A recepção na residência de Janete Inês Theisen, de 39 anos, é sempre calorosa. Não apenas pelo bom atendimento da moradora, mas também dos 45 cachorros que são cuidados e protegidos no local. Janete começou a resgatar cães abandonados ou em situação de rua há cerca de dois anos – mesmo que, anteriormente, já tivesse alguns de estimação. E, agora, é enfática ao afirmar que não se arrepende.
A paixão dela pelos animais veio após uma cadela de estimação da raça Poodle, que foi cuidada por seis anos. “No começo, ela só pensava em fugir. Mas, depois, quando morreu, chorei muito, como nunca na vida”, explica. À época, ela morava em um apartamento. Quando chegou a cinco cães, decidiu se mudar para uma casa. Naquele tempo, a mais velha do grupo atual já estava com Janete, a cadela Mel. “É uma dedicação o tempo inteiro. Com pena de um e de outro, fui resgatando e chegamos ao número atual”, conta.
Em um terreno de 22 metros de largura por 35 metros de comprimento, Janete tem 45 cães, de mais de cinco diferentes raças e diversos tamanhos, entre Vira-latas, Shih-tzu, Poodle, Boxer e outros. Foi chegando um e outro com o tempo e apenas quatro foram ‘perdidos’, entre eles uma cadela, por conta de um maxilar quebrado por um chute dos antigos donos. “Em dezembro de 2021, teve uns filhotes que peguei praticamente mortos. Estavam deitados no sol, sem mamar e dentro de um formigueiro”, relembra.
A mais velha tem 18 anos e mais nova da turma é Shakira, que foi abandonada há menos de um mês no local. Ela explica que não tem esperança de conscientização da população com relação aos animas. Diversos são os relatos de pessoas que apenas jogam os animais para dentro do terreno, por vezes até ocasionando lesões. Quando o assunto é adoção, apenas buscam os de pequeno porte e sem problemas de saúde. “Ainda devolvem após poucas semanas. Às vezes, preciso decidir entre pegar novamente ou deixar morrer na rua”, conta, decepcionada.
Rotina
Janete afirma que oferece comida uma vez por dia, um prato de arroz com fígado, no turno da manhã ou à tarde. Depois, os cães têm as bacias abastecidas com ração, separadas entre os pequenos e os de grande porte – que são divididos para não ter brigas. A bacia com água é abastecida três vezes ao dia e existe um cuidado com a temperatura, principalmente no calor. “Além disso, os ventiladores ficam ligados em dias quentes”, frisa.
Outra necessidade diária é a limpeza. As calçadas onde estão os animais são limpas, por conta do cheiro de urina e fezes. “Não tenho vida, apenas cuido dos animais”, comenta. Segundo ela, algumas doações são recebidas, da Organização Não-governamental (ONG) Amigo Bicho e de outras pessoas. “O brechó que administro é para manter eles”, pontua.
De acordo com Janete, o restante dos custos são próprios. As contas apontam cerca de R$ 400 em água, R$ 500 com luz e R$ 2,7 mil com ração – é um pacote de 25 quilos a cada dois dias -, sem contar remédios para pulgas e carrapatos. “Fora as castrações nas fêmeas, o resto é por minha conta”, esclarece.
Apesar das dificuldades, ela afirma que nunca abrirá os portões para abandonar os animais. “Alguns já me disseram que trato cachorros como pessoas e pessoas como cachorros. Contudo, não recebo mais nenhum animal, pois não tenho condições. Uma vez me falaram ‘ou tu pega ele de volta ou vou deixar na rua’, e isso assusta. Mas pego cães abandonados e em situação precária, senão não aceito”, finaliza.
“O sentimento que tenho por eles não existe igual.”
JANETE INÊS THEISEN
Cuidadora
Maus-tratos
• Janete conta que já recebeu animais cegos, surdos, com problemas nas pernas e na coluna, outros com câncer e tumores.
• “Um caso que me chamou a atenção foi de uma cadela que foi queimada com água quente e tinha mais de 20 tumores”, diz.
• Uma vez, ladrões invadiram o local, furtaram todo o dinheiro do brechó e tentaram esfaquear os cachorros.
• Não doa para crianças e pessoas de idade. “Por motivos óbvios”, ressalta.
• “Um sonho meu seria uma chácara para colocar eles com espaço. Mas, acho que isso não vai acontecer”, lamenta. A casa onde residente é alugada.