Uma mulher de 28 anos denunciou na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) um crime de estelionato, que segundo ela, foi praticado por uma benzedeira, de 43 anos. O caso teve repercussão e a denunciada, que se intitula mãe de santo, deu a sua versão na DPPA. O delegado Vinícius Lourenço de Assunção abriu um procedimento para apurar o caso.
A denunciante relata que no dia 17 de novembro foi procurar um auxílio espiritual para tentar curar algumas feridas que apareceram nas pernas do enteado dela. Durante a conversa, a mãe de santo teria dito que o filho legítimo da mulher, que tem 3 anos, morreria em sete dias. Mas que isso poderia ser evitado, se ela pagasse o valor de R$ 3,3 mil para fazer uma limpeza espiritual na casa dela.
Assustada, a mulher de 28 anos pediu dinheiro emprestado com uma conhecida, mas não conseguiu. Então, ofereceu o valor em materiais de construção, o que segundo ela foi aceito pela mãe de santo. As compras foram feitas em duas lojas e segundo a vítima, o material foi entregue na casa da mãe de santo, que já os usou.
Ainda conforme a denúncia feita na DPPA, restou à mulher de 28 anos, pagar os R$ 3,3 mil nas lojas onde fez as compras. Ela disse que decidiu procurar a Polícia Civil, depois de conversar com amigos e ser orientada a registrar o caso, pois teria sido vítima de um estelionato.
Seguidora
A reportagem da Folha do Mate entrou em contato com a mãe de santo, que deu a sua versão sobre os fatos. Em nota (abaixo, na íntegra), ela diz que jamais fez quaisquer ameaças ou cobranças com o objetivo de salvar a vida de filhos de seus seguidores.
A mãe de santo – que a pedido não terá o nome e endereço divulgados -, mencionou que, até pouco tempo, a denunciante e outros familiares dela eram seus seguidores, participavam das sessões e estavam desenvolvendo mediunidade.
Sobre o atendimento prestado, a mãe de santo garante que o ‘trabalho’ foi feito somente para o enteado da mulher, nunca para o filho dela. “Inclusive foi o primo da mulher, que era um dos meus seguidores, que me procurou e pediu para eu fazer um trabalho para o menino. Falei com o meu feitor e ele me orientou a fazer uma ‘Bandeja de Oxum de Misericórdia’ e uma limpeza espiritual de final de ano”, na casa dela.
Desdobramentos
Ao tomar conhecimento do fato, o delegado Vinícius Lourenço de Assunção analisou o teor da denúncia e despachou o procedimento. “Será apurado um possível crime de curandeirismo”, disse. O crime prevê pena de seis meses a dois anos de reclusão.
O que diz a mãe de santo:
“A despeito das acusações que vêm sendo alvo a mãe de santo e responsável pelo Centro de Umbanda e Quimbanda Oxum e Cigana das Almas, da cidade de Venâncio Aires, que está devidamente filiada à Feurgs (Federação Espírita de Umbanda do Rio Grande do Sul), declara que jamais fez quaisquer ameaças ou cobranças que teriam como finalidade salvar a vida do filho de nenhum de seus seguidores ou frequentadores de seus cultos.
Quanto ao caso citado pelo jornal Folha do Mate, a denunciante era, até poucos dias, seguidora que participava das sessões onde vinham desenvolvendo a mediunidade, possuindo total conhecimento de como são as práticas de atendimento.
Os valores transformados em materiais de construção entregues foram realizados de forma espontânea, após orientação de mentor, através de médium, que inclusive têm parentesco com a denunciante.
Declara ainda que as denúncias, na verdade, somente aconteceram após a denunciante, seu esposo e familiares terem sido convidados a se retirar dos cultos, por práticas não aceitáveis, como dar causa, inclusive, a brigas no interior do centro.
Que já realizou o registro policial por calúnia e difamação e que aguarda de forma serena a apuração dos fatos, pelas autoridades competentes.
Venâncio Aires, RS, 28 de dezembro de 2022.”