A popularização do morango do amor, nas últimas semanas, ocorreu fora da safra da fruta. Mesmo quem cultiva em estufa, nestes dias de muita nebulosidade e chuvas, está com a planta em floração ou em processo de frutificação. É o caso de Liege Muller, de Linha 17 de Junho, na divisa com Harmonia da Costa, no interior de Venâncio Aires. Nesse primeiro ano de plantio, ela colheu aproximadamente 700 quilos. A partir da próxima quinzena, até o início do verão, a previsão é de uma boa produção. É a ‘safra do amor’ que está chegando.
A produtora procurou a Emater/RS-Ascar para buscar uma cultura que viesse agregar renda à propriedade de 9,6 hectares, voltada à produção de leite e plantio de pastagem para os animais e milho para silagem em outra área arrendada. O morango surgiu como opção, pelo valor de mercado e a viabilidade produzir em estufa o ano todo. “É apenas uma diversificação, não uma fonte de renda expressiva. Decidi plantar para ter um extra.”
Liege fez dois cursos, um online e outro presencial, no Centro de Treinamento da Emater de Teutônia. Com apoio do esposo Marcelo Muller, a mãe do pequeno Henrique, de 5 anos, investiu na estufa e no sistema de cultivo por calhas, que, além de mais barato, de fácil manejo e mais eficiente, vem ganhando espaço nas propriedades rurais nos últimos dois anos. “É um modelo que está vindo com força.”
A produção começou em abril do ano passado. Em maio, vieram as chuvas, as enchentes e, como havia iniciado com poucas plantas, não obteve resultado. Mas não desistiu. Neste mês, agosto, fecha seu primeiro ano produtivo, colhendo mais de 700 quilos. A média é de 20 a 30 quilos mensais colhidos no inverno, e na primavera varia entre 80 e 100 quilos/mês.
A agricultora explica que morango é uma cultura que produz o ano todo. Mas, na primavera a condição climática ajuda muito, o chamado período de safra do morango. Seu cultivo é propiciado pela maior presença do sol e por períodos mais prolongados de luminosidade, que facilitam a polinização e, consequentemente, a frutificação. Na estufa de 5×25 metros, Liege cultiva cerca de 1,7 mil plantas.
Venda
Plantar morango, segundo Liege, exige dedicação e cuidado. Não é difícil, mas precisar estar sempre atenta ao desenvolvimento da planta, que é sensível à umidade e também ao calor excessivo. Tem como clientes uma padaria e um restaurante na cidade. Mas 90% dos morangos são comercializados diretamente ao consumidor. “Algumas pessoas levam três, quatro quilos, outras um pouco mais ou menos.”
São duas as variedades que cultiva, San Andreas, que é mais básica, e Albion, normalmente uma fruta mais vermelha e doce e, por isso, mais difícil de cultivar. Os morangos são fornecidos em caixas de um quilo e 1,5 quilo. Praticamente toda a produção é comercializada. Liege diz que, se tivesse mais duas estufas, venderia toda a produção.
As variedades
- San Andreas: própria para consumo in natura. Originária da Universidade da Califórnia, por cruzamento entre Albion e uma seleção, tem o fruto vermelho, ligeiramente mais leve que Albion e Aromas e mais escuro que Diamante. Pesa, em média, 31,6 gramas.
- Albion: tem origem na Califórnia, resultado do cruzamento entre Diamante e uma seleção. Sua planta é mais aberta, facilitando a colheita. Tem melhor sabor, se comparado com as outras variedades e a cor semelhante à da variedade Aromas.
(Fonte: site Embrapa)
Expectativa positiva para a oferta da fruta em setembro
A popularização do morango do amor, nas redes sociais, aumentou a demanda pela fruta para preparação do doce, que consiste em um morango envolto com um brigadeiro branco e cobertura caramelizada, semelhante à maçã do amor. No entanto, a procura ocorreu fora do auge safra, que começa na segunda quinzena deste mês e segue até meados de novembro. A expectativa é de que o interesse pelo morango sigam em alta, no pico da produção, para garantir bons resultados aos 48 produtores comerciais de Venâncio Aires.
“Se o clima colaborar, em setembro, é possível que se tenha uma boa oferta.” Quem afirma é a extensionista da Emater, Djeimi Janisch. A engenheira agrônoma informa que, neste ano, a produção de morangos segue com volume considerável até o início do verão. A expectativa para este ano é uma colheita de cerca de 70 toneladas.
Mesmo a região não sendo ideal de cultivo, em função do frio e da nebulosidade no inverno ou excesso de calor no verão, é possível produzir, utilizando as técnicas disponíveis. “Além de ser uma fonte de renda e de diversificação nas propriedades, ganha o consumidor”, diz, reforçando a possibilidade de ofertar o produto durante todo o ano. “Os nossos produtores colhem de manhã e entregam à tarde, ou no máximo no outro dia, uma fruta com qualidade em termos de cor, sabor, aparência e frescor”, ressalta.
- 48 famílias cultivam morango comercialmente em Venâncio Aires, em uma área de aproximadamente 1,3 hectare.
Mais de 50 quilos em morangos por mês
Michele da Silva Medeiros, proprietária da padaria Bom Gosto, no bairro Gressler, diz que são utilizados, por mês, 50 quilos de morango no preparo e tortas, rocamboles, trufas e morango do amor. São três os fornecedores, dois de Venâncio Aires, entre os quais a produtora Liege Muller, de Linha 17 de Junho, e um de fora do município. Segundo ela, a procura por produtos que levam a fruta na receita é grande.
Em relação à febre do morango do amor, diz que a empresa aproveitou positivamente. Por outro lado, sentiu bastante alteração no valor do produto in natura. Mas não atribuiu isso apenas ao destaque que a fruta nas últimas semanas, mas também pelo período de chuvas e consequente falta de morango no mercado. Segundo ela, o fornecedor de fora trouxe a fruta de outro estado. “Acabou que tivemos que aumentar, antes mesmo da onda do morango do amor.”