontro o secretário de Saúde, Tiago Quintana, e o administrador do hospital, Luís Fernando Siqueira.

Gilvani, Magda, Wellen, Tatiane e Nathali representaram os pais na Câmara de Vereadores. (Foto: Luana Schweikart)