As reclamações em torno da cor da água em Venâncio Aires seguem e novas queixas chegaram até a Folha do Mate nos últimos, seja para mencionar um possível aumento na conta de água ou gastos que já vão além do que está na fatura mensal.
O aposentado Elói José Fischer, 60 anos, que mora no pavimento superior de um prédio comercial próximo à Prefeitura, reclamou dos gastos extras devido à água ‘suja’ que tem chegado ao local. Ele mantém duas caixas d’água: uma de concreto, de 3 mil litros, fica no primeiro pavimento e foi instalada com bombeamento para levar água até a parte superior, em outra caixa, essa de fibra, com capacidade de 2 mil litros. “Por ser prédio comercial, a Vigilância me cobra uma limpeza anual. Fiz em outubro, deu R$ 300. Só que nos últimos dias, com aquela sujeira que veio na água, vou ter que providenciar nova limpeza, então, mais gasto.”
Fischer também falou sobre a necessidade de trocas constantes de velas para o filtro de barro, que tem na cozinha. “Também é algo que levaria quase um ano, mas em poucos dias precisei trocar duas vezes. Dá cerca de R$ 70 toda vez. Eu tenho condições de fazer, mas e quem não consegue pagar para ter uma água limpa, como fica? Porque acho impossível alguém olhar para essa água e beber.”
O aposentado diz ainda que a ‘fama’ de Venâncio já vai longe. “Minha neta de 5 anos, que mora em Santa Cruz, disse na última vez que veio que não tomaria banho nessa água suja. Um amigo de Lajeado já me perguntou como é tomar água com barro. Virou piada.”
Fischer disse ainda que, em 45 anos, a água nunca veio da forma como está vindo nos últimos tempos. “O que está acontecendo já é demais. Eu tenho filtro para beber água e vou mandar lavar as caixas de novo. Mas quem me garante que depois disso não vai vir água suja de novo e contaminar outra vez os reservatórios?”
Elói Fischer também entende que as pessoas, quando identificam problemas na coloração da água, não precisariam avisar a Corsan, porque a própria companhia deveria saber. “Se é a Corsan que faz os reparos e sabe qual o percurso da água, automaticamente poderia fazer esse expurgo. Não vejo necessidade de os moradores ligarem para o 0800, que leva, no mínimo, meia hora para atender. No meu ver, não adianta mais reclamar, porque não vai mudar”, desabafou.
Máquina de lavar e chuveiro
O problema de água amarelada ou em tom marrom vem sendo registrado em vários pontos da cidade nas últimas semanas, inclusive onde nunca foi um problema. Assim como Elói Fischer não se lembra de outros episódios tão frequentes, uma moradora do bairro Cidade Alta procurou a Folha do Mate para manifestar sua ‘estreia’ com esse problema dentro de casa.
A industriária Luciana Ertel, 24 anos, foi surpreendida por água em tom marrom enchendo a máquina de lavar e saindo do chuveiro, no último fim de semana. “Geralmente, a água aqui em casa é turva, mas ‘suja’ desse jeito foi a primeira vez.” No caso da máquina de lavar, ela precisou descartar toda água usada. O equipamento consome 70 litros a cada lavagem.
Luciana revelou ainda como a família tem feito para tomar banho. “Temos caixa d’água, deixamos ela encher domingo de manhã e desligamos a entrada da água. Depois de umas horas, a sujeira fica mais no fundo e aí a água ficou um pouco mais limpa. É o máximo que dá para fazer.”
Para beber, ela conta tem buscado no sogro, que mora no interior. “A água aqui de casa não tem cheiro, mas do jeito que está, é impossível tomar.” Sobre acionar a Corsan, ela é categórica: “Não contatamos, pois, pelo histórico deles, é a mesma coisa que nada.”
Dá para beber essa água?
• A Corsan diz que, embora seja material inerte, ou seja, não causa contaminação, o consumo dessa água amarelada não é recomendado, pois a turbidez e cor ficam acima do valor previsto em portaria. “Se tiver esse tipo de situação, abrir a torneira por alguns minutos e esperar ela clarificar. Se não clarificar, pode chamar a Corsan”, informou José Roberto Epstein.
• O superintendente regional da companhia complementa: “Insisto que, qualquer situação dessa natureza, deve ser formalmente informada à Corsan, para que façamos o expurgo na rede e laudo posterior da potabilidade, que é entregue ao cliente.”
“Qualquer alteração precisa ser comunicada”, diz superintendente regional da Corsan
A Folha do Mate procurou novamente a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) para tentar esclarecer os últimos incidentes. Sobre o expurgo (limpeza da rede), o superintendente regional, José Roberto Epstein, disse que a companhia não tem como saber, num universo de 22 mil ligações, quais teriam problema. “Nós não temos como mapear isso previamente, por isso as pessoas precisam nos avisar.”
Em janeiro, houve inúmeros relatos de água amarelada ou em tom marrom saindo das torneiras de Venâncio, mas, conforme Epstein, cerca de 30 reclamações foram formalizadas. “Nosso pedido é para que qualquer situação dessa natureza seja registrada para a Corsan. Falo isso, pois temos mais de 22 mil clientes e as situações que temos de registro são bem pontuais.”
Ao comunicar um pedido de expurgo, ele disse que a Corsan abre o ramal para liberar a água e retira o hidrômetro. Ou seja, o cidadão solicitante não terá nenhum custo nessa água descartada.
Explicação
A mudança na cor da água no fim de semana, que chegou na casa de Luciana Ertel, no bairro Cidade Alta, pode ter acontecido devido a uma manutenção na sexta-feira à tarde e que atingiu essa região da cidade. “Fizemos essa manutenção, mas não tivemos reclamação registrada nem na sexta ou no sábado. Independente disso, fizemos os procedimentos de expurgo”, informou José Epstein.
O representante da Corsan reforçou ainda que a coloração da água é uma situação característica de quando se tem uma parada no abastecimento e, na retomada dele, há aquele ‘arraste’ de material que fica grudado nos canos: o manganês. “O arroio Castelhano tem bastante manganês, assim como muitos mananciais, dentro do que permite os padrões de potabilidade. Com o passar dos anos, esse material vai se acumulando dentro da tubulação e, quando se faz uma manutenção e a repressurização do sistema, pode arrastar essas partículas, dando essa coloração à água.”
Gastos extras
Enquanto o aposentado Elói Fischer se queixa dos gastos extras para ter água ‘transparente’ no copo, também chegaram à reportagem relatos de que houve aumento geral na conta de água. Sobre isso, a Corsan faz algumas ponderações e, conforme José Epstein, a mais provável é de clientes que passaram a pagar, também, pelo tratamento de esgoto.
Nesses casos, o valor da taxa de esgoto é 70% do consumo de água para quem já fez a ligação na rede coletora. “Considerando que tivemos milhares de notificações para ligações de esgoto, é provável que muitos já pagam essa taxa ou pela disponibilidade, que é ainda mais cara para quem foi notificado, mas não fez a ligação.” Epstein também considerou o aumento no consumo, o que é normal nos meses quentes. “De dezembro a fevereiro, aumenta até 30% o consumo.”
Para ele, é pouco provável que alguém tenha tido aumento na conta apenas por deixar uma torneira correndo após constatar que a água estava turva ou com coloração escura. “Para dar um impacto de R$ 7 na fatura, teria que ser gasto 1 mil litros de água. Seria como deixar uma torneira aberta por mais de duas horas.”
Ainda sobre isso, Epstein explica que a Corsan só mede o metro cúbico inteiro para fins de faturamento e não quantidades fracionadas. “Se no hidrômetro na data da leitura registrar 10,2 mil litros, a Corsan fatura sobre 10 mil litros. Não temos nenhum registro de pedido de ressarcimento de volumes pequenos, como, por exemplo, um volume de uma máquina de lavar.”
No entanto, ele reforça que o cliente, sempre que tiver algum prejuízo que tenha relação com a prestação de serviços de água e esgoto, deve procurar a Corsan. “Aí pode apresentar suas despesas para que possamos avaliar e, se for o caso, fazer o reparo financeiro ou crédito na conta, por exemplo, de um possível volume que tenha sido desperdiçado em algum problema.”
Os canais de contato da Corsan são 0800-646-6444, WhatsApp 51 99704-6644 ou pelo aplicativo.
Análise
• Conforme informado pela superintendência regional da Corsan, já há o resultado das análises menos complexas de amostras coletadas nas últimas semanas. A informação é de que não há alteração nos dados recebidos até o momento, ou seja, sem inconformidades.
Explicação no Legislativo
• Para a sessão legislativa do dia 27 de fevereiro, está prevista a participação do gerente local da Corsan, Ilmor Dörr. Ele foi chamado pelos vereadores de Venâncio para dar esclarecimentos sobre os problemas de coloração da água, após aumento nas reclamações.