Audiência pública coordenada pelo vereador Diego Konrad (PP), na sede do Poder Legislativo de Mato Leitão, na quinta-feira passada, dia 10, levou lideranças do movimento RS Pedágios Não ao município. O grupo tem atuado pelo Rio Grande do Sul, na tentativa de fazer o Governo do Estado rever o projeto de concessão de rodovias, e conta com apoio de alguns parlamentares estaduais e federais. No encontro, muitas dúvidas foram apresentadas, questionamentos feitos e acusações também.
Em março, o vereador Diego Konrad participou de um protesto pacífico no quilômetro 10 da RSC-453, local onde seria instalado um pórtico de cobrança de pedágio pelo sistema free flow, previsto no projeto original de concessão do Bloco 2. “A gente não parou”, disse, na abertura da audiência. Agora que pórtico foi transferido para o quilômetro 11, sem qualquer consulta às lideranças de Mato Leitão, ele considera que a cobrança naquele ponto dividirá a comunidade local. “Não temos hospital, não temos UPA, então teremos que pagar pedágio”, observou, referindo-se a qualquer deslocamento para Venâncio Aires. “Com isso, Santo Antônio vai virar rota de desvio”, completou o político.
O progressista também fez referência às condições da rodovia. “Há 25 anos estamos pagando pedágio sem acostamento”, mencionou. De acordo com ele, serão mais 30 anos de cobrança para duplicar o trecho do município, que tem uma ponte e receberá uma rótula junto ao trevo de acesso, uma passarela próximo ao Loteamento Amizade e algumas adequações. “É isso”, considerou. Na opinião dele, a população da Cidade das Orquídeas não pode aceitar pacificamente e deve mostrar indignação. “O que os governantes pensam em criar, acabam transferindo para o povo pagar”, lamentou.
Konrad também questionou o aporte de R$ 1,5 bilhão que será feito pelo Governo do Estado [até junho era R$ 1,3 bilhão], possibilitando a redução da tarifa-teto por quilômetro rodado, de R$ 0,19 para R$ 0,13, o que ele considera “o melhor negócio do mundo” para a futura concessionária. Por fim, comentou sobre multas que incidiram sobre motoristas que passam pelos pórticos instalados em outras regiões. “Se o governo escutasse o povo, esse projeto não sairia do papel”, concluiu o vereador.
Movimento
Professora e ex-secretária de Educação em Caxias Sul, Márcia Röhr Cruz é uma das lideranças do movimento RS Pedágios Não. Aos participantes da audiência – entre os quais vereadores e candidatos nas eleições do ano passado na região -, ela alertou para o que estaria ocorrendo nas rodovias de abrangência do Bloco 3, primeira concessão implementada na nova modalidade, nas regiões do Vale do Caí e Serra. Além de reajustes dos valores junto aos pedágios free flow, motoristas desavisados, que não dispõem de TAG de identificação e cobrança automatizada, estão sendo punidos com multas.
Márcia também chamou atenção para o empresariado da região serrana, que apoiou o Estado em seu projeto de concessão, lembrando dos tributos que a população já paga para ter rodovias, além dos próprios pedágios. “Cadê os impostos que nós pagamos, governador? Por que empresário têm tanto interesse?”, indagou, lamentando a falta de atenção dos gestores ao movimento e à parcela da população contra os pedágios.
Cobranças
Várias manifestações foram registradas durante a noite. Outra liderança do movimento, o empresário de Vespasiano Corrêa, que foi candidato a prefeito, Loivo Dachery, também comentou sobre as multas aplicadas aos motoristas que transitam pelas rodovias do Bloco 1. “Tem gente perdendo a carteira”, disse. Ele defende que o Estado invista nas estradas o dinheiro recolhido dos impostos, e calcula que 11 mil quilômetros de rodovias gaúchas poderiam ser conservadas com R$ 850 milhões por ano.
Dachery foi mais enfático nas críticas. Denunciou envolvimento de “atravessadores” no projeto. “Tem rolo no meio”, insinuou. Também apresentou estudo de 26 anos de estradas pedagiadas, muitas delas necessitando de manutenção. Comparou o elevado faturamento com o investimento muito baixo em vias administradas pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR).
Também se manifestou a assessora do deputado estadual Guilherme Pasin (PP), que tem apoiado o movimento. Paula Teixeira informou que o parlamentar levou ao secretário de Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi, ofício listando motivos para não implementar pedágio em Mato Leitão. O vereador de Venâncio Aires, Elígio Weschenfelder, o Muchila (PSB), lamentou a ausência dos prefeitos do seu município e de Mato Leitão. “Estão na zona de conforto, porque não interessa confrontar o Governo do Estado”, afirmou. Também participaram da audiência assessores dos deputados federais Ubiratan Antunes Sanderson (PL) e Luiz Carlos Busato (União Brasil), além de vereadores de Lajeado, Estrela e Teutônia.
Acusações
- Não faltaram acusações. Houve quem considerou que governo não sabe o que faz e que prefeitos não aderem ao movimento por medo de retaliações. Também foi observado que vereadores devem tomar a frente em seus municípios, rejeitando projeto de isenção de 2% a 5% do Imposto Sobre Serviços (ISS), exigidos pelo Estado para redução dos valores do pedágio.
- Outras pessoas elevaram o tom, se referindo ao projeto como “imundícia”, “porcaria para roubar os gaúchos”, “uma máfia que quer nos extorquir” ou que estão “roubando nossa fé, nossa renda, nossos minérios. É uma guerra”. “Gritem, esperneiem, é isso que vai fazer a diferença no final”, foi um dos últimos comentários.
Para conferir
- A audiência pode ser assistida no YouTube: