Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Narciso Mariante de Campos, localizada em Linha Tangerinas, no interior de Venâncio Aires, os estudantes do Pré ao 5º ano mostram que a responsabilidade ambiental também pode ser aprendida na prática. Por lá, a consciência ambiental e o espírito cooperativo não só transformam a escola, mas também toda a comunidade. Sob a supervisão da diretora Julia Melz e da professora Catiele Pereira, nasceu o projeto Moedas da Narciso: uma Cooperativa do Bem.
Diferente das demais cooperativas escolares do município, a iniciativa da Narciso é voltada especialmente ao recolhimento de materiais recicláveis. Em abril, os alunos começaram a juntar tampinhas plásticas e óleo saturado, para integrar campanhas como Verde é Vida e Tampinha Legal, para reutilização e destinação correta dos resíduos. A proposta rapidamente conquistou a comunidade escolar e gerou resultados expressivos e positivos. A iniciativa também conta com o apoio do Instituto Federal Sul-Rio-grandense (IFSul) – campus Venâncio Aires, Hospital São Sebastião Mártir, Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova) e Sicredi.
Para estimular a participação dos alunos e recompensá-los pelas ações, a escola criou uma moeda simbólica, chamada de Moeda da Narciso. “Quando um aluno traz, por exemplo, 30 latinhas, ele recebe uma moeda, que pode ser utilizada depois na nossa lojinha, realizada uma vez por mês”, explica a diretora Julia.
O engajamento foi tanto que logo surgiu a necessidade de criar cédulas de valores maiores (R$ 5, R$ 10, R$ 20 e R$ 50), todas ilustradas com símbolos culturais do Rio Grande do Sul, como o chimarrão e o quero-quero, além de referências locais, como o pórtico e o Cerro do Baú.
A professora Catiele Pereira, que é alfabetizadora e leciona Educação Física e Artes no educandário, destaca que os próprios alunos perceberam a necessidade de organizar o fluxo de materiais recebidos, por conta da alta demanda. Assim nasceu oficialmente a cooperativa escolar. “Estudantes dos 3º, 4º e 5º anos se dividiram em equipes para recebimento, triagem, organização, armazenamento, controle interno e banco. Todas as sextas-feiras, eles se reúnem para realizar o trabalho, receber os materiais e fazer a troca por moedas e cédulas da Narciso”, relata.
Em apenas cinco meses de atividade, até a terça-feira, 19, a escola já havia arrecadado mais de 44 mil tampinhas plásticas, cerca de 4 mil latinhas de alumínio e 145 litros de óleo saturado.
Lojinha da Narciso
Tendo em vista que os alunos recebem o valor simbólico referente aos materiais entregues, foi criado um espaço no qual eles podem investir as moedas. A lojinha da Narciso foi inaugurada em junho e terá a próxima edição no dia 9 de setembro.
Em relação ao valor recebido com a venda dos materiais recicláveis, o retorno financeiro da cooperativa é dividido em três. Uma parte do valor em dinheiro é guardada, outra é destinada à compra de itens da lojinha e o restante é revertido em uma cesta básica para famílias da comunidade escolar em situação de vulnerabilidade.
A diretora Julia Melz explica que, por meio de uma pesquisa feita em maio com a comunidade escolar, foi possível perceber que 15 famílias dos 83 alunos atendidos pela instituição manifestaram interesse ou necessidade de receber o kit de alimentos. “O próximo passo é realizar a primeira entrega da cesta, que será escolhida por sorteio entre os cadastrados. Esse retorno tão rápido para a comunidade mostra a força do projeto Moedas da Narciso”, destaca.
“Esse projeto tem um conjunto de benefícios. Trabalha a questão ambiental, financeira, matemática e social. É uma ideia que veio para ficar e já estamos colhendo bons frutos.”
JULIA MELZ
Diretora da Emef Narciso Mariante de Campos
Alunos comprometidos com a cooperativa
Entre os alunos engajados com a Cooperativa do Bem está Joanna Vitória Hinterholz, 11 anos, estudante do 5º ano. Ela é responsável pelo controle interno da cooperativa, registrando as informações no sistema. “Adoro participar. Em casa já temos um lugar certo para colocar tampinhas e o óleo, e meus pais, Gelson e Joanete, ajudam eu e meu irmão Matheus, que também é estudante da escola, a recolher. Tudo o que trazemos deixa de ir para o meio ambiente, e assim mantemos a natureza mais limpa. Além disso, com as moedas, podemos comprar produtos na lojinha”, conta.